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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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época. 132 Esta idéia causa uma oposição com aquilo que foi observa<strong>do</strong> por<br />

Sennett. Mas uma vez se faz a pergunta: era a vi<strong>da</strong> que imitava o teatro, ou o<br />

teatro que imitava a vi<strong>da</strong>?<br />

Consideran<strong>do</strong> que o teatro era uma representação cultural de uma<br />

<strong>socie<strong>da</strong>de</strong>, pode-se afirmar que quem está correta é a segun<strong>da</strong> idéia. O teatro<br />

era um elemento <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> <strong>do</strong> Antigo Regime, mas seria um exagero<br />

afirmar que ela se espelhou nele para basear seu comportamento. Se haviam<br />

autores <strong>da</strong> época que afirmavam que “a rua virou um teatro”, eles estavam<br />

denotan<strong>do</strong> a similari<strong>da</strong>de entre as relações entre os indivíduos no meio público<br />

e as <strong>do</strong>s atores no palco, mas não necessariamente afirman<strong>do</strong> que o meio<br />

público estava imitan<strong>do</strong> a representação teatral.<br />

O teatro, segun<strong>do</strong> a análise de Gasset e Guinzburg, são muitas coisas<br />

diferentes entre si que nascem e morrem, que variam, se transformam a ponto<br />

de não se parecer, à primeira vista, uma forma em na<strong>da</strong> com a outra. 133 Ele<br />

não pode ser defini<strong>do</strong> como gênero literário, pois sua definição vai muito além<br />

<strong>da</strong>s palavras. A respeito destas, no teatro elas têm função constituinte, mas<br />

muito determina<strong>da</strong>, ou seja, são secundárias à “representação”. 134 Ao contrário<br />

<strong>do</strong> que acontece em um livro, onde as ações e os diálogos podem ser<br />

retrata<strong>do</strong>s de forma escrita, no teatro há elementos que transcendem a<br />

representação na forma de palavras, e que só podem ser passa<strong>do</strong>s ao público<br />

de forma visual. Elementos que podem estar nas ações <strong>do</strong>s personagens, em<br />

linguagem corporal ou até mesmo no figurino. A essência <strong>do</strong> teatro é a<br />

presença e a potência <strong>da</strong> visão. Ele é um espetáculo, e para apreciá-lo deve-se<br />

ir até ele, para vê-lo. Esta definição faz lembrar o conceito atribuí<strong>do</strong> à<br />

<strong>socie<strong>da</strong>de</strong> <strong>do</strong> Antigo Regime por Sennett, de que a ação e a representação<br />

contam mais <strong>do</strong> que a palavra pura e simples.<br />

O ator, para que fizesse sucesso, deveria possuir o <strong>do</strong>m <strong>da</strong><br />

“transparência”, 135 ou seja, de fazer desaparecer o que é real, transforman<strong>do</strong>-<br />

se nos personagens. Inclusive, a representação teatral está sempre fazen<strong>do</strong><br />

um equilíbrio entre a reali<strong>da</strong>de e a irreali<strong>da</strong>de, sempre corren<strong>do</strong> o risco de ficar<br />

132 GUINZBURG, J; GASSET, J. O. y, A idéia <strong>do</strong> teatro, Madri, 1966. p. 72<br />

133 Ibidem. p. 18<br />

134 Ibidem. p. 32<br />

135 Ibidem. p. 35<br />

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