Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.Eu, o Carlos e o Bruno somos da geração que viveu a adolescência na época do ‘milagrebrasileiro’ [...] o dólar era barato e os produtos importados, como as revistas de surf,eram acessíveis a muita gente. A revista americana SURFER, por exemplo, chegou avender mais de 10 mil exemplares por edição num país em que pouquíssimas pessoasfalavam inglês. Nós crescemos com ela [...]Aquele tipo de trabalho nos influenciou demais.Os três citados trabalhavam em Fluir – dois deles, sócio-fundadores. Afacilidade de acesso a Surfer se insere no boom de consumo da classe média brasileiradurante os anos 1970. Revistas como ela contribuíram, no passado, paraos então adolescentes se apaixonarem pelo surfe e, mais à frente, para a idéia detrabalharem com o esporte: fotografando (Carlos Lorch e Bruno C. Alves) ecriando sua própria publicação (Alexandre Andreatta e Bruno C. Alves). 10Castro (2003, 93) e Goldenstein (1991) assinalam a freqüência do hábitode ouvir música e sua importância entre jovens e adolescentes. Um dos fatoresque marcam a passagem de simples praticante ou admirador de esportesradicais à condição de membro da subcultura é o compartilhamento de preferênciasmusicais com os demais integrantes, os quais em geral são ouvintesassíduos de um (ou mais) estilo musical específico.A música foi particularmente importante como elemento agregador noskate, cujos adeptos, durante os anos 1980, ouviam, sobretudo, new wave,punk, rock e hardcore. Perguntado sobre semelhanças entre skate e bicicross,um piloto e skatista responde que várias manobras são parecidas, mas que “amoçada de skate tem mais o pique de horrorizar, ouvindo som punk, new wave”. 11O gosto musical é trazido à baila para evidenciar as diferenças entre os grupos,não apenas no tipo de música ouvido, mas nos sentidos atribuídos ao gosto,como o de “horrorizar” as pessoas. Uma legenda de foto vinculava a radicalidadede um skatista à participação no movimento punk: “Tatu (coquetel molotov)carrega todas suas influências punks numa das manobras que ainda hoje é dedestaque”. 12 Reforçando as fronteiras entre as modalidades, as dicas do quadro“som para skate” configuravam um espaço à parte, separado da cobertura demúsica da revista.O gênero musical mais destacado foi o rock, que se caracteriza pela reivindicaçãode valores como rebeldia e contestação e, ao mesmo tempo, umainserção comercial profunda (VILLAÇA, 2002). Exemplo foi o interesse despertadopelo festival Rock in Rio. Em setembro de 1984, um artigo sem assinaturae semelhante a um release chamava a atenção para o festival Rock in Rioe dizia que “em janeiro o Brasil vai parar. [...] Resumindo: VAI SER DEMAIS!A FLUIR estará lá, e você?” 13 Meses depois, a revista trouxe uma matéria coma cobertura do evento.A explosão do rock nacional – e, particularmente, de certas bandas – nosanos 1980 se apoiou na existência de emissoras de rádio que tocavam fitas demode artistas então desconhecidos e sem contrato com gravadora (SILVA, 2008).A principal delas foi a Fluminense FM, de Niterói (RJ), cujo papel no crescimentodo rock nacional é constantemente ressaltado pelos próprios artistas. 14 ALOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201093
Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.emissora levou ao ar músicas e notícias relacionadas ao surfe; divulgou, cobriue até organizou e patrocinou competições como a Copa Rádio Fluminense83 15 e a Copa Fluminense FM de Surf (1984) 16 , ambas realizadas na praia deItacoatiara (Niterói). Apelidada a “Maldita”, chegou a apoiar campeonatos forado estado do Rio de Janeiro, entre eles a etapa de Ubatuba (SP) do primeiroCircuito Brasileiro de Surf Profissional, em 1987. 17 Estabeleceu parceria paradivulgação mútua com o Realce (programa televisivo sobre esportes radicaisdo Rio de Janeiro). Artistas cujas músicas tocavam na rádio eram entrevistadosou tinham seus videoclipes exibidos no programa, ao passo que a emissora veiculavacanções que integravam o gosto musical dos surfistas (SILVA, 2008).Diversas estações de rádio lançaram mão da forma mais comum de divulgação– propaganda paga – e publicaram anúncios de página inteira emFluir: Fluminense, 18 Transamérica FM, 19 89 FM (São Paulo/SP), 95 FM(Santos/SP) 20 e Bandeirantes FM (São Paulo, Porto Alegre e Salvador). 21Voltando ao rock brasileiro, as seções de música e de notas noticiavamlançamento de discos e as gravadoras veiculavam propagandas dos mesmos.O registro do lançamento de “dois discos do melhor rock nacional” 22 , de Lobãoe Plebe Rude, apareceu na edição posterior àquela que estampou anúnciosde página inteira de ambos. Boa parte dos artistas de maior sucesso nos anos1980 foi entrevistada por Fluir no período: Camisa de Vênus, Os Paralamas doSucesso, Ultraje a Rigor, Rita Lee, Evandro Mesquita, Léo Jaime. O conteúdodas conversas versava sobre o trivial (carreira, novidades, influências, estilo) e arelação com os esportes radicais.Integrantes do Ultraje a Rigor, cujo disco Nós vamos invadir sua praia,lançado em 1985, fez enorme sucesso, elogiaram o gosto musical dos surfistase destacaram a afinidade entre estes e sua música. Quando os entrevistadoreslembraram que “surfista e roqueiro sempre foram considerados marginais”, umdos membros respondeu: “quem é que manda nesta merda aqui? São os jovens,então o negócio agora é rock e surf.” 23 Da mesma forma, membros da bandaReplicantes chamaram a atenção para a articulação entre música e surfe e explicaramque não surfavam, mas admiravam o esporte. A revista mencionouque a canção “‘Surfista Calhorda’ teve uma grande aceitação entre a galera do surfexatamente porque retrata uma realidade surfética.” O baterista Carlos Gerbase,compositor da música, respondeu que buscou “pegar a coisa comercial porquesurgiram centenas de surf shops. Acho que lá em Porto Alegre tem mais surf shopdo que aqui em São Paulo.” 24 O “surfista calhorda” criticado na letra usa roupasde surfe e é proprietário de duas lojas, mas “quando entra n’água [...] ele nãosurfa nada”.Um dos pontos destacados era a presença dos esportistas em shows, comonos da banda Camisa de Vênus realizados em São Paulo, em que “skatistas [...]dominavam <strong>completa</strong>mente a área em frente ao palco, com suas danças ‘pogo’ e‘power diving’ (se jogando de cima do palco de todas as formas) [...]”. 25O fato de um ou mais integrantes de uma banda ser adepto ou admiradordo surfe sempre recebia destaque, como no caso da californiana OingoBoingo. 26 Músicos como Léo Jaime e Herbert Vianna surfavam no Rio deLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201094
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