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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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longa. Destinava-se a combater o eventual desinteresse <strong>do</strong> público que<br />

porventura se divertiria mais com o caráter episódico e cômico <strong>do</strong> entremez,<br />

identifican<strong>do</strong>-se melhor com estes personagens que punham em cena as<br />

fraquezas mais comuns <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> humana. A <strong>do</strong>r e a mal<strong>da</strong>de eram as<br />

principais fontes de comici<strong>da</strong>de destas representações sem quaisquer fins<br />

didáticos, que mostravam cenas caricaturais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana, como enganos<br />

conjugais ou o escárnio pelo próximo.<br />

O entremez, progressivamente, foi alcançan<strong>do</strong> independência perante a<br />

comédia e a tragédia, às quais an<strong>da</strong>ra associa<strong>do</strong> na fase anterior. No início <strong>do</strong><br />

séc. XVII, conheceu um grande desenvolvimento em Espanha e Portugal,<br />

ten<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> o verso em alguns <strong>do</strong>s seus textos e ten<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong> o seu caráter<br />

episódico em favor <strong>da</strong> criação de uma história linear que conduzia a um<br />

desfecho lógico. No <strong>século</strong> XVIII, o entremez passou a designar peças curtas,<br />

de apenas um ato, que eram exibi<strong>da</strong>s para entreter o público entre os atos de<br />

uma peça maior, e que tinha uma função didática, especialmente consideran<strong>do</strong><br />

o público o qual eram dirigi<strong>do</strong>s.<br />

Nos lares representa<strong>do</strong>s em entremezes, o personagem que retrata o<br />

homem <strong>da</strong> casa, ou seja, o mari<strong>do</strong>, o pai, é sempre o líder absoluto <strong>da</strong>s<br />

decisões toma<strong>da</strong>s. E a representação era enfática em afirmar os valores <strong>da</strong><br />

autori<strong>da</strong>de masculina: quan<strong>do</strong> em qualquer situação teatral o homem, como<br />

chefe <strong>do</strong> lar, cedesse ao apelo de outro personagem, o resulta<strong>do</strong> era<br />

desastroso. 185 As peças que tratavam de situações <strong>do</strong>mésticas tinham enre<strong>do</strong><br />

e final muito previsíveis. A situação-problema apresentava neles geralmente<br />

era de algum personagem subordina<strong>do</strong> à autori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> chefe <strong>da</strong> casa (o pai ou<br />

o mari<strong>do</strong>), que desafiava a ordem estabeleci<strong>da</strong>, entran<strong>do</strong> em conflito com a<br />

posição <strong>do</strong> personagem <strong>do</strong>minante. No final o que desafiou a autori<strong>da</strong>de de<br />

seu superior geralmente acabava pedin<strong>do</strong> desculpas e o enre<strong>do</strong> terminava com<br />

uma lição de moral visan<strong>do</strong> o bom comportamento <strong>do</strong>s indivíduos e o seu<br />

respeito com a ordem hierárquica. A única exceção, segun<strong>do</strong> Lopes, era se<br />

este personagem de posição superior seguisse uma conduta reprovável, ou<br />

185 LOPES, M. A. Mulheres, espaço e sociabili<strong>da</strong>de, Coleção Horizonte Histórico, livros Horizonte,<br />

Lisboa, 1989. p. 168<br />

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