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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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uma função. A ausência de companhias de teatro auto-suficientes fazia com<br />

que houvesse poucas variações de locali<strong>da</strong>de para locali<strong>da</strong>de, já que to<strong>do</strong>s os<br />

grupos precisavam ficar se deslocan<strong>do</strong> para conseguir trabalho. 163<br />

Como já foi afirma<strong>do</strong> por Roubine, o centro <strong>da</strong>s atenções <strong>da</strong>queles que<br />

preparavam as peças era o comportamento <strong>do</strong> público. Ou melhor, um<br />

segmento deste público, o qual o ator tinha que agra<strong>da</strong>r, que envolvia os<br />

ci<strong>da</strong>dãos mais ricos e influentes. Como já foi dito, o próprio design <strong>do</strong> teatro<br />

obedecia um padrão que privilegiava alguns indivíduos de classe superior aos<br />

outros. Havia camarotes especiais que visavam uma melhor visão destes<br />

indivíduos em relação ao que estava ocorren<strong>do</strong> no palco, pois eram destes<br />

indivíduos que se esperava ter reações a respeito <strong>da</strong>s peças. O poder <strong>da</strong><br />

platéia como uma espécie de júri, a qual podia aprovar e desaprovar, norteava<br />

a conduta <strong>da</strong>s equipes de teatro, e estan<strong>do</strong> ciente deste poder, a platéia se<br />

sentia livre para manifestar sua opinião. A necessi<strong>da</strong>de de obter a aprovação<br />

<strong>do</strong>s membros ricos <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> era explica<strong>da</strong> pelo fato de que o teatro era<br />

patrocina<strong>do</strong> por eles, sen<strong>do</strong> uma instituição. Se visava agra<strong>da</strong>r somente aos<br />

membros <strong>da</strong> classe que o patrocinava, o teatro servia ao menos como um<br />

ponto de reunião para membros de classes mais baixas que por ventura iam<br />

nele.<br />

Ao longo <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII, a profissão de ator foi se estabilizan<strong>do</strong>, e se<br />

tornou ca<strong>da</strong> vez menos nômade. 164 Ten<strong>do</strong> sua profissão regulariza<strong>da</strong>, o ator<br />

passou a ser quase como um trabalha<strong>do</strong>r comum. Sua função era a de<br />

produzir uma quanti<strong>da</strong>de defini<strong>da</strong> de emoções, em uma <strong>da</strong>ta marca<strong>da</strong>.<br />

O comportamento <strong>da</strong> platéia <strong>do</strong>s teatros <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII difere <strong>da</strong>s <strong>do</strong><br />

<strong>século</strong> anterior porque naquela época, o público tinha que se curvar ao<br />

comportamento <strong>do</strong>s membros <strong>da</strong> nobreza, pois eram seus convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong><br />

eles patrocínio exclusivo <strong>do</strong> teatro <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. No <strong>século</strong> XVIII o teatro se<br />

tornou mais acessível, 165 e com o passar <strong>do</strong> tempo o foco <strong>do</strong> ator passou a<br />

impressionar a totali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> público, e não mais apenas uns poucos <strong>da</strong> platéia.<br />

Roubine afirma que com a ascensão <strong>da</strong> burguesia, apareceu o teatro “para o<br />

163 SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988. p. 103<br />

164 Ibidem. p. 104<br />

165 Ibidem. p. 105<br />

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