19.05.2013 Views

a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Apesar <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações entre patrões e<br />

cria<strong>do</strong>s, deve-se observar que havia um distanciamento rígi<strong>do</strong> e irremediável, 99<br />

cria<strong>do</strong> pela própria condição <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>. Se considerava que os cria<strong>do</strong>s<br />

pertenciam à uma raça diferente <strong>da</strong>quela <strong>do</strong>s senhores, então ninguém<br />

contestava a desigual<strong>da</strong>de. Na corte real, ironicamente, aqueles considera<strong>do</strong>s<br />

senhores assumiam papel de inferiori<strong>da</strong>de, ou seja, de “cria<strong>do</strong>s”, diante <strong>do</strong> rei.<br />

Este tipo de relacionamento pode <strong>da</strong>r uma pista sobre o tipo de interação que<br />

se estabelecia entre duas classes sociais diferentes em <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>s <strong>do</strong> Antigo<br />

Regime.<br />

Sennett afirma que diante <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s, a representação de papéis não<br />

era tão crucial e os diálogos eram mais espontâneos, ou seja, as pessoas<br />

falavam com mais liber<strong>da</strong>de com eles, até porque os cria<strong>do</strong>s não tinham<br />

nenhuma importância, estan<strong>do</strong> ali para servir. 100<br />

2.10 As estruturas <strong>da</strong> honra e <strong>da</strong> dádiva nas <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>s <strong>do</strong> Antigo<br />

Regime.<br />

Este estu<strong>do</strong> propôs o entendimento sobre o mo<strong>do</strong> como eram<br />

estabeleci<strong>da</strong>s no Antigo Regime português duas características, a hierarquia, e<br />

a dádiva, mas aqui é proposto a análise de uma terceira característica, a honra,<br />

para entender alguns elementos atrela<strong>do</strong>s às outras duas.<br />

A hierarquia já foi discuti<strong>da</strong>, ao se notar que a <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> época em<br />

questão era <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> de hierarquizações em to<strong>da</strong>s as suas expressões sociais, e<br />

papel a ser desempenha<strong>do</strong> pelas classes sociais perante ao meio estabeleci<strong>do</strong>,<br />

bem como as implicações que a representação tinha neste meio.<br />

A honra é uma característica peculiar às <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>s <strong>do</strong> Antigo Regime,<br />

sobretu<strong>do</strong> em <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>s mediterrânicas, como Portugal, assim como defini<strong>do</strong><br />

pelo antropólogo J. G. Peristiany, que afirma o conceito de honra nestas<br />

<strong>socie<strong>da</strong>de</strong>s transcendeu a própria existência <strong>do</strong> Antigo Regime. Segun<strong>do</strong> ele, a<br />

noção de honra é algo mais <strong>do</strong> que uma forma de mostrar aprovação ou<br />

99 ELIAS, N. A <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> de corte. Rio de Janeiro, 2001.p. 71<br />

100 SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988. p. 102<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!