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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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gerou uma diminuição na diversão em se ver uma peça. Esta mu<strong>da</strong>nça se deu<br />

no final <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII, sugerin<strong>do</strong> que o comportamento <strong>da</strong> platéia era muito<br />

diferente <strong>do</strong> que se esperaria em um ambiente onde se era espera<strong>do</strong> que os<br />

especta<strong>do</strong>res se concentrassem no que estava ocorren<strong>do</strong> no palco. De<br />

qualquer maneira o objetivo ao se construir um teatro é propiciar um ambiente<br />

no qual se torna possível a apresentação de peças, 156 e que maximize a<br />

“ilusão” teatral. 157<br />

A platéia não estava no espaço teatral apenas para assistir a peça. Se ia<br />

ao teatro para se ter interações sociais. Sennett observou um grande número<br />

de jovens na platéia <strong>do</strong> teatro <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII. 158 Estes jovens não estavam no<br />

teatro necessariamente para assistir a peça, mas para terem um convívio social<br />

fora <strong>da</strong>s obrigações de representação, tiran<strong>do</strong> proveito <strong>da</strong> espontanei<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

relações no ambiente teatral. Assim, esta espontanei<strong>da</strong>de não estava restrita à<br />

representação fictícia no palco e nas reações <strong>da</strong> platéia em relação à ela, mas<br />

também às relações entre membros <strong>da</strong> platéia. Em um fenômeno que foi<br />

percebi<strong>do</strong> também nos cafés, Sennett declarou que neste tipo de espaço<br />

ocorria um fenômeno que livrava os indivíduos de suas obrigações de serem<br />

representativos para seus iguais, bem como as próprias separações entre as<br />

relações entre as classes sociais. 159 Isto mesmo se consideran<strong>do</strong> que a<br />

separação <strong>do</strong> espaço continuava.<br />

Sennett apontou a presença de lugares no próprio palco, onde membros<br />

<strong>da</strong> platéia se misturavam aos atores, revelan<strong>do</strong> que se tratava de um ambiente<br />

único, ou seja, que não havia uma rígi<strong>da</strong> separação entre palco e platéia. Tal<br />

como na vi<strong>da</strong> pública, o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> representação e o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de estavam<br />

mescla<strong>do</strong>s. A “fusão” entre os <strong>do</strong>mínios acabava por gerar uma absorção <strong>do</strong>s<br />

membros <strong>da</strong> platéia <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> <strong>da</strong> peça de uma forma que seria embaraçosa<br />

para quem não conhecesse o ambiente. 160 Os teóricos de teatro <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

estavam acostuma<strong>do</strong>s com este tipo de reação por parte <strong>do</strong> público, e por isso,<br />

quan<strong>do</strong> foram construí<strong>do</strong>s novos teatros que isolavam o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> palco <strong>do</strong><br />

156 GUINZBURG, J; GASSET, J. O. y, A idéia <strong>do</strong> teatro, Madri, 1966. p. 28<br />

157 Conceito que define o que causa o especta<strong>do</strong>r a ficar absorto na peça.<br />

158 SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988. p. 101<br />

159 Ibidem. p. 108<br />

160 Ibidem. p. 101<br />

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