Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma partida de futebol? A relação entre televisão e futebol no cenário midiático contemporâneo.Analisando pelo outro lado, a mídia também ganha com essa relação. Astransmissões esportivas oferecem vantagens em termos de altas audiências paraas empresas de telecomunicação, permitindo que as mesmas fechem contratoscaros com patrocinadores e anunciantes. Neste trabalho, um dos pontos a serdestacado é o sucesso do futebol junto ao público e como esse fator o colocaem destaque na telinha.No caso do futebol, o esporte de maior peso mundial, a relação é aindamais forte e gera mais riqueza e lucro para ambos os lados, e também para empresase pessoas envolvidas. A força dos dois setores, esportivo e de telecomunicações,é a prova da afirmação feita por Gastaldo (2004, 3) quando o autorcita: “Esporte e Mídias: dois filhos diletos da Modernidade”.Os meios de comunicação de massa surgem a partir da RevoluçãoIndustrial. Esta alcança a indústria de bens de consumo no século XIX, antesestruturada artesanalmente. Ocorrem, concomitantemente, modificações nomodo de produção de notícia e entretenimento e uma expansão do consumo.Tudo passa a ser definido como mercadoria, inclusive a informação.Os jornais começam a ser produzidos industrialmente junto ao crescimentoda população urbana e é neste contexto que aparece o primeiro meio de comunicaçãode massa: a imprensa. Um passo rumo ao surgimento de outrosmeios de comunicação típicos da sociedade moderna que, em seu conjunto,formam a Indústria Cultural 2 .No mesmo período, o futebol moderno aparece em terras inglesas. Deacordo com Ronaldo Helal, em seu livro Passes e Impasses: futebol e culturade massa no Brasil, em 1863 inicia-se a prática do esporte com regras similaresàs existentes nos dias de hoje. Helal afirma que a folga aos sábados, conquistadapelos operários, foi importante para tornar o futebol principal forma delazer da massa. Oficialmente, no Brasil, o futebol chega em 1894, trazido porCharles Miller. Aqui também há uma relação intensa com a Indústria Cultural.“Afinal de contas, a ‘cultura de massa’ no Brasil se plasmou e se desenvolveuquase concomitantemente ao surgimento, desenvolvimento e popularização dofutebol no país” (HELAL, 1997, 16).O futebol no Brasil é considerado um dos principais formadores da identidadenacional, conforme o antropólogo Roberto da Matta (1982, 21) expõeno capítulo Esporte na Sociedade: um ensaio sobre o futebol brasileiro: “Éparte do meu entendimento que quando eu ganho uma certa compreensãosociológica do futebol praticado no Brasil, aumento simultaneamente minhaspossibilidades de melhor interpretar a sociedade brasileira”. Ronaldo Helal, emseu livro Passes e Impasses: futebol e cultura de massa no Brasil, também enfatizaa importância do esporte, alçando-o à posição de “poderoso instrumentode integração social” (1997, 25).o futebol pode ser visto como um instrumento que permite aos brasileiros de todasas classes sociais, raças e credos, quebrar simbolicamente a hierarquia cotidiana -baseada na ética tradicional - e experimentar a igualdade e justiça social, elementosfundamentais da ética moderna (HELAL, 1997, p. 31).LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201053
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma partida de futebol? A relação entre televisão e futebol no cenário midiático contemporâneo.Futebol: informação e audiênciaA Revolução Industrial é o ponto inicial deste capítulo, já que o surgimentodos meios de comunicação de massa está atrelado a este acontecimento.Embora a revolução industrial tenha começado em meados do século XVIII, éno século XIX que ocorre uma mudança nos modos de produção e também nosde consumo, que afeta diretamente a forma de se produzir informação e entretenimento.A burguesia investe na fabricação em massa e tudo vira mercadoria.Umberto Eco aborda em seu livro Apocalípticos e Integrados o papelda cultura de massa na sociedade após a Revolução Industrial. Eco agrupa umconjunto de críticas à indústria cultural, chamados de ‘apocalípticos’, e outroque defende sua existência na sociedade moderna, os ‘integrados’. Dentre asacusações, algumas podem ser destacadas: “destroem as características culturaispróprias de cada grupo étnico”, “estão sujeitos a ‘lei da oferta e da procura”e “encorajam uma visão passiva e acrítica do mundo” (ECO, 1979, 40-41). Jáos integrados sustentam: “nasce inevitavelmente em qualquer sociedade de tipoindustrial” (ECO, 1979, 44), o excesso de informação seria algo benéfico paragrande parte da sociedade que não sabia de nada (ECO, 1979) e “têm introduzidonovos modos de falar, novos estilemas, novos esquemas perceptivos”,quebrando com a crítica de que são conservadores (ECO, 1979, 48).Na sequência, após apresentar argumentos prós e contras, Eco questionao teor da discussão e afirma: “O universo das comunicações de massaé - reconheçamo-lo ou não - o nosso universo” (ECO, 1979, 11). E ele defendeque o fio condutor para esse tema não é se a Indústria Cultural é boaou ruim, como discutem apocalípticos e integrados, mas, sim: “qual a açãocultural possível a fim de permitir que esses meios de massa possam veicularvalores culturais?” (ECO, 1979, 50).O problema da cultura de massa é exatamente o seguinte: ela é hoje manobradapor “grupos econômicos” que miram em fins lucrativos, e realizada por “executoresespecializados” em fornecer ao cliente o que julgam mais vendável, sem que se verifiqueuma intervenção maciça dos homens de cultura na produção (ECO, 1979, 50-51).Observa-se, portanto, que para Eco a questão problemática relativa aosmeios de comunicação de massa é a produção de conteúdo visando o lucro.Partindo da premissa de que a informação é a principal matéria-prima e tambémo produto veiculado pela mídia (seja na forma de notícia, entretenimento,imagem, foto, áudio, etc.), ela pode ser considerada, portanto, o objeto manipuladopor grupos econômicos na busca do lucro. O papel central da informaçãona sociedade contemporânea é abordado por Dan Schiller, economistapolítico, em seu livro How to think about information.Schiller define em sua obra a informação no cenário atual como sendomais que um simples recurso; ele a identifica como uma commodity. Schillerdiferencia os dois ao afirmar: “Um recurso é qualquer coisa para ser usada, aqualquer momento, em qualquer lugar, por qualquer um; mas uma commoditycarrega a marca da sociedade e da história em seu âmago” 3 (SCHILLER,2007, 8). Como o próprio Schiller exemplifica, recurso é tudo, como o soloLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201054
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