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a sociedade portuguesa da segunda metade do século xviii

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<strong>do</strong> conceito de família, 92 e que isso tornava difícil a sua compreensão <strong>do</strong><br />

significa<strong>do</strong> de família para a <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> em discussão.<br />

Como Hespanha já disse, a família na <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> <strong>portuguesa</strong> <strong>do</strong> <strong>século</strong><br />

XVIII era forma<strong>da</strong> independentemente de desejos pessoais, seguin<strong>do</strong> linhas<br />

<strong>do</strong>gmáticas e práticas, visan<strong>do</strong> o prosseguimento <strong>da</strong> linhagem, a geração de<br />

mão-de-obra para a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> economia. A formação <strong>da</strong>s novas famílias<br />

estava nas mãos <strong>do</strong>s pais <strong>do</strong>s novos integrantes nelas. 93 Ven<strong>do</strong> sua própria<br />

continui<strong>da</strong>de nos filhos, os pais agiam de mo<strong>do</strong> a legitimar a própria família. Ela<br />

funcionava, segun<strong>do</strong> Hespanha, como uma espécie de “universo totalitário”,<br />

onde tu<strong>do</strong> era pensa<strong>do</strong> em termos de um, significan<strong>do</strong>: um sujeito, um<br />

interesse, um direito. Lembran<strong>do</strong> de que o chefe <strong>da</strong> família era o pai, nota-se<br />

que ele, sozinho, equivalia à família, e a vontade desta família era a sua<br />

vontade. Outra questão que aju<strong>da</strong> a entender o porquê de a fun<strong>da</strong>ção de novas<br />

famílias ser controla<strong>da</strong> pela figura paterna é o fato de que o amor entre pai e<br />

filhos era superior a qualquer outra forma <strong>do</strong> sentimento, inclusive o amor entre<br />

o mari<strong>do</strong> e a esposa. Outra questão que pode ser inferi<strong>da</strong> para o entendimento<br />

deste conceito é a grande mortali<strong>da</strong>de de crianças que se tinha na época. Isto<br />

talvez gerasse um sentimento de que os filhos eram como uma merca<strong>do</strong>ria<br />

frágil, e se o papel a ser desempenha<strong>do</strong> por eles era crucial para a<br />

continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família, torna-se evidente a razão de os pais quererem<br />

controlar o destino <strong>do</strong>s filhos. Com uma taxa de mortali<strong>da</strong>de alta os pais não<br />

queriam perder as “chances” de <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de à família.<br />

Logicamente, as relações familiares eram diferentes entre as classes<br />

mais abasta<strong>da</strong>s e as mais humildes. Nas primeiras, o aleitamento era feito por<br />

amas-de-leite, mulheres de classes inferiores, e depois o tratamento variava<br />

conforme o sexo <strong>da</strong> criança. Se fosse <strong>do</strong> sexo masculino era entregue à um<br />

serviçal que se encarregava de sua educação, e se <strong>do</strong> sexo feminino, era a<br />

mãe tinha que se encarregar <strong>da</strong> educação de forma direta, ou se de forma<br />

indireta, teria que supervisionar a educação <strong>da</strong><strong>da</strong> à criança. Nas classes mais<br />

baixas, cuja condição é mais relevante para este estu<strong>do</strong>, os pais e filhos tinham<br />

92 HESPANHA, A.M. XAVIER. A.B. A representação <strong>da</strong> <strong>socie<strong>da</strong>de</strong> e <strong>do</strong> poder. In:____. História de<br />

Portugal IV: o Antigo Regime. Dir. HESPANHA, A. M. Lisboa. 1993. p. 88<br />

93 Ibidem. p. 89<br />

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