LEITURA DO MUNDO - Instituto Paulo Freire
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Certa vez, numa rede municipal de São <strong>Paulo</strong> que realizava uma reunião<br />
de quatro dias com professores e professoras de dez escolas da área para planejar<br />
em comum suas atividades pedagógicas, visitei uma sala em que se expunham<br />
fotografia das redondezas da escola. Fotografias de ruas enlameadas, de ruas<br />
bem postas também. Fotografias de recantos feios que sugeriam tristeza e<br />
dificuldades. Fotografias de corpos andando com dificuldade, lentamente,<br />
alquebrados, de caras desfeitas, de olhar vago. Um pouco atrás de mim, dois<br />
professores faziam comentários em torno do que lhes tocava mais de perto. De<br />
repente, um deles afirmou: ‘Há dez anos ensino nesta escola. Jamais conheci<br />
nada de sua redondeza além das ruas que lhe dão acesso. Agora, ao ver esta<br />
exposição de fotografias que nos revelam um pouco de seu contexto, me<br />
convenço de quão precária deve ter sido a minha tarefa formadora durante todos<br />
estes anos. Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico,<br />
social, dos educandos?’ (FREIRE, 1997:154).<br />
Quantos de nós, educadores e educadoras, não passamos por essa mesma<br />
situação? Repetidamente, por anos a fio, entramos e saímos de nossas salas de<br />
aula e nada ou pouco vemos além de espaços com alguns metros quadrados, com<br />
cadeiras e carteiras distribuídas em fileiras, janelas, lousa, giz e, finalmente,<br />
alunos para quem transmitimos conhecimentos.<br />
Resultados de uma formação educacional que distanciou o educador do<br />
pesquisador, que separou a concepção da execução, que fragmentou o saber, que<br />
antagonizou subjetividade e ciência etc., nós, educadores, temos exercitado muito<br />
pouco aquilo que tão essencialmente nos caracteriza enquanto seres humanos: a<br />
capacidade criadora, de agir sobre a realidade, transformando-a. Nesse sentido,<br />
faz-se necessário resgatar o humano em cada um de nós, reaprendendo a ad-mirar<br />
o mundo com todas as faculdades de que dispomos para podermos recriá-lo.<br />
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Hoje, percebemos, nas experiências educacionais de muitos municípios, a<br />
preocupação com o resgate da capacidade do educador de observar, registrar,<br />
analisar, inventar, criar. Tem sido valorizada, cada vez mais, a busca de vivências<br />
que permitam leituras e interpretações da escola que fazemos e, nesse ler e reler