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edição 33 completa - Logos - UERJ

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Costa. Futebol folhetinizado. A imprensa esportiva e os recursos narrativos usados na construção da notícia.Cenas de choro e desolação não apenas dos torcedores, mas de jogadorestambém, costumam ser muito frequentes. Em 1974, o então técnico Zagalloapareceu em close com as mãos na cabeça, em sinal de desespero, por conta daderrota da seleção para a Holanda (O Estado de São Paulo, 04/07/1974). Como mesmo gesto de aflição aparecia Ronaldinho Gaúcho na edição da Folha deSão Paulo, do dia seguinte à eliminação da Copa de 2006 (02/07/2006). Nessemesmo ano, a primeira página de O Globo mostrava o jogador Zé Roberto deitadono chão – com as mãos na cabeça! –, aos prantos (02/07/2006). Imagensfortes e palavras também. Frases de impacto irrompem dando conta da imensador que a torcida nacional sente e, além disso, a seleção é criticada sem dó, nempiedade após a derrota: “Consternação em todo o país com a derrota do selecionado”(Grifos meus, O Globo, 20/07/1966); “E tudo se acabou. Foi uma 4ª feirade cinzas” (Ultima hora, 04/07/1974); “Brasil perdeu 3 pênaltis. Acabou a festa”(JS, 22/06/1986); “Derrota dramática” (O Dia, 22/06/1986); “França eliminaBrasil em um jogo dramático” (Estado de São Paulo, 22/06/1986); “Brasil desorientadoperde para Portugal” (JS, 20/07/1966); “Sonho do Penta acaba emlágrimas. Fiasco na final” (O Dia, 13/07/1998); “França liquida Brasil. Comatuação medíocre, seleção é eliminada da Copa” (O Globo, 02/07/2006).As notícias relativas às derrotas que eliminam a seleção de uma Copado Mundo são uma ótima demonstração do quanto “o culto ao superlativo”(NEVEU, 121, 2006) se faz presente na imprensa esportiva. O farto uso deartifícios que dramatizam as narrativas da derrota – e vitória também – doselecionado nacional lhes confere “traços de uma narrativa pseudoliterária namedida em que utiliza um enredo e cria uma trama que relaciona os personagensnuma história. Mas não é uma narrativa literária qualquer: utiliza acimade tudo a verossimilhança” (MOTTA, 314, 2002). A possibilidade de criaçãoé limitada, mas os mecanismos narrativos se assemelham aos usados em obrasficcionais, sobretudo, aqueles familiares ao melodrama e ao folhetim.Narrativa, espetáculo e mercado consumidorO jornalista Heródoto Barbeiro acredita que na imprensa esportiva, entretenimentoe informação estão muito próximos como em nenhuma outraárea do jornalismo, o que tornaria imprescindível um maior cuidado para quea emoção esteja “na dose certa e sempre ser recheada de isenção” (2006, 46).Porém, ao contrário desse equilíbrio proposto, foi mostrado neste trabalho quea emoção é elemento central na composição da notícia esportiva, daí reportagensmarcadas pelo excesso verbal, por polêmicas e especulações. Os jogos sãoconvertidos em histórias repletas de dramatizações em que o tom superlativoprepondera na tentativa de provocar os afetos do leitor, fomentando indentificaçãofácil e imediata.É com objetivo de obtenção de boas médias de vendagem que a imprensaesportiva costuma lançar mão de recursos narrativos, especialmente os melodramáticose folhetinescos, cuja intensidade pode variar de acordo com o tipode publicação. 13 Por isso, há também um forte diálogo com a linguagem publicitáriaperceptível em manchetes próprias para incitarem o consumo, o queLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201072

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