LEITURA DO MUNDO - Instituto Paulo Freire
LEITURA DO MUNDO - Instituto Paulo Freire
LEITURA DO MUNDO - Instituto Paulo Freire
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
proclamando o fim da utopia e da própria história. Ele mostra que essa visão de<br />
mundo tem compromisso com a desigualdade e desmascara o seu projeto<br />
pedagógico, revelando o seu caráter individualista, seletivo, meritocrático<br />
discriminatório e excludente, oposto ao projeto freireano da Escola Cidadã.<br />
Com detalhes e bom humor revolucionário, Eduardo Galeano, em seu<br />
livro De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso (1999), mostra-nos a escola<br />
neoliberal no seu funcionamento nefasto formando gente servil e competitiva ao<br />
mesmo tempo. Os valores dominantes da ética do mercado Galeano chama de<br />
“anti-valores”, devido ao seu terrível potencial destrutivo o que põe realmente o<br />
mundo de cabeça para baixo. Os exemplos de Galeano são contundentes: “curso<br />
intensivo de incomunicação”, “curso básico de injustiça”, “curso básico de<br />
machismo e racismo”, “cátedras do medo”, “aulas de corte e costura: como fazer<br />
inimigos por medida”, “aulas magistrais de impunidade”. Essa “contra-escola”,<br />
essa “escola do mundo ao avesso” é parte decisiva da formação humana que leva<br />
à deterioração da qualidade de vida e do meio ambiente em escala planetária.<br />
As alternativas não são muitas, mas já começam a surgir como o crescente<br />
movimento pelas “Escolas cidadãs” 45 . As redes de pessoas e de instituições que<br />
se multiplicam mundialmente, em todos os níveis, na forma nova de educação<br />
permanente e continuada, são outro belo exemplo de alternativa no campo da<br />
educação, utilizando as mesmas ferramentas tecnológicas de que dispõe o<br />
capitalismo neoliberal. Essa seria realmente uma nova globalização, uma<br />
globalização com cara humana atendendo não aos interesses do capital mas às<br />
necessidades das pessoas. A globalização capitalista é desumana porque a esse<br />
modelo é inerente a atribuição de maior valor ao dinheiro, às coisas, às<br />
mercadorias do que aos seres humanos.<br />
A sobrevivência do planeta e do gênero humano depende do surgimento<br />
de alternativas a esse tipo de globalização que concentra o poder nas mãos de<br />
poucas pessoas e de poucos países e, por outro lado, aumenta a miséria, a<br />
marginalidade, a exclusão. Precisamos de um modelo de globalização que rompa<br />
255<br />
45 Relembramos aqui os exemplos já citados: “Escola pública popular” (São <strong>Paulo</strong>), “Escola<br />
Democrática” (Betim, MG), “Escola Plural” (Belo Horizonte), “Escola Candanga” (Brasília, DF), “Escola<br />
Mínima” (Gravataí, RS),“Escola Sem Fronteiras” (Blumenau, SC), “Escola Guaicuru” (Estado do Mato<br />
Grosso do Sul), “Escola Democrática e Popular” (Estado do Rio Grande do Sul), Escola Sagarana (MG).