Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.para transformar o surfe em moda no Brasil (RAMOS, 1995, 77; MIRA,2001; CANNITO E TAKEDA, 2003). Inspirado em Menino do Rio e GarotaDourada, eis o cerne da trama:São quatro personagens vivendo aventuras, romances e constituindo uma famíliaalternativa. Dois surfistas (Juba e Lula) sócios de uma empresa de prestações deserviço chamada “Armação Ilimitada”, dublês e praticantes de esportes radicais quevivem a paquerar e a disputar mulheres, adotam um menor abandonado (“Bacana”)e namoram uma jornalista (Zelda Scott) feminista e independente, mas tambémromântica e sonhadora (CANNITO E TAKEDA, 2003).Para os autores, esse núcleo central representava uma contestação do“modelo tradicional de família nuclear e monogâmica” e, junto com a abordagemde problemas brasileiros como o dos povos indígenas e das crianças abandonadase as inovações estéticas, insere o programa nas tentativas de experimentaçãofrente à censura, em meio à abertura política. Assim como Mira (2001),Cannito e Takeda (2003) destacam o impacto do seriado: “Esse tom anárquicoe a irreverência do programa marcaram época influenciando os hábitos e o imagináriodos jovens [...]”. O sucesso foi tão grande que os protagonistas criaramuma empresa (Kadu e André Promoções Artísticas) com o objetivo de licenciarprodutos com a marca Juba & Lula, lançando dezenas de itens como roupas eacessórios, história em quadrinhos e o LP “Juba e Lula – o disco”. Um longametragemfoi planejado, mas não chegou a ser produzido (BRYAN, 2004,284; MIRA, 2001, 165).Mas a presença dos esportes radicais na telinha não se limitou à dramaturgia.Em 1983 estreava o primeiro programa especializado neles da TV brasileira:Realce. Segundo Antonio Ricardo, um dos fundadores, a idéia de criara revista Realce, precursora do programa televisivo, surgiu quando Brasil Surfacabou. 47 Realce deixou de circular como impresso e teve seu conteúdo e formatoadaptados para a televisão, tornando-se fundamental para a divulgaçãoe consolidação do surfe no Brasil. Além de reportagens sobre a modalidade,cobria skate, vôo livre, windsurf e música. Veiculado na TV Record do Rio deJaneiro, era retransmitido para outros estados (BRYAN, 2004, 281). Entre osprogramas de televisão que abriram espaço para o surfe é possível citar aindaVideosurf, com Ivo Piva Imparato e Tonico Mello. 48A presença na tevê ajudava a atrair curiosos, interessados e adeptos. Fluirelogiava estas aparições e a exibição de reportagens sobre campeonatos emtelejornais locais. Neste contexto, a cobertura dos meios de comunicação –sobretudo da mídia não-especializada – era tomada pelos envolvidos com ascompetições como prova irrefutável do crescimento dos esportes radicais e dointeresse da sociedade em relação a eles.Ainda no que diz respeito às relações entre televisão e surfe, Rico deSouza afirma ter trazido, entre 1976 e 1988 (sem especificar o ano) “os primeirosfilmes de surf para a televisão brasileira, que eram exibidos no EsporteEspetacular [programa da TV Globo]. Isso ajudou a disseminar o esporte entre nós”(SOUZA, 2004, 54).LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201099
Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.Por fim, cabe destacar que alguns órgãos de mídia patrocinaram atletas.O mesmo Rico diz ter sido patrocinado pela TV Globo “de 1976 a 1988”(SOUZA, 2004, 54). Uma foto dos finalistas do “campeonato brasileiro,Saquarema, 1978” mostra Rico e outro surfista cujo patrocinador principalera uma empresa de comunicação: Cauli Rodrigues, com adesivo da RádioCidade na prancha (SOUZA, 2004, encarte entre 80-1). No final de 1983,a emissora FM A Tribuna de Santos ajudou a patrocinar a ida de Picuruta eAlmir Salazar ao Havaí. 49Considerações finaisDurante a segunda metade do século XX, manifestações artísticas e midiáticasde naturezas e características diversas estiveram relacionadas com osurfe. Frequentemente veiculadas pelos meios de comunicação de massa, elasparticiparam ativamente da construção de imagens em torno da modalidadee ajudaram-na a se tornar conhecida e admirada ao redor do mundo, tendocomo uma das principais consequências a expansão da moda surf para diversospaíses e continentes.No Brasil, o processo sofreu notável impulso nos anos 1980 e foi crucialpara a popularização do surfe naquela década. O panorama apresentadoneste trabalho pretende contribuir para a compreensão de que o crescimento,profissionalização e comercialização experimentados pela modalidade no períodotêm como um de seus motores as representações midiáticas. Ou seja, nasmanifestações da cultura pop e da comunicação de massa, tais como música,cinema e programas de rádio e televisão, o surfe apareceu para um públicoamplo. Uma parte dessas pessoas interessou-se pelo esporte e pelos valores a eleassociados, passando a consumir produtos e a desejar aproximar-se do que seconsiderava um estilo de vida. Essa popularização, por sua vez, simultaneamentepossibilitou e resultou em transformações na modalidade no Brasil.Notas1Trabalho apresentado no XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.Este artigo remonta a discussões travadas na tese de doutorado O surfe nas ondas damídia: um estudo de Fluir nos anos 1980, defendida em 2009 no PPGCOM/UFF.O autor agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro(FAPERJ) a bolsa concedida durante parte do doutorado.2Para uma discussão do conceito de subcultura, ver Fortes (2009, especialmente 151-63).3“Esse tal de rock’n’roll”, Chacal, Fluir n. 1, set-out 1983, 10.4Fluir n. 2, nov-dez 1983, 65.5“Devo – o som dos anos 80”, Paulo de Oliveira Brito (Anshowinhas), Fluir n. 3, mar 1984, 59.6“Stones, explosão subterrânea com cheiro de sexo e suicídio ou isso deve ser oinferno”, por Pepe Escobar, Fluir n. 3, mar 1984, 58.7“Som”, Fluir n. 4, mai 1984, 798De acordo com Caiafa (1985, 74-7), entre os punks do Rio de Janeiro circulavamLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010100
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