a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii
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definir que, se nem to<strong>da</strong> a <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> ia ao teatro, mas apenas um segmento<br />
dela, este segmento que ia ao teatro era, de qualquer forma, parte integrante<br />
<strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> inclusive um segmento significativo, e seu papel na<br />
<strong>socie<strong>da</strong>de</strong> não poderia deixar de ser visto como relevante. O segun<strong>do</strong><br />
problema pode ser contorna<strong>do</strong>, pelo menos parcialmente, ao se observar de<br />
que há evidências de que muitas vezes o comportamento <strong>do</strong> público era<br />
influencia<strong>do</strong> pelo comportamento no teatro. Lopes observou isto, afirman<strong>do</strong> que<br />
ao mesmo tempo o teatro fazia uma defesa <strong>do</strong>s costumes tradicionais <strong>da</strong><br />
<strong>socie<strong>da</strong>de</strong>, e divulgava os novos costumes. 182 Esta era uma <strong>da</strong>s maneiras com<br />
qual a mo<strong>da</strong> se espalhava.<br />
O teatro português apresentava certos arquétipos que se revelam muito<br />
comuns em peças <strong>da</strong> época. Um destes arquétipos é a figura <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>.<br />
Segun<strong>do</strong> Lopes, o cria<strong>do</strong>, na representação teatral, simboliza uma mentali<strong>da</strong>de<br />
retrógra<strong>da</strong>, ilustran<strong>do</strong> o pensamento conserva<strong>do</strong>r, uma vez que provém <strong>do</strong><br />
meio rural ou estrato urbano muito baixo. 183 Ele participava <strong>da</strong> peça como<br />
cúmplice de seu patrão, a pessoa que agia nos basti<strong>do</strong>res para que a vontade<br />
de seu patrão fosse conquista<strong>da</strong>. A relação entre cria<strong>do</strong>s e patrões incutia uma<br />
relação de confiança entre as partes, onde havia uma troca de favores, um<br />
serviço por uma recompensa. Apesar <strong>da</strong> relação de <strong>do</strong>minação entre patrões e<br />
cria<strong>do</strong>s, os que eram retrata<strong>do</strong>s nas peças podiam muitas vezes se contrapor à<br />
opinião de seus patrões. 184 Os cria<strong>do</strong>s tinham uma certa liber<strong>da</strong>de de<br />
representação nas peças, mas não a mulher.<br />
Em peças de teatro que li<strong>da</strong>vam com situações <strong>do</strong>mésticas, deve-se<br />
fazer uma observação antes que se possa entender sua estruturação. Assim,<br />
peças que li<strong>da</strong>m com este tipo de situação quase sempre entravam na<br />
categoria de entremezes. O entremez é um termo que apareceu na I<strong>da</strong>de<br />
Média, sen<strong>do</strong> originalmente a designação de breves divertimentos que<br />
ocorriam entre os pratos servi<strong>do</strong>s em banquetes de festas cortesãs. No <strong>século</strong><br />
XVI o termo passou a definir exclusivamente uma pequena representação de<br />
caráter burlesco, composta por canto, <strong>da</strong>nça, gesto, e um texto rudimentar em<br />
prosa, que aparecia entre os diferentes atos de uma peça dramática mais<br />
182 LOPES, M. A. Mulheres, espaço e sociabili<strong>da</strong>de, Coleção Horizonte Histórico, livros Horizonte,<br />
Lisboa, 1989, p.177<br />
183 Ibidem. p. 168<br />
184 Ibidem. p. 176<br />
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