a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii
a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii
a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Isto porque a comédia era um tipo de representação que mostrava certos<br />
elementos <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> de forma caricata, além de expor certas noções ao<br />
ridículo. Geralmente estas noções envolviam os costumes <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. A<br />
comédia visava a exposição de certos elementos <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> ao ridículo<br />
ten<strong>do</strong> como objetivo a “regular” o comportamento dela. 190<br />
A mo<strong>da</strong> era retrata<strong>da</strong> na comédia de maneira geralmente negativa. Isto<br />
pode refletir a posição <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> <strong>portuguesa</strong> <strong>do</strong> <strong>século</strong> XVIII em relação à<br />
mo<strong>da</strong>. Segun<strong>do</strong> estas peças, a mo<strong>da</strong> era vista com certo desdém e<br />
desconfiança, por parte <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>. A partir de algumas conjecturas, pode-<br />
se concluir que a desconfiança em relação à nova mo<strong>da</strong> talvez fosse reflexo<br />
<strong>da</strong>s classes sociais que não teriam condições de acompanhá-la. Ou seja, um<br />
reflexo que negasse, de certa forma, a superiori<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s classes superiores.<br />
Em primeiro lugar deve-se lembrar que os que tinham acesso à nova mo<strong>da</strong><br />
eram os membros destas classes superiores, sen<strong>do</strong> ela inacessível às classes<br />
baixas. Em segun<strong>do</strong> lugar, se deve considerar para que classes era dirigi<strong>do</strong><br />
este tipo de peça de teatro. Mas de qualquer forma, mesmo na representação<br />
teatral, existiam personagens, que mesmo pertencentes a estratos baixos <strong>da</strong><br />
<strong>socie<strong>da</strong>de</strong>, ain<strong>da</strong> assim pareciam obceca<strong>do</strong>s com a mo<strong>da</strong>. Isto pode ser uma<br />
manifestação <strong>do</strong> desejo pessoal de melhorar a sua própria representativi<strong>da</strong>de<br />
na <strong>socie<strong>da</strong>de</strong>, através <strong>da</strong> imitação <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vestir <strong>da</strong>s classes mais altas por<br />
parte de indivíduos pertencentes à classes mais baixas, como defini<strong>do</strong> por<br />
Sennett. 191<br />
A tragédia não é muito eficiente para delinear as características <strong>da</strong><br />
<strong>socie<strong>da</strong>de</strong> porque ela frequentemente tratava de situações clássicas, passa<strong>da</strong>s<br />
em outros espaços temporais. Mesmo ao lembrar que no teatro <strong>da</strong> época em<br />
questão não havia noção de como os personagens deveriam se comportar<br />
segun<strong>do</strong> onde se situava no plano espacial e no temporal, a tragédia tem<br />
pouco a oferecer como material de pesquisa sobre as características de uma<br />
<strong>socie<strong>da</strong>de</strong>, compara<strong>da</strong> com a comédia. O objetivo <strong>da</strong> tragédia era<br />
simplesmente a catarse, comover o público, sem nenhuma preocupação com o<br />
meio social. A tragédia carecia <strong>da</strong> espontanei<strong>da</strong>de que fazia com que a<br />
190<br />
LOPES, M. A. Mulheres, espaço e sociabili<strong>da</strong>de, Coleção Horizonte Histórico, livros Horizonte,<br />
Lisboa, 1989. p. 185-186<br />
191<br />
SENNETT, R. O declínio <strong>do</strong> homem público, as tiranias <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong>de, São Paulo, 1988, p. 96<br />
52