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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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<strong>da</strong> platéia, resultan<strong>do</strong> em um silêncio por parte desta, eles acharam que o<br />

design <strong>do</strong> teatro estava erra<strong>do</strong>.<br />

De qualquer forma, a mistura de atores e platéia e as fortes expressões<br />

de emoções por parte desta, não se tratavam, para Sennett, de liberações<br />

dionísicas onde atores e platéia se tornavam uma única pessoa na observação<br />

de um mesmo rito comum. 161 As platéias estavam ao mesmo tempo envolvi<strong>da</strong>s<br />

na peça e sob controle. Elas criticavam atores que as induzissem ao choro e<br />

estavam dispostas a interferir diretamente na ação <strong>do</strong>s atores, através de<br />

sinais sonoros e de “enquadramentos”, que implicavam a percepção que a<br />

platéia tinha sobre determina<strong>do</strong>s atores. Se um ator esquecesse sua fala, por<br />

exemplo, a platéia o “enquadrava” com uma característica, e aquele ator<br />

sempre seria associa<strong>do</strong> à ela. A espontanei<strong>da</strong>de <strong>da</strong> platéia era inclusive<br />

custosa para os <strong>do</strong>nos de teatros, já que as manifestações desta<br />

espontanei<strong>da</strong>de podiam ser tão intensas que se refletiam em <strong>da</strong>nos ao espaço.<br />

O papel <strong>do</strong> ator, segun<strong>do</strong> o pensamento <strong>do</strong> público que ia ao teatro no<br />

<strong>século</strong> XVIII, era de divertir. Ele existia para servir ao público. O ator, sen<strong>do</strong> de<br />

classe social inferior ao <strong>do</strong> público que ia assistir sua representação, era<br />

considera<strong>do</strong> um cria<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> sob o controle <strong>do</strong> público. Saben<strong>do</strong>-se o que<br />

foi defini<strong>do</strong> sobre a condição <strong>do</strong> cria<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> Sennett e Elias, o ator estava<br />

submeti<strong>do</strong> às condições que lhe foram incumbi<strong>da</strong>s pela <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>. Esta idéia<br />

talvez implique que havia uma condição que fazia com que o teatro fosse<br />

considera<strong>do</strong> uma extensão <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio priva<strong>do</strong>, embora não o fosse realmente.<br />

O ator era como se fosse um serviçal em que o público pudesse <strong>da</strong>r ordens, e<br />

que assim o divertisse, pois implicava que os indivíduos estavam tratan<strong>do</strong> com<br />

um indivíduo de status inferior.<br />

Mas Sennett observa que o status inferior <strong>do</strong> ator não é suficiente para<br />

explicar a espontanei<strong>da</strong>de que sua representação causava no espaço teatral.<br />

O ator era um “nômade”, viajan<strong>do</strong> de corte em corte em busca de trabalho. 162<br />

Ele precisava ser trágico, cômico, cantor, <strong>da</strong>nçarino, ou seja, de qualquer forma<br />

que lhe fosse exigi<strong>da</strong> em um trabalho. Ele se sujeitava a qualquer condição,<br />

desde que lhe fosse providencia<strong>do</strong> um trabalho. Não lhe incomo<strong>da</strong>va ser<br />

humilha<strong>do</strong> pela platéia ou representar papéis controversos. Ele precisava de<br />

161 SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988. p. 101<br />

162 Ibidem. p. 103<br />

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