ecologia comparada e conservação da onça-pintada - Pró-Carnívoros
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Desde meados do século XIX, quando grandes parques foram criados em países africanos, os<br />
conflitos entre a fauna nativa e as produções já eram registrados (Bigalke, 2000). Naquele<br />
tempo, os parques eram criados com o intuito de preservar grandes extensões de terras<br />
contendo solo, água, vegetação e fauna em estágios naturais. No entanto, não se imaginava<br />
que a imensidão de áreas desabita<strong>da</strong>s nos arredores de áreas protegi<strong>da</strong>s um dia pudessem ser<br />
povoa<strong>da</strong>s e converti<strong>da</strong>s em áreas de produção, gerando conflitos entre herbívoros e lavouras e,<br />
pre<strong>da</strong>dores e rebanhos (Prins, 2000). Na medi<strong>da</strong> em que os problemas foram surgindo, o<br />
planejamento de parques e reservas também foi se ajustando para sistemas que permitissem,<br />
primariamente, manter a produção agropecuária, quer fosse através do cercamento dos<br />
parques para evitar os estragos dos herbívoros, ou mesmo através <strong>da</strong> permissão de abate de<br />
pre<strong>da</strong>dores para a proteção de rebanhos naturais (Johnson et al., 1995; Bigalke, 2000;<br />
Messmer, 2000).<br />
No Brasil, o sistema de criação de Uni<strong>da</strong>des de Conservação seguiu modelo<br />
semelhante ao africano, sendo também pareci<strong>da</strong>s às situações de conflitos entre a fauna<br />
ocorrente em Uni<strong>da</strong>des de Conservação e áreas próximas e a produção nas proprie<strong>da</strong>des<br />
vizinhas. No entanto, a falta de <strong>da</strong>dos científicos publicados sobre conflitos entre fauna e<br />
homem no Brasil, gera uma falsa impressão de que os problemas são menos freqüentes ou que<br />
ocorrem em menor escala e intensi<strong>da</strong>de. Mas, de uma forma geral, o histórico do sistema de<br />
Uni<strong>da</strong>des de Conservação no Brasil é ain<strong>da</strong> muito recente para alardear grandes preocupações<br />
aos órgãos governamentais no que se refere à resolução de conflitos que venham ocorrer.<br />
Hoje, as grandes áreas de preservação do país encontram-se na região norte e oeste, onde as<br />
densi<strong>da</strong>des humanas nas zonas rurais são ain<strong>da</strong> muito reduzi<strong>da</strong>s. Nas outras regiões do país<br />
aonde as densi<strong>da</strong>des humanas e a produção já ocorrem em altas taxas, as situações de<br />
conflitos provavelmente já ocorreram durante o processo de ocupação e muitas <strong>da</strong>s espécies<br />
“problemas” , como <strong>onça</strong>s e queixa<strong>da</strong>s, já foram erradica<strong>da</strong>s ou encontram-se em números tão<br />
reduzidos que os impactos causados hoje são mais pontuais e não regionalizados.<br />
O Parque Nacional <strong>da</strong>s Emas é uma <strong>da</strong>s últimas grandes extensões de Cerrado com<br />
predominância de campos do Planalto Central. Apesar de criado há 42 anos atrás, em 1961,<br />
foi somente no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de setenta que se deu início a larga conversão dos hábitats<br />
naturais de seu entorno em lavouras e pastagens exóticas. Desta forma, os conflitos entre a<br />
fauna do Parque e as produções vizinhas têm um histórico relativamente recente.<br />
Situado em uma <strong>da</strong>s regiões de maior produção de grãos do Brasil, o Parque Nacional<br />
<strong>da</strong>s Emas (PNE) é hoje praticamente uma ilha natural de cerrado em meio a um mar de