cultura do consumo, identidade e pós-modernidade - Unigranrio
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personagens dentro da novela, culminan<strong>do</strong> nos estilos de vida. Esta discussão inicial servirá,<br />
portanto, de guia e eixo de ligação entre a parte teórica e a análise propriamente dita da<br />
telenovela Paraíso Tropical.<br />
Analisan<strong>do</strong> as características da telenovela sob a ótica da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, pode-se<br />
dizer que ela demonstra a transição da <strong>modernidade</strong> para o perío<strong>do</strong> atual, ao apresentar as<br />
relações de trabalho numa grande empresa, o grupo Cavalcante, ainda com características<br />
fordistas, como a hierarquia vertical, centralizada em Antenor Cavalcante (interpreta<strong>do</strong> por<br />
Tony Ramos) e a característica um tanto familiar, pela presença <strong>do</strong> sobrinho <strong>do</strong> <strong>do</strong>no Olavo<br />
(interpreta<strong>do</strong> por Wagner Moura) e de alguém que é considera<strong>do</strong> um filho para Antenor,<br />
Daniel (interpreta<strong>do</strong> por Fábio Assunção).<br />
A alusão <strong>do</strong> próprio Antenor a sua forma de administrar sua carreira na estratégia “self<br />
made man” (homem que se construiu a si mesmo, característica atribuída ao empresário<br />
Henry Ford, de onde derivou o termo fordismo) também é outro indício de tendência fordista.<br />
Além dessas características, fica claro na empresa que o ritmo de trabalho e as funções são<br />
rígi<strong>do</strong>s e não há muito espaço para criatividade, sen<strong>do</strong> privilegiadas as relações puramente<br />
associativas, baseadas na realização de interesses e competitividade. (CASTELLS, 2000). Um<br />
<strong>do</strong>s fatos que confirma isso é que um <strong>do</strong>s funcionários da empresa, Heitor (interpreta<strong>do</strong> por<br />
Daniel Dantas) opta por sair <strong>do</strong> emprego para exercer a função de cozinheiro no restaurante<br />
de Cássio (interpreta<strong>do</strong> por Marcelo Anthony) e fica feliz quan<strong>do</strong><br />
é elogia<strong>do</strong>, pois afirma que isto nunca lhe aconteceu no antigo emprego.<br />
A crise destas características rígidas de trabalho e a substituição <strong>do</strong> sistema fordista de<br />
produção pelo <strong>pós</strong>-fordista, com a compressão <strong>do</strong> espaço e tempo e aceleração <strong>do</strong> fluxo de<br />
informações, é discutida por Harvey, Castells e Sennett. Enquanto Harvey explica que a<br />
tendência vertical de organização tende a ser eliminada e que a retirada dela tem impacto<br />
sobre as <strong>identidade</strong>s coletivas de trabalho, acentuan<strong>do</strong> a instantaneidade e descartabilidade,<br />
Castells afirma que as sociedades estão historicamente determinadas mediante relações<br />
históricas de poder, experiência e produção e que as instituições hierarquizam os sujeitos<br />
segun<strong>do</strong> sua posição no processo produtivo.<br />
Sennett (1999) tem uma visão um pouco mais pessimista sobre a flexibilização na<br />
relação de trabalho, dizen<strong>do</strong> que a fragmentação pode afetar o caráter pessoal e acabar por<br />
refletir nas relações familiares e sociais, fazen<strong>do</strong> com que os indivíduos mudem tanto de<br />
trabalho ou tenham que despender tantas horas no serviço para atender aos imperativos de<br />
merca<strong>do</strong> que não conseguem formar um caráter pessoal e passá-los para seus filhos. Essa<br />
discussão é exibida na trama pela personagem Antenor, pois depois que a esposa se separa<br />
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