Silveira e Esteves. Entre a memória e a promessa. A dialética idem x ipse na cobertura dos Jogos Pan-americanos.Chegou no dia 4 de julho, e como não conhecia ninguém, nem a cidade, acabou seperdendo. Dormiu no carro, mas no dia seguinte acabou fazendo amizade com umasenhora que lhe ofereceu lugar para ficar. Foi a sorte, porque ela também não tinhadinheiro para a hospedagem” (linha 50).Seguindo, no penúltimo parágrafo:A cabeleireira acorda cedo e passa o dia inteiro lá (no Engenhão), mas pode assistira todos os jogos. Ganha dois lanches e guarda um para comer de manhã, em casa.Não usa transporte porque a casa da nova amiga fica pertinho. Não tem tempo, nemdinheiro para conhecer a Cidade Maravilhosa, mas faz questão de dizer que realizouseu maior sonho: ver o futebol conquistar uma medalha de ouro e ainda por cima noMaracanã! (linha 74).A conotação dada à personagem da história ainda é positiva: ela não sedeixou abater diante das dificuldades, mas lutou como uma guerreira e porisso, chegou onde queria. A memória da identidade guerreira figura como umapromessa permanente de êxito.A quinta e última reportagem analisada foi veiculada em 29.07, nafinal dos Jogos Pan-americanos, e corresponde a edição de número 20. Damesma maneira que a anterior, essa reportagem não aparece ao longo do cadernocomo as reportagens sobre os atletas, mas na editoria fixa denominadaCenas Cariocas. Essa editoria abordou assuntos diversos durante todo o Pan,e foi um espaço para fazer a ligação do que acontecia no Rio de Janeiro como Rio Grande do Sul.Esta última reportagem aborda um Centro de Tradições Gaúchas localizadono Rio de Janeiro que é um ponto de encontro do tradicionalismo para osgaúchos radicados no Rio e para as pessoas que, apesar de nascerem em outrosestados, se dizem gaúchas de coração. O título “Rio Grande de Janeiro” fazalusão a esta dupla condição. No primeiro parágrafo podemos fazer a análiseque a representação da cultura do Rio Grande do Sul é tão forte em todo opaís, que as pessoas ao reconhecerem uma afinidade cultural, passam a negara sua verdadeira origem política, para assumir o seu desejo de pertencer ao RioGrande do Sul, escolhendo uma nova identidade:Gaúcho do Paraná, gaúcho do Mato Grosso, gaúcho do Rio de Janeiro e até gaúcho riograndense.No CTG Desgarrados do Pago, a certidão de nascimento que conta é aquelaque a afinidade determinou: ‘aqui todo mundo é gaúcho, nem precisa perguntar’ –apressa-se em esclarecer uma sorridente prenda de Corumbá (linha 12).A reportagem fala a respeito da dificuldade de se conseguir mais sóciospara o CTG e da luta para continuar divulgando o tradicionalismo:Gaúcho da cidade paranaense de Guarapuava, Rogers dos Santos, 28 anos, funcionárioda Petrobrás, é um dos mais empenhados: ‘estamos aí, na peleia’. A peleia é travadaatualmente em fandangos e costeladas mensais, que servem para arrecadar dinheiro etambém para promover o tradicionalismo e atrair novos sócios. As costeladas duramtodo o domingo e incluem apresentações de música e dança e a possibilidade dehospedagem no local. Dentro dessa política de promover a cultura gaúcha, sempre queLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010147
Silveira e Esteves. Entre a memória e a promessa. A dialética idem x ipse na cobertura dos Jogos Pan-americanos.possível e em todas as querências, a turma já organizou costelada até dentro de escola desamba. Estranho? Não para esses gaúchos de coração sem fronteiras: ‘a escola de sambaé só o CTG do carioca’ – compara Rogers (linha 86).O destaque ao espírito guerreiro também se faz presente. É possívelverificar que foram utilizadas várias expressões e substantivos do universodo gaúcho, símbolos que demarcam a identidade cultural em questão.Através da reiteração do substantivo gaúcho, quase em exaustão, principalmenteno título das matérias, o veículo pretende atrair o leitor pela afirmaçãode ser gaúcho, construindo a partir daí a identidade pela diferenciação do“outro”, pelo que o “outro” não é. Assim, a condição de gaúcho pode ser entendidacomo o principal valor notícia das reportagens. Ela não só é a certeza dapresença das informações na Revista do Pan, mas também orienta a construçãoda notícia, buscando atrair o leitor através de sua “gauchidade” e ainda acionao leitor a respeito das referências positivas a cerca dessa denominação.Verificando o caso da atleta Daiane dos Santos, a denominação degaúcha não é necessária, apesar de recorrente, porque a sua origem políticaé de domínio geral, enquanto que para outros atletas menos conhecidos essacaracterização é necessária.No caso do judoca Tiago Camilo ser chamado de gaúcho, encontramoscomo explicação o fato do atleta ser capaz de reunir os atributos paratal, o que justifica a presença da reportagem do paulista na análise, pois essapersonalidade remete aos valores da cultura gaúcha sobre as qualidades emaneiras de agir do gaúcho.Ao construir um discurso mediado pela cultura e a identidade em queseu público está inserido, maiores são as possibilidades de identificação entre oveículo e o seu público. Quando o diário Zero Hora procura falar ao seu leitoratravés da inserção do seu produto em um sistema de significação alicerçadoem uma identidade particular que é relativa ao estado onde circula, ela acabapor instigar no seu leitor um sentimento de pertencimento que é emitido pormeio do seu discurso.Através da elaboração de um palimpsesto midiático do gaúcho – representaçãoque guarda os momentos genéticos da diversidade de sua origem étnica– cada leitor lê o que é capaz de ler, e reconhece o discurso como familiar deacordo com seus símbolos e suas origens (SILVEIRA, 2003). Assim, ainda queessa possa ser uma estratégia mercadológica, é inegável que Zero Hora contribuipara fixar ou mesmo estabelecer as representações da identidade cultural,contribuindo para a fixação da mesma num dado sentido.Considerações finaisMuito antes de se especializar, o jornalismo esportivo já demonstrava serum dos assuntos prediletos da audiência. Atualmente, ele se configura comoum dos maiores responsáveis pela vendagem de jornais, assim, é quase impossívelnão abordá-lo se a intenção for atrair leitores. Quando acontece umLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010148
- Page 3 and 4:
CATALOGAÇÃO NA FONTEUERJ/Rede Sir
- Page 5 and 6:
LOGOS - EDIÇÃO Nº 33 - VOL 17, N
- Page 7 and 8:
165176191Temas LivresTango, Samba e
- Page 9 and 10:
De qualquer modo, a iniciativa da L
- Page 11 and 12:
Estudos Sociais do Esporte:vicissit
- Page 13 and 14:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 15 and 16:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 17 and 18:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 19 and 20:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 21 and 22:
Futebol (argentino) pela TV: entre
- Page 23 and 24:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 25 and 26:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 27 and 28:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 29 and 30:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 31 and 32:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 33 and 34:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 35 and 36:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 37 and 38:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 39 and 40:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 41 and 42:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 43 and 44:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 45 and 46:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 47 and 48:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 49 and 50:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 51 and 52:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 53 and 54:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 55 and 56:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 57 and 58:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 59 and 60:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 61 and 62:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 63 and 64:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 65 and 66:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 67 and 68:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 69 and 70:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 71 and 72:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 73 and 74:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 75 and 76:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 77 and 78:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 79 and 80:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 81 and 82:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 83 and 84:
A visão bipolar do pódio:olímpic
- Page 85 and 86:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 87 and 88:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 89 and 90:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 91 and 92:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 93 and 94:
Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 95 and 96:
O surfe brasileiro e as mídiassono
- Page 97 and 98:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 99 and 100:
Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 101 and 102: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 103 and 104: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 105 and 106: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 107 and 108: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 109 and 110: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 111 and 112: Blogs futebolísticos no Brasil e n
- Page 113 and 114: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 115 and 116: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 117 and 118: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 119 and 120: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 121 and 122: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 123 and 124: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 125 and 126: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 127 and 128: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 129 and 130: O agendamento midiáticoesportivo:c
- Page 131 and 132: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 133 and 134: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 135 and 136: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 137 and 138: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 139 and 140: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 141 and 142: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 143 and 144: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 145 and 146: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 147 and 148: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 149 and 150: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 151: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 155 and 156: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 157 and 158: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 159 and 160: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 161 and 162: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 163: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 166 and 167: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 168 and 169: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 170 and 171: Tango, Samba e IdentidadesNacionais
- Page 172 and 173: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 174 and 175: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 176 and 177: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 178 and 179: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 180 and 181: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 182 and 183: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 184 and 185: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 186 and 187: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 188 and 189: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 190 and 191: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 192 and 193: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 194 and 195: Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 196 and 197: Apontamentos sobre a relaçãoentre
- Page 198 and 199: Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 200 and 201: Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 202 and 203:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 204 and 205:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 206 and 207:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre