Novais. A visão bipolar do pódio: olímpicos versus paraolímpicos na mídia on-line do Brasil e de Portugal.Conforme anteriomente enunciado, neste estudo dividimos os estereótiposem dois tipos, os que Reforçam baixas expectativas, e os que Reforçam altasexpectativas. Nas matérias referentes aos atletas olímpicos 100% dos estereótiposencontrados reforçavam altas expectativas. Dessa forma tanto em Portugalquanto no Brasil, os campeões olímpicos são cultuados e suas característicasrealçadas. No site luso Diário Digital encontramos expressões e frases referentea Nelson Évora como, “Sempre muito bem disposto, bom amigo, e muitohumilde” (21/08/2008), o treinador teve apenas que “lapidar um diamante”(21/08/2008); no mesmo sentido o site Expresso, apresenta Évora como um“grande atleta” (23/08/2008), e o inclui na “galeria de heróis” (22/08/2008)portugueses.No Brasil, o site Globo.com, magnifica o feito de Maurren Maggi, “(…)melhor atleta de todos os tempos” (22/08/2008); “(…) o Brasil nunca teveatleta igual” (22/08/2008), o que é também reforçado pelo site UOL, “(…) é amaior atleta brasileira de todos os tempos” (22/08/2008).O mesmo não se observa nas matérias referentes aos atletas paraolímpicos,em que 64% reforçavam baixas expectativas, e apenas 36% reforçavamaltas expectativas, comprovando estudos anteriores (Thomas e Smith, 2003;Schell e Duncan, 1999; Schell e Rodriguez, 2001; Kama, 2004). Neste pontoporém, faz-se notar as diferenças culturais entre Brasil e Portugal.O país luso toca nos extremos apresentando tanto a maior parte as matériasque reforçam as baixas expectativas (67%), como a menor quantidadede referências que reforçam as altas expectativas (20%). Os estereótipos relacionadosao atleta João Paulo Fernandes prendem-se fundamentalmente aoarquétipo de coitadinho e fardo, “(…) é muito difícil ter o atleta paralímpico atreinar” (Diário Digital, 10/09/2008), “(…) agora têm sido difíceis os treinos,temos passado por fases difíceis, o João tem andado bastante nervoso” (DiárioDigital, 10/09/2008); “Tem carro dele, mas (…) depende de terceiro para conduzir”(Expresso, 09/09/2008), “(…) fico eu (a mãe do atleta) com o João,sozinha, a lutar” (Expresso, 09/09/2008).Os sites brasileiros não apresentaram o estereótipo de coitadinho de formaexplícita, contudo as baixas expectativas presentes nos textos, como “Nãoestipulou objetivos (…)”, “Não acreditou no seu feito (…)”(UOL, 07/09/2008);“Não foi fácil conquistar a medalha (…)”(Globo.com,(Globo.com, 07/09/2008), evidenciama banalização da conquista.Contudo, a maior parte da cobertura brasileira apresentou um reforçodas altas expectativas, ao retratar o atleta paraolímpico como favorito ao ouro.“Garoto de ouro do Brasil” (Globo.com, 10/09/2008), “(…) estrela da nataçãobrasileira” (Globo.com, 11/09/2008); “Favorito disparado ao ouro (…)”(UOL,07/09/2008). Contrariando a ideia de Hilgemberg e Guerra (2006) de que nosJogos Paraolímpicos não há favoritos ao pódio, nem mesmo depósito de confiançae esperança nas atividades esportivas desses atletas.LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201085
Novais. A visão bipolar do pódio: olímpicos versus paraolímpicos na mídia on-line do Brasil e de Portugal.Discussão dos resultadosCom este estudo tentamos verificar a existência de diferenças nacionaistanto a nível da quantidade da cobertura como da orientação do tratamentonoticioso na web entre as recentes Olimpíadas e as Paraolimpíadas de Pequim.Acima de tudo, pretendíamos validar a expectativa inicial relativa à continuidadeda propagação dos estereótipos da mídia tradicional nos novos suporteselectrónicos. Nesse sentido enunciamos um conjunto de hipóteses que guiaramnosso trabalho e cuja consideração importa agora retomar.Os dados quantitativos recolhidos foram suficientes para confirmar aprimeira hipótese, O número de artigos relacionados aos atletas olímpicos foi consideravelmentesuperior em ambos os países. Para a coordenadora de comunicaçãodo Comitê Paraolímpico Brasileiro, Gisliene Hesse, a explicação para tal resideno fato de que as Olimpíadas ainda se sobressaem pela tradição e maior desenvolvimento(Brasil Paraolímpico, 2003). A maior importância ainda conferidaaos Jogos Olímpicos em detrimento dos Paraolímpicos é também o argumentoaduzido por Kell, Kell e Price (2008), para quem os Jogos Paraolímpicos sãovistos como um evento paralelo às Olimpíadas, dando àquele um valor de nãomais do que um show deixado de lado. Este paralelismo dá a ideia de que nãoimporta o quanto a performance do atleta paraolímpico seja de alto nível, elesnunca poderão competir nas Olimpíadas. Fica então comprovado que enquantoos Jogos Olímpicos são divulgados à exaustão, os Jogos Paraolímpicos ficamrelegados a uma ínfima cobertura jornalística.Notamos que os temas apresentados enquadravam a vitória de olímpicosde forma a magnificar-lhes o feito, através de uma cobertura que cria imagem dedeuses que atingiram conquistas extraordinárias, desta forma comprovando asegunda e quarta hipóteses. Pierre Bourdieu (1997) constata que os jornalistase os demais profissionais de mídia procuram sempre por atletas capazes desatisfazer o orgulho nacional, transformando eventos como as Olimpíadas emjogos de campeões e apresentando ao público os momentos e imagens quedenotem a bravura, coragem e espírito de luta ou então a vontade de vencerdo mito. Este fenómeno também é consentâneo com a lógica da indústriacultural, dado que um dos elementos importantes na produção da identidadecultural é justamente o do ídolo esportivo.Em claro contraste com a mistificação dos atletas olímpicos o sucessodos atletas paraolímpicos foi banalizado pela mídia conforme antecipado na hipótesetrês. A ênfase quase exclusiva nos resultados, corrobora a conclusão deThomas e Smith (2003), segundo a qual a cobertura midiática de desportoadaptado muitas vezes restringe-se principalmente na performance e sucessodos atletas com deficiência, enfatizando o significado de recordes, medalhase tempos, com muito pouco, ou nenhum, comentário sobre a experiência dosatletas, repercussão da medalha e bastidores. Certamente, tal afirmativa parecesugerir que, de fato, a cobertura midiática dos atletas com deficiência, tende atrivializar suas performances e conquistas, e perpetuar ainda mais o modelomédico, que concebe a deficiência como um produto meramente biológico, e,portanto os problemas que as pessoas com deficiência enfrentam são resultadoLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201086
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