Maia e Oliveira. Futebol, Identidade e Memória: o Lance! do Consumo do Botafogo de 1962.outros campos culturais ou que deles são tomadas por empréstimo. A maiorparte dos enunciados pressupõe um julgamento do nível de relevância parao público, que é imaginado, presumido sem clareza de quem é e o que podelhe interessar. O texto jornalístico é um processo de doação de sentido, umavez que é discurso ordenador dos fatos, tornando-os inteligíveis dentro deuma lógica racionalmente compreensível. Cada indivíduo que integra a audiência,ao interpretar os novos saberes do discurso jornalístico, a partir doseu próprio mundo vivido, torna-se um sujeito autônomo de constituição dosentido. E ainda deve ser considerado o silêncio: que engloba aquilo que nãoganha destaque, que fica à margem do enquadramento. É com este silêncioque o discurso jornalístico dialoga. Vizeu (2004) ainda considera difícil pensarno jornalismo como mera reprodução do real, porque reduzi-lo a umasimples técnica e acionamento de normas mecânicas equivaleria a perder adimensão que ele oferece. No entanto, também é incapaz de revelar a realidadede forma plena, por isso, elenca prioridades enquadradas dentro dospadrões existentes dos contextos específicos.A sabedoria popular já ganhou páginas e páginas de cronistas e de trabalhosacadêmicos sobre por que e como um esporte nascido na Inglaterra setornou uma forma de expressão de um país validada no discurso feito sobreele, seja por si próprio ou pelos outros, tanto na rua quanto em pesquisas sobreo tema. Pecenin (2007) cita que o vínculo chega ao ponto das expressõesrelacionadas ao jogo invadirem o campo da linguagem cotidiana, ganhandonovos sentidos, criando metáforas caracterizadoras da nossa cultura “futebolinguística”.O brasileiro “pisa na bola” quando erra, dá “olé” nos problemas eaté ”pendura as chuteiras”, seja homem ou mulher. “É possível concluir que ofutebol é parte integrante da identidade nacional brasileira, de modo que qualquercoisa que se enuncie sobre o nosso futebol já é uma forma de construirdiscursivamente a identidade do Brasil”. (PECENIN: 2007, 2) Ele ressalta quea crônica esportiva está legitimada como um espaço de saber, que enuncia e interpretaa história do esporte, dá destaques positivos e negativos a equipes, jogadores,treinadores e árbitros, construindo discursivamente identidades paraos atores do mundo da bola. Influencia a forma como este ou aquele assuntoserá olhado, discutido, criando antipatias, simpatias ou mesmo indiferenças.No entanto, ainda enfrenta preconceito junto às outras vertentes jornalísticas.A avaliação é do jornalista Maurício Stycer, um dos integrantes da equipe quecriou o jornal Lance! em 1997 e lançou um livro neste ano sobre todo o processode criar um jornal esportivo no Brasil.F.U. - Como sua formação era o jornalismo cultural, você tinha um certopreconceito com o jornalismo esportivo?M.S. – O jornalismo esportivo é considerado uma área menor do jornalismo. É muitodifícil um jornalista esportivo virar diretor de um grande jornal. Não é uma área emque se recrutam as lideranças de um jornal, mas sim política e economia. Os salários sãomenores. Todo “ foca”, todo jovem quer entrar no jornalismo esportivo. É o lugar quetodo mundo quer entrar. Dentro de um jornal é a área vista com menor prestígio.LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010155
Maia e Oliveira. Futebol, Identidade e Memória: o Lance! do Consumo do Botafogo de 1962.F.U. -Na sua opinião, quais seriam as razões desta postura?M.S. – É uma boa questão. Eu não a enfrento, só a constato no meu livro. Uma dasrazões, ao meu ver, é por ser uma área de pouca influência nas vidas das pessoas. Temmuito apaixonado, tem o lance da paixão, mas não importa para o País se o Flamengoganhou ou perdeu o campeonato. Não são notícias que alteram o rumo das coisas, nãomexem com o bolso da gente, só com a nossa paixão, nosso sofrimento, nossa alegria.Pode ser uma explicação. Um cara que tem acesso ao presidente vai ser mais respeitadoque aquele que tem acesso ao Mano Menezes. Embora que, dentro do jornalismoesportivo, quem consegue falar com o Mano Menezes seja respeitado. Mas tem muitoesse efeito de comparação. (GÓES, 2009)Na entrevista à Folha Universitária 3 , Maurício Stycer defende que acriação do Lance! marcou o processo de transição para a modernização dojornalismo esportivo: a proposta era um jornal voltado para um público jovemde classe média e também popular. Para isso, várias estratégias foram usadas,como o “Fala Doente”, torcedor inventado que fazia o papel de colunista, e éusado até hoje. Além disso, colocar torcedores famosos ou anônimos expressandoopiniões e expectativas sobre seus times aproximam ainda mais o leitorda publicação, ele compreende, partilha e se sente convidado a participar. E asgrandes partidas são os momentos onde este elo é reforçado e o torcedor tentaacalmar a sua angústia torcendo por boas notícias nas páginas do jornal.Olho no Lance! – transformando o passado do Botafogo emsonho de consumoNo domingo, 3 de maio de 2009, aconteceria o jogo definitivo doCampeonato Carioca entre Flamengo e Botafogo. Este era o assunto do Lance!que dedicou 15 das 36 páginas da edição à cobertura. Da mesma forma que aidentidade só existe em função da alteridade para marcar seu posicionamento,necessita de todas as características que não possui (eu x outro), o jornalismoesportivo é pautado pela diferença. Um time só pode se dizer superior se tiveroutros para derrotar. No caso da cobertura da final do Campeonato Carioca,todas as notícias são comparativas para estabelecer vantagens e desvantagens.O jornal lembra o empate no primeiro jogo uma semana antes e avalia as possibilidades,ouvindo especialistas, torcedores famosos e anônimos. E havia umconsenso: a situação não estava fácil para o Botafogo.Ok, Ney Franco está roubado. O Botafogo não terá Maicosuel, não terá Reinaldo,e terá todo o peso dos últimos dois anos em suas costas. (...). Sim, está mais para oFlamengo. A camisa, o Maracanã, a noção de que ‘deixaram chegar’ (...) (AndréKfouri, Prévia da Decisão, 4)Em função das circunstâncias, ou seja, sem Maicosuel e Reinaldo, o Flamengo é favoritoe deverá ser campeão. Mas é jogo decisivo e, sem vantagem, já houve confrontos em queo Botafogo venceu o rival quando era mais fraco. A situação não me parece tão simplesassim. (Roberto Assaf, Opinião do Especialista, 5)O melhor jogador do Carioca está fora. Só isso já complica muito a vida do Botafogo.Além disso, o Fla se recuperou com um empate heróico no finzinho do primeiro jogo,vai mais animado e terá torcida a favor. Afinal os alvinegros não têm ido muito. NaLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010156
- Page 3 and 4:
CATALOGAÇÃO NA FONTEUERJ/Rede Sir
- Page 5 and 6:
LOGOS - EDIÇÃO Nº 33 - VOL 17, N
- Page 7 and 8:
165176191Temas LivresTango, Samba e
- Page 9 and 10:
De qualquer modo, a iniciativa da L
- Page 11 and 12:
Estudos Sociais do Esporte:vicissit
- Page 13 and 14:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 15 and 16:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 17 and 18:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 19 and 20:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 21 and 22:
Futebol (argentino) pela TV: entre
- Page 23 and 24:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 25 and 26:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 27 and 28:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 29 and 30:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 31 and 32:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 33 and 34:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 35 and 36:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 37 and 38:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 39 and 40:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 41 and 42:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 43 and 44:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 45 and 46:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 47 and 48:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 49 and 50:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 51 and 52:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 53 and 54:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 55 and 56:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 57 and 58:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 59 and 60:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 61 and 62:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 63 and 64:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 65 and 66:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 67 and 68:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 69 and 70:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 71 and 72:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 73 and 74:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 75 and 76:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 77 and 78:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 79 and 80:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 81 and 82:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 83 and 84:
A visão bipolar do pódio:olímpic
- Page 85 and 86:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 87 and 88:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 89 and 90:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 91 and 92:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 93 and 94:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 95 and 96:
O surfe brasileiro e as mídiassono
- Page 97 and 98:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 99 and 100:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 101 and 102:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 103 and 104:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 105 and 106:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 107 and 108:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 109 and 110: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 111 and 112: Blogs futebolísticos no Brasil e n
- Page 113 and 114: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 115 and 116: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 117 and 118: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 119 and 120: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 121 and 122: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 123 and 124: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 125 and 126: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 127 and 128: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 129 and 130: O agendamento midiáticoesportivo:c
- Page 131 and 132: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 133 and 134: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 135 and 136: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 137 and 138: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 139 and 140: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 141 and 142: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 143 and 144: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 145 and 146: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 147 and 148: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 149 and 150: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 151 and 152: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 153 and 154: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 155 and 156: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 157 and 158: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 159: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 163: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 166 and 167: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 168 and 169: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 170 and 171: Tango, Samba e IdentidadesNacionais
- Page 172 and 173: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 174 and 175: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 176 and 177: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 178 and 179: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 180 and 181: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 182 and 183: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 184 and 185: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 186 and 187: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 188 and 189: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 190 and 191: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 192 and 193: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 194 and 195: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 196 and 197: Apontamentos sobre a relaçãoentre
- Page 198 and 199: Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 200 and 201: Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 202 and 203: Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 204 and 205: Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 206 and 207: Maia e Pereira. Apontamentos sobre