Caiafa. Segunda Linha: comunicação e sociabilidade na Linha 2 do metrô carioca.Viajar na Linha 2No pequeno sistema de duas linhas do metropolitano do Rio de Janeiro,desenvolveu-se um contraste entre a Linha 1 e a Linha 2 que é sem cessarmencionado de diversas maneiras pelos usuários e que não se furta à observaçãodireta. Ao mesmo tempo em que se apoia na experiência das pessoas— e por isso se apresenta em facetas variáveis e diferentes ênfases —, essecontraste se deve também em parte a características técnico-operacionais queseparam as duas linhas.Não é uma oposição simples que vamos traçar aqui — a variabilidadedas falas dos usuários e as nuances que vão emergindo da observação-participaçãonão permitiriam. Inclusive, como costuma ser com as linhas de ummetrô, a Linha 1 e a Linha 2 se correspondem, se encontram a certa altura.Os passageiros das composições se transferem de uma a outra linha e, de certomodo, se misturam, embora ingressem a partir de pontos do sistema que guardamdiferenças entre si.A estação de transferência tem sido, desde a ativação da Linha 2 (deconstrução posterior), a Estação Estácio. Hoje existe uma transição para umaoutra forma de encontro entre as duas linhas que está sendo implementadapela concessionária que opera o metrô carioca. 2 Esta passagem, junto a outrosfatores que vêm agravando problemas antigos do metrô (sobretudo a superlotação),está se dando num cenário de tumulto operacional nunca antes experimentadonas viagens de metrô na cidade. Não é meu objetivo, contudo, trataraqui da questão da transferência, mas sim explorar aspectos da sociabilidade eda comunicação que se geram no contexto da segunda linha do metrô.A mudança na transferência entre as linhas envolveu também uma reconfiguraçãofísica e operacional no sistema. Foi construída uma ligação externaentre a Estação São Cristóvão, da Linha 2, e e a Estação Central, da Linha1. Os trens que vêm da Linha 2 tomam esse “by pass” e entram na Linha 1pela Central até a Estação Botafogo. Esse novo arranjo foi implementado emdezembro de 2009. Criou-se igualmente uma nova nomenclatura em que 10estações originalmente da Linha 1 (de Central a Botafogo) foram incluídastambém numa nova Linha 2, como foi denominada. Apenas as estações dosdois extremos da Linha 1 não são consideradas estações comuns. Quem vemdessas estações extremas tem que fazer transbordo. O que se verifica, contudo,é que na experiência dos usuários a Linha 2 continua sendo aquela que vai dePavuna a São Cristóvão. As estações atualmente consideradas comuns são concebidascomo pontos de chegada na Linha 1. Do ponto de vista sociocultural,portanto, a Linha 2 continua sendo aquela original, construída num setor daZona Norte. É assim que é concebida pelos usuários, ao menos por enquanto,e é desta Linha 2 que tratamos aqui.A Linha 2 serve regiões da Zona Norte da cidade, enquanto a Linha 1 vaida Zona Norte à Zona Sul, passando pelo Centro — regiões mais privilegiadasem termos de urbanização e onde em geral estão os empregos das pessoas queembarcam na Linha 2. A Zona Sul é a área mais urbanizada da cidade e emque se concentra uma população de maior renda. Basta dizer que é a região queLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010177
Caiafa. Segunda Linha: comunicação e sociabilidade na Linha 2 do metrô carioca.ladeia a praia. A Zona Norte, ao largo da brisa marinha, pode ter, por exemplo,um calor mais pesado durante o verão carioca — como de resto a Zona Oestetambém. Esta é uma questão que se levanta no contexto das viagens de metrô,pois um fator definidor da experiência dos metrôs do mundo é a climatização.No Rio de Janeiro temos o calor da Zona Norte que entra em conflito com ovagão climatizado das estações elevadas ou superficiais. Por outro lado, o calordurante as viagens pode ser ao mesmo tempo um problema operacional — jáque por vezes o ar condicionado não funciona — e que inclusive encontramoshoje cada vez mais também na Linha 1.A Linha 2 tem 15 estações, todas elevadas ou superficiais, nenhuma subterrânea— de Pavuna até São Cristóvão, primeira parada depois da estaçãode transferência. 3 Caracteriza-as a estrutura de concreto armado abrindo parao exterior, sendo que muitas tem também pastilhas, azulejos ou tijolos nasparedes das plataformas e nos mezaninos (parte intermediária entre a plataformae o acesso às estações), às vezes compondo desenhos. Engenheiro RubensPaiva e Acari levaram apenas tinta colorida sobre parte do cimento, mas Mariada Graça, por exemplo, tem pastilhas translúcidas em vários tons de verde.É o que primeiro se apresenta para quem chega de trem na estação, as coreschamam e as pastilhas brilham. Tem também parede pintada com uma listraverde escura e retângulos cinza, como Inhaúma. Percebe-se todo um jogo comas pastilhas na sucessão das estações — embora interrompido por algumassoluções mais precárias, onde o que realça é o bege sujo do concreto. Engenhoda Rainha, por exemplo, é muito simples.— E das estações que você conhece? O que você acha do espaço? — perguntei a umausuária com quem conversava na Linha 2.— Eu acho, assim, que tem uma discriminação com as estações da Linha 2. Eu achoque as da Linha 1 estão sempre sendo reformadas, têm mais opções de comércio, deestande. Sempre tem algum evento, alguma coisa. Da Linha 2 quase não tem nada.São mais esquecidas. Não são definitivamente esquecidas, mas são mais esquecidas doque da Linha 1. Acho que eles dão mais atenção à Linha 1. Porque vai pra Zona Sul,turista frequenta mais, então eu acho isso.Diana, em entrevista na linha 1, comentou:— A linha 2 é muito pior, né, assim, pior de estrutura, o vagão é muito pior, é umafalta, não sei, é impressão, mas tem uma falta de cuidado com a Linha 2.— A linha 1 é muito diferente — afirmou Laura, que frequenta mais a Linha 1 masconhece as duas linhas.— Diferente como?— Tudo diferente. Tem mais conforto. O ar é melhor, mesmo o formato das estações.Não sei, muito mais confortável. É pavorosamente diferente.Na Linha 2, com o entorno entrando pelas estações, são paisagens quevão se compondo a cada parada nas plataformas e nos mezaninos. São regiõesmais remotas da cidade que se apresentam e se expõem com o traçado do metropolitano.A observação desses tableaux aparece em muitas de minhas notasLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010178
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