cultura do consumo, identidade e pós-modernidade - Unigranrio
cultura do consumo, identidade e pós-modernidade - Unigranrio
cultura do consumo, identidade e pós-modernidade - Unigranrio
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A temporalidade social da novela se mostra através da engrenagem de ciclos, pois em<br />
vez de conflitos maiores que só se solucionam no final da trama (como a maioria das novelas<br />
das 21h globais exibidas antes de Paraíso Tropical), vários conflitos menores ocorrem desde<br />
o início da história e se resolvem, surgin<strong>do</strong> outros dentro dessas soluções ou origina<strong>do</strong>s de<br />
outras circunstâncias. A telenovela está sempre se renovan<strong>do</strong> e não há movimento tedioso e<br />
linear, não sen<strong>do</strong> previsível ao longo da trama (pelo menos até o perío<strong>do</strong> de clímax analisa<strong>do</strong><br />
nesta dissertação), qual o destino <strong>do</strong>s personagens, com exceção <strong>do</strong> principal par romântico da<br />
trama.<br />
Pode-se deduzir que o fluxo temporal da novela foi adapta<strong>do</strong> ao cotidiano<br />
contemporâneo, no qual as circunstâncias de profissão, status social, esta<strong>do</strong> civil, moradia e<br />
posições sociais e afetivas <strong>do</strong> indivíduo <strong>pós</strong>-moderno estão sempre mudan<strong>do</strong>, obrigan<strong>do</strong>-o a<br />
uma constante reinvenção da própria <strong>identidade</strong>. As personagens da novela Paraíso Tropical<br />
sempre estão começan<strong>do</strong> e recomeçan<strong>do</strong> suas vidas em função das mudanças de<br />
circunstâncias. Como os conceitos utiliza<strong>do</strong>s por Slater para a fragmentação da <strong>identidade</strong><br />
frente à <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> <strong>pós</strong>-moderna, não há regras fixas e rígidas de valores e<br />
comportamento.<br />
O par romântico principal da novela, Paula e Daniel, segue algumas tradições originadas<br />
da literatura e melodrama, como o paradigma de Cinderela, aponta<strong>do</strong> por Cristiane Costa<br />
(2000) como bastante comum nas telenovelas. Apesar de ter fica<strong>do</strong> claro na trama que Daniel<br />
foi o bom mocinho que fez com que Paula saísse <strong>do</strong> status de classe média baixa para classe<br />
média alta, sua companheira não é passiva e nem sempre é salva por ele, como nos contos de<br />
fada. Independente, em muitas cenas Paula toma decisões importantes e no início da novela é<br />
ela quem salva o ama<strong>do</strong> de um afogamento.<br />
O casal também demonstra que não possui somente características boas e expressa<br />
abertamente emoções como raiva, ódio e até alguma violência, quan<strong>do</strong> usam táticas ilícitas<br />
(como invadir o computa<strong>do</strong>r de Olavo) para provar que o vilão havia desvia<strong>do</strong> dinheiro <strong>do</strong><br />
Grupo Cavalcante. Paula e Daniel são protagonistas ativos e não ficam o tempo to<strong>do</strong><br />
lamentan<strong>do</strong> as injustiças sofridas, esperan<strong>do</strong> respostas externas, como nas literaturas<br />
românticas tradicionais ou novelas mexicanas, em que os mocinhos sofrem a novela toda e só<br />
conseguem ser felizes no final.<br />
71