Marques. A função autor e a crônica esportiva no Brasil: representações da Copa do Mundo em alguns jornais paulistas e cariocas.(atletas, juízes, treinadores, médicos, organizadores e, de certa maneira, a platéiado estádio); numa segunda instância, há a produção do espetáculo realizadapela mídia – seja pelo discurso radiofônico, televisivo ou jornalístico, sejapela edição de imagens da TV. Nesta segunda instância, trava-se outra disputa,alheia àquela que ocorre no plano esportivo: trata-se, aqui, da briga pelo furoou pela audiência, resultado de pressões por vezes maiores do que aquelas comque os atletas se deparam no campo de jogo.Nesse sentido, é singular verificarmos como a crônica adequou-se aomundo do futebol e como o seu desenvolvimento nos jornais a companhoutambém a popularização dessa modalidade esportiva nas grandes ci dades, amboscomo sintoma do crescimento urbano do país: isto porque as figuras docolunista ou do cronista de esporte não são invenção recente da imprensa brasileira.E mesmo quando dedicavam pouco espaço à cobertura futebolísticanos campeonatos regionais, os principais diários paulistanos e cariocas nãofi cavam indiferentes às coberturas das Copas do Mundo, especialmente a partirda conquista do tricampeonato do Brasil no México, conforme atesta JoséSebastião Witter no artigo “Futebol... futebol”:À medida em que os campeonatos se repetem e os clubes se organizam esse torna maiscomplexa toda a disputa, maior é o espaço reservado para notícias e comentários sobrefutebol. Não houve, pelo menos até a década de 20, manchetes de primeira página,nem jornais somente esportivos, mas houve sempre o registro dos fatos acontecidos noesporte que engatinhava. (WITTER, 1982, 81)De todo modo, os diários esportivos há muito tempo utilizam-se desserecurso para incrementar o noticiário sobre o futebol. O Jornal dos Sports, já naCopa de 1950, contava com as colunas e crônicas de Mario Filho, José Lins doRêgo, Tomaz Mazzoni e Vargas Netto comentando o Mundial realizado noBrasil. Poucos anos depois, caberia ao jornal Última Hora enriquecer a coberturaesportiva ao diferenciar-se dos demais diários cariocas com os quais competia.Nos dizeres de Samuel Wainer, a receita de sucesso de seu novo empreendimentoseria dispor de “muitos colunistas” e abordar “assuntos habitualmentedesprezados pela imprensa – esporte e polícia, por exemplo”. (WAINER, 1993,135) A contribuição da Última Hora ao noticiário esportivo não se esgotarianesses aspectos, mas também no lançamento de novas seções e no fato de quenotícias esportivas e policiais passaram a freqüentar assiduamente a primeirapágina, numa ousadia inusitada para um veículo que buscava concorrer com aTribuna da Imprensa, O Globo e Diário de Notícias. Em 1951, Wainer apresentariaoutra inovação surpreendente:Pela primeira vez na história da imprensa brasileira a foto colorida de um time defutebol [o Fluminense] saiu na primeira página de um jornal. A edição esgotou-serapidamente e eu descobri a cor, que seria um dos ingredientes mais picantes da receitade sucesso da ‘Última Hora’. (WAINER, 1993, 146)Em 1962, a presença de colunistas era marcante na Última Hora: entreoutros nomes, assinavam colunas, por exemplo, os jornalistas Jacintode Thormes (“Sociedade e adjacências”), Paulo Francis (“Show business”) eLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201043
Marques. A função autor e a crônica esportiva no Brasil: representações da Copa do Mundo em alguns jornais paulistas e cariocas.Marques Rebelo (“Conversa carioca”). Na editoria de Esportes, havia Wilsondo Nascimento (“Na reta final”, sobre turfe), Albert Laurence (“Ponto de vista”)e João Saldanha (“Contra-ataque”). Em 24 de maio de 1962, a ÚltimaHora trazia um anúncio na primeira página sobre a cobertura do jornal para aCopa do Mundo do Chile: intitulado “UH no ‘front’ da Copa 62”, a peça faziaalusão ao “escrete nacional de repórteres e colunistas” convocados para cobrir oevento diretamente do Chile. Ao todo, eram oito pessoas, entre repórteres, fotógrafose colunistas (estes, representados por João Saldanha, Albert Laurencee Jacinto de Thormes).Assim, é pioneira a presença do cronista Sérgio Porto (1923-1968), por meiode seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, nas páginas esportivas da imprensa brasileira.Em suas crônicas, escritas sobre a Copa do Mundo de 1962, disputada noChile, Stanislaw refere que era contratado por vários jornais: Estas páginas vêm sendoescritas no correr dos jo gos mesmo. A pressa em remetê-las para o Brasil e a obrigaçãode escrever pa ra vários jornais, me obriga a isto. 2 Trata-se de tex tos que representamum grande exercício do olhar, já que o autor diz escrever seus textos na tribunado Estádio, ao mesmo tempo em que o jogo acontece. Temos aqui comentáriosjornalísticos que compõem uma espécie de “reportagem esportiva”, em que a metalinguageme o tom ficcional estão sempre presentes, o que aproxima a escrita dalinguagem falada em função da instantaneidade do discurso:Outra vez escrevendo à maquina, com Leonor correndo no campo. Isto é de lascar, masa culpa é minha: não tinha nada que assinar o contrato para escrever estas páginas.Enfim, aqui está a intimorata semi-portátil na Tribuna Pacífico de la Prensa, do EstádioNacional de Chile, pronto para contar o que acontecerá. (Stanislaw Ponte Preta, Bolana rede: a batalha do bi. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1993, 55)Depois de Sérgio Porto, a presença extraordinária de outro ficcionistanuma cobertura de Copa do Mundo se deu com o escritor Fernando Sabino,convidado pe lo Jornal do Brasil para comentar a Copa do Mundo de 1966,na Inglaterra. Apenas em 1986 esse fenômeno viria a se repetir: João UbaldoRibeiro seria convidado por O Globo para comentar a Copa do México, trabalhotambém realizado por Luis Fernando Verissimo, só que para a RevistaPlayboy – que, por ser uma edição mensal, difere totalmente do propósito dojornalismo impresso diário. Já na Copa de 1990, o mesmo Verissimo escreveriatex tos diários para O Estado de S. Paulo, diretamente da Itália, ao lado do contistaJoão Antônio, que, no entanto, permanecera no Brasil e publicava textossem grandes vínculos com o torneio – tratava-se, em suma, de narrativas ehistórias sobre torcedores e outros casos ligados ao mundo do futebol.Por outro lado, os textos dos escritores e cronistas (permeados de emotividadee de recriações ficcionais dos fatos analisados, a par de um refinadotrabalho com a linguagem) são seguidos de perto pelos cronistas dos cadernosde cultura dos principais jornais brasileiros. Aqui, é necessário destacar o outropioneirismo do jornalista Nelson Motta, que nunca trabalhou numa editoriade Esportes mas que, em 1970, foi convidado por Samuel Wainer a cobrir aCopa do México. Na época, Nelson Motta mantinha na Última Hora uma colunade artes e cultura intitulada “Roda Viva”, e foi o único jornalista brasileiroLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201044
- Page 3 and 4: CATALOGAÇÃO NA FONTEUERJ/Rede Sir
- Page 5 and 6: LOGOS - EDIÇÃO Nº 33 - VOL 17, N
- Page 7 and 8: 165176191Temas LivresTango, Samba e
- Page 9 and 10: De qualquer modo, a iniciativa da L
- Page 11 and 12: Estudos Sociais do Esporte:vicissit
- Page 13 and 14: Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 15 and 16: Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 17 and 18: Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 19 and 20: Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 21 and 22: Futebol (argentino) pela TV: entre
- Page 23 and 24: Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 25 and 26: Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 27 and 28: Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 29 and 30: Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 31 and 32: Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 33 and 34: Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 35 and 36: Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 37 and 38: Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 39 and 40: Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 41 and 42: Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 43 and 44: Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 45 and 46: Marques. A função autor e a crôn
- Page 47: Marques. A função autor e a crôn
- Page 51 and 52: Marques. A função autor e a crôn
- Page 53 and 54: Marques. A função autor e a crôn
- Page 55 and 56: Marques. A função autor e a crôn
- Page 57 and 58: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 59 and 60: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 61 and 62: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 63 and 64: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 65 and 66: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 67 and 68: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 69 and 70: Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 71 and 72: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 73 and 74: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 75 and 76: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 77 and 78: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 79 and 80: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 81 and 82: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 83 and 84: A visão bipolar do pódio:olímpic
- Page 85 and 86: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 87 and 88: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 89 and 90: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 91 and 92: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 93 and 94: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 95 and 96: O surfe brasileiro e as mídiassono
- Page 97 and 98: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 99 and 100:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 101 and 102:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 103 and 104:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 105 and 106:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 107 and 108:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 109 and 110:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 111 and 112:
Blogs futebolísticos no Brasil e n
- Page 113 and 114:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 115 and 116:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 117 and 118:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 119 and 120:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 121 and 122:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 123 and 124:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 125 and 126:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 127 and 128:
Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 129 and 130:
O agendamento midiáticoesportivo:c
- Page 131 and 132:
Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 133 and 134:
Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 135 and 136:
Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 137 and 138:
Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 139 and 140:
Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 141 and 142:
Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 143 and 144:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 145 and 146:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 147 and 148:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 149 and 150:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 151 and 152:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 153 and 154:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 155 and 156:
Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 157 and 158:
Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 159 and 160:
Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 161 and 162:
Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 163:
Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 166 and 167:
Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 168 and 169:
Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 170 and 171:
Tango, Samba e IdentidadesNacionais
- Page 172 and 173:
Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 174 and 175:
Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 176 and 177:
Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 178 and 179:
Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 180 and 181:
Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 182 and 183:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 184 and 185:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 186 and 187:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 188 and 189:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 190 and 191:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 192 and 193:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 194 and 195:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 196 and 197:
Apontamentos sobre a relaçãoentre
- Page 198 and 199:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 200 and 201:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 202 and 203:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 204 and 205:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 206 and 207:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre