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CADERNO DE RESUMOS do II SIICS

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<strong>II</strong> Simpósio Internacional Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (<strong>II</strong> S<strong>II</strong>CS) <strong>do</strong> PGCult - UFMA<br />

GONÇALVES DIAS E O HUMANISMO MARANHENSE<br />

RESUMO<br />

Fábio Palácio de Azeve<strong>do</strong><br />

Poeta maior <strong>do</strong> romantismo maranhense e brasileiro, Antônio Gonçalves Dias (1823-<br />

1864) é considera<strong>do</strong> o responsável pela “primeira definição de uma grande poesia<br />

brasileira”, nas palavras <strong>do</strong> crítico Soares Amora. Essa “primeira definição” surge de<br />

um poeta forja<strong>do</strong> concomitantemente sob os signos da lusitanidade e da mestiçagem.<br />

Gonçalves Dias temperou sua verve poética, de um la<strong>do</strong>, em um mo<strong>do</strong> de vida liga<strong>do</strong> à<br />

realidade da gente simples e, de outro, na militância em torno das grandes questões<br />

nacionais. Daí a marca simultaneamente nacionalista e popular de sua obra, a qual<br />

desempenhou papel destaca<strong>do</strong> na construção <strong>do</strong>s princípios de um pensamento nacional<br />

enraiza<strong>do</strong> nas letras, nas artes, na filosofia e na ciência. Em contraste com o espírito da<br />

Aufklärung [esclarecimento], o poeta maranhense trouxe à tona o melhor <strong>do</strong> antigo<br />

humanismo. Sua obra resgata a tradição <strong>do</strong>s Studia Humanitatis, a formação clássica,<br />

humanista, enraizada no <strong>do</strong>mínio da retórica, da gramática e da hermenêutica. Essa<br />

tradição não concebe os homens sob a ótica mecanicista <strong>do</strong> iluminismo mas, ao<br />

contrário, como formação (paideia, no grego). É nesse diapasão não liberal e não<br />

positivista que nos surge a concretude da poética de Gonçalves Dias. Nela, ganha<br />

destacada importância a interpretação, o senti<strong>do</strong>, a significação <strong>do</strong> que é dito e vivi<strong>do</strong><br />

por uma comunidade efetiva. A questão linguística assume, assim, papel proeminente.<br />

Não à toa, temos em Gonçalves Dias a mais inconteste expressão da sólida massa crítica<br />

formada no Maranhão <strong>do</strong> século XIX no que tange ao <strong>do</strong>mínio idiomático da língua<br />

portuguesa. “O poeta maranhense tem muito de português no trato da língua e nas<br />

cadências garrettianas <strong>do</strong> lirismo, ao contrário <strong>do</strong>s seus contemporâneos, sobre os quais<br />

pesava a influência francesa”, sentencia Alfre<strong>do</strong> Bosi. No mesmo senti<strong>do</strong>, foi o <strong>do</strong>mínio<br />

das Humanitatis o pressuposto teórico <strong>do</strong> trabalho de conversão <strong>do</strong> tupi para a tradição<br />

latina, com a fusão de duas das visões de mun<strong>do</strong> que ajudariam a conformar uma<br />

“ideologia brasileira”. Gonçalves Dias filia-se, dessa forma, à tradição ibérica iniciada<br />

no Brasil com o padre José de Anchieta (1534-1597) – espírito renascentista, primeiro<br />

intelectual forma<strong>do</strong>r da nacionalidade – e seguida pelo padre Antônio Vieira (1608-<br />

1697), pensa<strong>do</strong>r, filósofo, mestre de retórica e oratória. Refletir sobre os pressupostos<br />

humanistas dessa tradição de pensamento contribui para mais bem compreender as<br />

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