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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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ico comerciante e assim por diante. A credibili<strong>da</strong>de tinha ligação com <strong>do</strong>is<br />

princípios, o corpo e a voz.<br />

A importância <strong>da</strong> voz no processo de estabelecimento <strong>da</strong> representação<br />

<strong>do</strong>s indivíduos estava liga<strong>da</strong> ao discurso. Dirigir-se a alguém, relatan<strong>do</strong> um<br />

acontecimento, não sensibilizava ninguém, a menos que o sujeito se<br />

expressasse de uma forma significativa, como um ator o faria no teatro. 12 O<br />

discurso não era natural, ele era expressivo, e portanto, artificial.<br />

O papel desempenha<strong>do</strong> pelo corpo, como já menciona<strong>do</strong>, era o de um<br />

manequim, pelo qual era construí<strong>da</strong> uma representação. No <strong>século</strong> XVII, o<br />

vestuário era bem demarca<strong>do</strong> para as classes sociais, mas no <strong>século</strong> XVIII<br />

apareceram novos ofícios, e, com isso, novas classes sociais. 13 Isso gerava<br />

problemas, como o que os representantes destas novas classes deveriam<br />

vestir, que papel iriam representar na <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>? Elas acabaram por a<strong>do</strong>tar<br />

estilos de vestuário de outras classes preexistentes, as mais altas possíveis. 14<br />

As aparências, fun<strong>da</strong>mentais para o estabelecimento de relações na <strong>socie<strong>da</strong>de</strong><br />

em questão, ficavam difusas, pois se as novas classes que apareciam usavam<br />

roupas que pertenciam a classes que já existiam, e não se enquadravam nelas,<br />

não se podia saber com quem se estava tratan<strong>do</strong>.<br />

Saben<strong>do</strong>-se disso, percebe-se que o corpo propriamente dito não era<br />

importante, mas sim o que se podia fazer com ele, o que se podia representar<br />

com ele. Isto se mostra ain<strong>da</strong> mais evidente ao se considerar o fato de que<br />

muita maquiagem era utiliza<strong>da</strong> para aumentar a representação <strong>do</strong> corpo. A<br />

personali<strong>da</strong>de individual não tinha valor, o que interessava aos sujeitos era se<br />

tornarem representações <strong>da</strong> classe a que pertenciam. 15 Saben<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

características que esperavam que as classes sociais possuíssem, os<br />

indivíduos de classe respeitável tentavam se aproximar <strong>do</strong> arquétipo. O foco<br />

era nas vestes, nos adereços (sobretu<strong>do</strong>, os <strong>do</strong> cabelo) e na maquiagem. Os<br />

indivíduos de classes não tão respeitáveis, como já cita<strong>do</strong>, apesar de impostos<br />

a uma representativi<strong>da</strong>de defini<strong>da</strong> por lei, tentavam emular as características<br />

<strong>da</strong>s classes superiores, para assumirem um papel mais marcante na<br />

<strong>socie<strong>da</strong>de</strong>.<br />

12 SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988, p.99<br />

13 Ibidem, p. 92<br />

14 Ibidem. p. 94<br />

15 Ibidem. p.95<br />

12

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