Dificuldades de comunicação e sinalização - Livros Grátis
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Face ao exposto, observa-se que a pessoa com sur<strong>de</strong>z tem as mesmas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento que a pessoa ouvinte, precisando somente que tenha suas necessida<strong>de</strong>s<br />
especiais supridas, visto que o natural do homem é a linguagem.<br />
“A influência da sur<strong>de</strong>z sobre o indivíduo mostra características bastante particulares<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento físico e mental até seu comportamento como ser social. Neste<br />
aspecto, <strong>de</strong>staca-se a linguagem como fator <strong>de</strong> vital importância para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
processos mentais, personalida<strong>de</strong> e integração social do surdo.<br />
A comunicação é, sem dúvida, o eixo da vida do indivíduo, em todas as suas manifestações<br />
como ser social. É oportuno, pois, reconhecer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos estudos que sirvam <strong>de</strong><br />
suporte a métodos educacionais e ofereçam à comunida<strong>de</strong> surda melhores condições <strong>de</strong><br />
exercerem seus direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cidadania. Além disso, é preciso dar aos especialistas da<br />
área melhores subsídios para o estudo do <strong>de</strong>senvolvimento lingüístico e cognitivo das crianças<br />
que estão sob a sua responsabilida<strong>de</strong> profissional.<br />
Desenvolver-se cognitivamente não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente do domínio <strong>de</strong> uma língua,<br />
mas dominar uma língua garante os melhores recursos para as ca<strong>de</strong>ias neuronais envolvidas<br />
no <strong>de</strong>senvolvimento dos processos cognitivos.” (Fernan<strong>de</strong>s, 2000, p.49)<br />
Segundo Goldfeld (1997), no <strong>de</strong>correr do <strong>de</strong>senvolvimento infantil, a criança passa por<br />
diversas mudanças, e a língua é um dos principais instrumentos utilizados nesse processo.<br />
Para a criança surda, esse processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong> ficar fragmentado, pois é sabido<br />
que ela não po<strong>de</strong>rá apren<strong>de</strong>r a língua oral <strong>de</strong> forma totalmente espontânea, como a criança ouvinte.<br />
Nesse sentido, a aquisição da língua <strong>de</strong> sinais vai permitir à criança surda, mediante<br />
suas relações sociais, o acesso aos conceitos <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong>, que passará a utilizar como<br />
seus, formando assim uma maneira <strong>de</strong> pensar, agir e ver o mundo característico da cultura<br />
<strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong>.<br />
A língua é um fator fundamental na formação da consciência. Ela permite pelo menos<br />
três mudanças essenciais à ativida<strong>de</strong> consciente do homem: ser capaz <strong>de</strong> duplicar o mundo<br />
perceptível, <strong>de</strong> assegurar o processo <strong>de</strong> abstração e generalização, e <strong>de</strong> ser veículo<br />
fundamental <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> informação (Luria, 1986).<br />
Vygotsky é apresentado como um dos primeiros pesquisadores soviéticos a julgar ter a<br />
linguagem um papel <strong>de</strong>cisivo na formação dos processos mentais e, para prová-lo, empreen<strong>de</strong>u<br />
uma série <strong>de</strong> experimentos que visaram a testar a formação da atenção ativa e dos processos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da memória por meio da aquisição da língua (a memorização passa a ser<br />
ativa e voluntária) e <strong>de</strong> outros processos mentais superiores. Todos os experimentos levaramno<br />
a dar, efetivamente, à língua o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na formação dos processos mentais,<br />
como previra. Para o autor, é relevante perceber a “língua não apenas como uma forma <strong>de</strong><br />
comunicação, mas também como uma função reguladora do pensamento”.<br />
É importante perceber que as crianças adquirem a língua por meio da exposição<br />
informal e do uso ativo, e não por lhes ser ensinada. A experiência em casa é fundamental.<br />
Os pais funcionam não como professores do idioma, mas como facilitadores que permitem<br />
aos filhos absorver a cultura e fazer uso ativo da sua curiosida<strong>de</strong>. As crianças usam a língua<br />
para expressar sentimentos, para fazer os pais rirem ou adiar acontecimentos in<strong>de</strong>sejáveis<br />
“Posso ficar acordada mais cinco minutos?”; para não dizer a verda<strong>de</strong>: “Talvez eu tenha comido<br />
os biscoitos. Não consigo me lembrar...” e assim por diante.<br />
Quando as crianças chegam aos cinco anos, po<strong>de</strong>m expressar-se sobre o passado e o<br />
futuro, conseguem usar a fantasia e são capazes <strong>de</strong> perguntar quando, como e por que as<br />
DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO - SURDEZ 17