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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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povo”, e que ele deixou de ter o objetivo de perpetuar os valores aristocráticos<br />

e a ideologia monarquista. 166<br />

Mas mesmo assim, o público permanecia preso às tradições <strong>do</strong> <strong>século</strong><br />

XVII. 167 Sennett observou este fenômeno afirman<strong>do</strong> que a platéia impunha ao<br />

ator e ao dramaturgo uma restrição: eles não podiam nem tentar fazer algo que<br />

já não tivesse si<strong>do</strong> feito antes. 168 A platéia desaprovava, e até mesmo ficava<br />

repugna<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> isto acontecia. Principalmente se a inovação envolvesse<br />

uma quebra com a idealização estabeleci<strong>da</strong> nas peças <strong>da</strong> época. 169 Isto porque<br />

uma peça não apenas “simbolizava” a reali<strong>da</strong>de, mas a criava através <strong>da</strong>s<br />

convenções <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. O problema é que o público não se chocava com a<br />

reali<strong>da</strong>de representa<strong>da</strong>, mas ficava perturba<strong>do</strong> porque não poderia deixar de<br />

crer nele. 170 De fato, esta restrição fez com que pouco inovasse no <strong>século</strong> XVIII<br />

em relação ao dinamismo <strong>do</strong> enre<strong>do</strong>. 171<br />

Outro ponto importante para o teatro <strong>do</strong> Antigo Regime era o papel <strong>da</strong><br />

fala. Segun<strong>do</strong> Sennett, não existia, no <strong>século</strong> XVIII, a conversão de sinais em<br />

símbolos. 172 A pressuposição de um significa<strong>do</strong> por trás de uma expressão<br />

pareceria estranha, para uma <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> época. O ato de falar era fazer uma<br />

afirmação forte, efetiva, acima de tu<strong>do</strong> independente e emocional. A fala diante<br />

de uma platéia, então, era um momento absoluto, uma suspensão completa de<br />

movimentos, que acabava por causar emoções fortes no público porque este<br />

gesto era absolutamente crível por seus próprios termos. 173 A emoção não era<br />

causa<strong>da</strong> pela cena em que ocorre a fala, mas sim pela fala em si mesma, não<br />

pelo que representava, mas pelo que se referia. Uma atitude similar, mas não<br />

tão acentua<strong>da</strong>, se observa em relação à ação.<br />

A tarefa de to<strong>do</strong> teatro é a criação de um padrão de credibili<strong>da</strong>de interno<br />

e auto-suficiente. 174 Nas <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>s européias <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII, onde as<br />

expressões eram trata<strong>da</strong>s como sinais e no como símbolos, esta tarefa fica<br />

mais fácil. Nelas, a “ilusão teatral”, já explica<strong>da</strong>, não tinha conotação de<br />

166<br />

ROUBINE, J. J. Introdução às grandes teorias <strong>do</strong> teatro, Rio de Janeiro, 2000. p. 126<br />

167<br />

Ibidem. p. 73<br />

168<br />

SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988. p. 106<br />

169<br />

Idem<br />

170<br />

Idem<br />

171<br />

GUINZBURG, J; GASSET, J. O. y, A idéia <strong>do</strong> teatro, Madri, 1966. p. 26<br />

172<br />

SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988. p. 106<br />

173 Idem<br />

174 Ibidem. p. 107<br />

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