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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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está sob seu controle. Contu<strong>do</strong>, é observa<strong>do</strong> que os entremezes apresentam a<br />

idéia de que é possível que o indivíduo hierarquicamente superior mude de<br />

opinião, mesmo que seja através de artimanhas. Esta por sua vez, tão comum<br />

nos entremezes, pode ser uma maneira encontra<strong>da</strong> pelos autores para driblar o<br />

autoritarismo <strong>da</strong>s relações sociais <strong>do</strong> Antigo Regime. Mesmo que algo seja<br />

reconheci<strong>do</strong> como justo, não se é permiti<strong>do</strong> desafiar abertamente alguém de<br />

hierarquia superior que tenha opinião contrária, muito menos contrariar sua<br />

vontade. O fato deste alguém hierarquicamente superior mu<strong>da</strong>r de idéia visa<br />

mostrar as vantagens de não quebrar a ordem social, pois se algo for<br />

realmente justo, o superior certamente terá juízo para reconhecer este algo<br />

como tal.<br />

De fato, nesta amostra, há um único entremez onde a vontade de um<br />

indivíduo de hierarquia superior tem sua vontade abertamente contraria<strong>da</strong>, O<br />

velho louco de amor e a cria<strong>da</strong> astuciosa, de Francisco Borges de Sousa. Isto<br />

acontece porque o tal indivíduo é um i<strong>do</strong>so senil, e portanto, sem controle de<br />

suas vontades, agin<strong>do</strong> de maneira reprovável para sua posição, pois é<br />

avarento e deseja o amor de uma cria<strong>da</strong>, não possuin<strong>do</strong> “vergonha”.<br />

Em Casadinhos <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>, de Leonar<strong>do</strong> José Pimenta Antas e José<br />

Gomes, há um choque de gerações. Há D. Tarella, André e Pan<strong>do</strong>rga, seus<br />

pais, e Zanga<strong>do</strong>, o pai de André. Enquanto que este último demonstra repúdio<br />

as novas mo<strong>da</strong>s e costumes, Tarella, <strong>da</strong> geração mais jovem, mostra-se<br />

deslumbra<strong>da</strong> por eles, com a geração intermediária relutan<strong>do</strong> a aceitá-las,<br />

embora claramente deslumbra<strong>da</strong>. Apesar de André já estar casa<strong>do</strong> e ter sua<br />

própria família, ain<strong>da</strong> assim presta deferência à seu pai, revelan<strong>do</strong> uma<br />

subordinação eterna de um indivíduo à geração mais velha.<br />

Outra característica notável deste entremez é a presença de <strong>do</strong>is níveis<br />

de serviçais. Há o personagem <strong>da</strong> cria<strong>da</strong> e o <strong>da</strong> “preta”, uma negra. Enquanto<br />

que a cria<strong>da</strong> apresenta seu papel rotineiro em entremezes, a “preta” tem um<br />

papel ain<strong>da</strong> mais subalterno, estan<strong>do</strong> abaixo até mesmo <strong>da</strong> cria<strong>da</strong>. Com fala<br />

erra<strong>da</strong> (coloca<strong>da</strong> intencionalmente pelos autores), a função <strong>da</strong> “preta”,no<br />

entremez, se restringe ao trabalho de cozinheira e de lavadeira. Ela não<br />

assume um papel ativo na trama, como a cria<strong>da</strong>. Se poderia considerar a<br />

hipótese de a “preta” ser uma escrava, embora o entremez não o mencione.<br />

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