Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.Janeiro. Um artigo narrando a história do surfe no lendário município deSaquarema (RJ) destacou a ligação entre a modalidade e a música, especialmenteo pop/rock nacional que surgia naquele momento. O surfista Zeca Mendigo,“autor da música que lançou a Blitz com o hit ‘Você não soube me amar’”, a teriacomposto no quintal de uma casa em Saquarema, onde também morara ocantor Evandro Mesquita 27 – vocalista da Blitz e ator, Mesquita interpretouum surfista em Menino do Rio.Por último, vale destacar a presença da música nos campeonatos. Duranteo dia, no sistema de som; à noite, nas festas e shows. A inclusão de showsna programação dos campeonatos datava da década anterior, quando foramrealizados eventos como Festival Rock, Surf e Brotos, na praia da Joaquina(Florianópolis, SC) e Som, Sol e Surf (Saquarema, RJ) (GUTENBERG, 1989,146; BUENO, 2005, 167).Em Itacoatiara (Niterói, RJ), a Fluminense FM narrava “passo a passo,[...] fato este, que contribuiu fortemente para a informação dos detalhes técnicosdo evento”. 28 O “excelente” 29 trabalho da emissora nas competições auxiliavapúblico e atletas a acompanharem e compreenderem o desenrolar das mesmas.De manhã cedo, convocava os surfistas e anunciava as condições das ondas.Durante o dia, seus programadores criavam “um clima muito descontraído,ao som de DIRE STRAITS, PRETENDERS e THE POLICE”. 30 A emissorafoi eleita três vezes (1989, 1991 e 1992) a “melhor rádio surfe do mundo” pelaAssociação dos Surfistas Profissionais (ASP). 31 Da mesma forma, as coberturasda Bandeirantes FM (São Paulo) ganharam elogios de Fluir: “diretamente deItamambuca para São Paulo, num excelente trabalho jornalístico da equipe comandadapor Lizandro Antonio”. 32 A presença de emissoras de rádio e televisãoera vista como uma contribuição para o crescimento do esporte e ao mesmotempo um sintoma de seu sucesso.Antes de passar ao próximo item, resta mencionar duas maneiras pelasquais o surfe esteve presente em certas emissoras, as quais auxiliaram a divulgaçãoe crescimento da modalidade e, em contrapartida, ganharam audiência eprestígio entre os aficionados. Primeiro, as rádios que noticiavam as condiçõesdo mar através de entradas na programação conhecidas como informativo dasondas ou boletim das ondas. Este tipo de serviço atraía a audiência de surfistas,sendo às vezes patrocinado por empresas ligadas à modalidade, como ocorriacom a Gazeta FM de São Paulo. <strong>33</strong> Segundo, programas especializados como osemanal “Surf Show” (Pool FM, São Paulo capital), dirigido por “um surfistadas antigas, o conceituado Julinho Mazzei” com “controle de qualidade e toda aassessoria editorial da Revista Fluir”, trazendo “música, entrevistas e informaçõesde ondas, tempo, estradas”. 34Surfe e audiovisualHá uma relação próxima e de longa data entre esporte e cinema (MELO,2003, 173). No caso da modalidade esportiva em discussão, “a cultura surfecaliforniana rapidamente se difundiu pelo anel do Pacífico, inicialmente atravésde um gênero hollywoodiano de filmes de praia” (BOOTH, 2001, 91). Isto não seLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201095
Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.deu por acaso: na Califórnia estão sediados os estúdios cinematográficos maispoderosos do mundo. Na passagem, o historiador australiano Douglas Boothassocia a disseminação da cultura surfe à mídia desde o princípio. Mas quandose deu este início?O autor estabelece um marco: “produtores de Hollywood identificaramcedo o potencial comercial da nova cultura e a Columbia Pictures lançou o gênerohollywoodiano em 1959 com Gidget” (BOOTH, 2001, 91), uma adaptação dolivro homônimo de Frederick Kohner, que vendera bastante (SCOTT, 2005).O filme foi um grande sucesso de bilheteria. Duas articulações se dão nessemomento: cultura do surfe e mídia; cultura do surfe e lucro/entretenimento/exploração comercial. Ambas, embora contestadas de diversas formas e submetidasa tensões, não se quebraram desde então. Vários filmes sobre praia (beachparty films) cuja trama destacava o surfe foram realizados na primeira metadeda década de 1960. “As histórias de praia de Hollywood eram aventuras musicaise ajudaram a popularizar a surf music”, estilo musical que tem no grupo BeachBoys o expoente máximo. Os discos de surf music obtiveram tremendo sucessocomercial. A veiculação de canções de astros da música pop durante os filmescontribuía para a vendagem dos discos com a trilha sonora (Booth, 2001, 93).O sucesso dos filmes esteve longe de representar unanimidade: muitospraticantes reclamavam da imagem pasteurizada da modalidade produzidapor Hollywood. Um contraponto ao olhar dos grandes estúdios era o das produçõescaseiras, iniciadas em 1930. Duas décadas depois, começou, de formaprecária (gravação, edição, exibição etc.) a realização de filmes especializados(BOOTH, 2005, 106). Configura-se o quadro no qual Booth (2001) estabeleceduas categorias: filmes hollywoodianos (foco na “vida praiana”) e filmesde surfe especializados (foco em “camaradagem do surfári, ondas grandes, ondasperfeitas, locais exóticos e ‘secretos’, novos desenhos de prancha e manobras”).Os primeiros se dirigem a um público amplo; os últimos, a jovens surfistas(BOOTH, 2001, 94; SCOTT, 2005). O cinema, portanto, é um dos setoresem que se travam disputas por representação em torno do esporte.Para Booth (2001, 95), mais do que tipos de produção, a dicotomia representaformas distintas de encarar e construir valores:Diferentemente do gênero hollywoodiano que retratava o surfe como um passatempoconformista, os homens e mulheres jovens nos filmes de surfe especializados, que desciamondas e viajavam incessantemente, e que nunca trabalhavam ou se preocupavam,carregavam a mensagem potencialmente subversiva de que surfistas eram menosprevisíveis, menos confiáveis e não tão prontos a se conformar.Nesta interpretação, os filmes especializados seriam um canal para divulgaçãoda rebeldia e inconformismo característicos da subcultura do surfena Califórnia. Exibidas fora dos grandes circuitos, as películas eram recebidascom avidez pelos interessados em surfe: “ao fim da década [de 1950], milharesde entusiastas e fãs se reuniam em clubes privados e salões públicos para assistir afilmes especializados” (BOOTH, 2001, 94). Porém, seu alcance não deve serexagerado, uma vez que tais espaços recebiam audiências significativamenteLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201096
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