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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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erro e aceita seu castigo, que é ter concedi<strong>do</strong> dádivas sem receber na<strong>da</strong> em<br />

troca. Temas similares a este podem ser vistos em O castigo <strong>da</strong> ambição, de<br />

José <strong>da</strong> Silva Nazaré, e em O velho peralta, de Francisco Sabino <strong>do</strong>s Santos.<br />

Em O velho peralta podemos ver uma relação hierárquica diferente <strong>da</strong>s<br />

tradicionais patrão-cria<strong>do</strong>, mari<strong>do</strong>-esposa e pai-filho. Neste entremez há um<br />

personagem de um alcaide, e ele aparece para punir o velho indica<strong>do</strong> no título<br />

<strong>do</strong> entremez, acusan<strong>do</strong>-o de <strong>da</strong>r mau exemplo à suas filhas. O que se percebe<br />

no entremez é que ao li<strong>da</strong>r com um personagem de um indivíduo tão<br />

hierarquicamente superior, os outros personagens não falavam com ele a não<br />

ser que requisita<strong>do</strong>s, e o tratam com termos como “Senhor”. Personagens<br />

liga<strong>do</strong>s às autori<strong>da</strong>des, como este alcaide, eram raros em peças, pois a<br />

censura <strong>da</strong> época exigia que se demonstrasse respeito por eles. Jamais<br />

poderiam ser satiriza<strong>do</strong>s, e por isso quan<strong>do</strong> apareciam tinham participações<br />

breves, sem nome (provavelmente para que se não associasse o personagem<br />

a alguma autori<strong>da</strong>de), e eram sempre apresenta<strong>do</strong>s como extremamente justos<br />

e sem falhas de conduta, apareciam para julgar e corrigir algum personagem<br />

de conduta reprovável.<br />

Em contraparti<strong>da</strong>, personagens liga<strong>do</strong>s à nobreza eram retrata<strong>do</strong>s de<br />

forma menos idealiza<strong>da</strong> nos entremezes. Em A casa de <strong>da</strong>nça, de Domingos<br />

Gonçalves, há um personagem de um barão, de um duque e de um conde.<br />

Neste entremez, existe uma deferência presta<strong>da</strong> a eles pelos outros<br />

personagens, mas são personagens ativos no enre<strong>do</strong>, não sen<strong>do</strong> idealiza<strong>do</strong>s.<br />

Deve ser lembra<strong>do</strong> que na época retrata<strong>da</strong>, final <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII, a nobreza<br />

tinha perdi<strong>do</strong> importância, o poder estava concentra<strong>do</strong> nas mãos <strong>do</strong> rei. Por<br />

causa disto, não havia tabu em retratá-los em peças como havia para<br />

autori<strong>da</strong>des <strong>do</strong> governo.<br />

Há entremezes que li<strong>da</strong>m com a relação de indivíduos de condição<br />

hierárquica supostamente iguais, mas que mesmo assim disputam<br />

superiori<strong>da</strong>de entre si. No entremez O barbeiro pobre, outra peça de Francisco<br />

Borges de Sousa, há uma situação destas. O enre<strong>do</strong> é ambienta<strong>do</strong> em uma<br />

barbearia, onde entram um marujo, um almocreve 201 e uma velha, e to<strong>do</strong>s<br />

querem ser atendi<strong>do</strong>s primeiro. O marujo e o almocreve discutem sobre quem<br />

201 Carrega<strong>do</strong>r de merca<strong>do</strong>rias e/ou de animais de carga de uma região para outra.<br />

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