Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.menores em relação às dos filmes hollywoodianos. Para Booth (2001, 95), adiferença tem relação direta com o conteúdo: “o público pequeno dos filmes desurfe especializados significava que o potencial subversivo de uma cultura puramentehedonista permanece altamente restrito – ao menos naquele momento”.O autor confere papel central aos meios de comunicação na expansãodesta visão de surfe para além da Califórnia, entre fim dos anos 1950 e início dadécada seguinte: “a subcultura do surfe californiana se difundiu para a Austráliacom surfistas visitantes, filmes especializados e revistas”. Publicações como Surfer,Surfing World e Tracks surgiram com o objetivo específico de divulgar filmes,tanto na Austrália quanto nos EUA. Fizeram tanto sucesso que se tornaramperiódicas (BOOTH, 2001, 95-6, citação à 95; SCOTT, 2005).Dias (2008) defende a idéia de que não se pode dissociar a disseminaçãodo surfe e seu intenso caráter imagético da larga influência cultural que osEUA exercem sobre o Brasil e sua classe média a partir da segunda metade doséculo XX. Nos anos imediatamente anteriores à criação de Fluir, houve umasignificativa produção cinematográfica nacional em que a modalidade ocupavapapel relevante: Nas ondas do surf (1978), Nos embalos de Ipanema (1978),Menino do Rio (1981) e Garota dourada (1983), os três últimos dirigidos porAntonio Calmon. 35 Todos tiveram grandes bilheterias e contribuíram paradivulgar o esporte e seu estilo de vida junto ao público brasileiro. Somam-se aestes os filmes hollywoodianos exibidos no cinema e/ou na televisão.O cinema é fundamental para a configuração da subcultura do surfee para as disputas de valores no seu interior (STEDMAN, 1997; FISHER,2005). Isto pode ser percebido, por exemplo, pelas referências às projeções nasfestas e eventos noturnos durante os principais campeonatos: “No final, à noitena boite New 88 todos os surfers fizeram um encontro, onde rolavam todas e ondefoi exibido o filme Bali High [...]”. 36 Fluir divulgava e publicava anúncios desessões especiais de filmes ou vídeos estrangeiros de surfe que itineravam poralgumas cidades. 37 O anúncio de Follow The Sun, por exemplo, trazia datas elocais em São Paulo, Rio de Janeiro e Niterói e a previsão de sessões em Santose Porto Alegre. 38 O texto sobre Adventures Paradise elogiava detalhes técnicosda película e da empresa responsável por trazê-la ao país, além de descrever aatmosfera de tais sessões:ir ver um filme de surf é sempre um momento clássico, em que a rapaziada, num climade muita fissura e energia, acompanha os melhores surfistas do mundo em aventurasque são a matéria-prima dos sonhos de todos nós – ondas perfeitas, lugares exóticos emaravilhosos. (“Cinema – O filme Adventures Paradise”, Ivo Piva Imparato, Fluir n.7, dez 1984, 131.)Menos numerosos foram os anúncios de venda de vídeos oficiais de competições,como os das etapas do Circuito Mundial disputadas em Florianópolisem 1986 e 1987. 39O cinema recebe menos espaço que a música, mas está igualmente presentedesde o lançamento de Fluir, com um texto sobre o filme “The Wall”(por sinal intimamente ligado à música). 40 Segue-se a publicação intermitenteLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201097
Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.de artigos sobre filmes com temática ligada a esportes radicais até a criação deuma seção de vídeo em 1988, quando as locadoras de fitas VHS estavam namoda no Brasil, ao menos entre a classe média. 41 O mercado de vídeos de surfeinclui desde produções caseiras até vídeos oficiais de campeonatos e promocionais(financiados por patrocinadores). A circulação desse material varia muito,sendo mais restrita aos adeptos da cultura do surfe: em geral eram vendidospor reembolso postal e, em casos raros, encontrados em locadoras; havia exibiçõespúblicas nos moldes mencionados anteriormente; cópias oficiais ou piratascirculavam entre os membros da subcultura e eram assistidas nas residências,individualmente ou em grupo. Nos últimos anos, adventos como internet, digitalizaçãoe barateamento do custo de cópias aumentaram consideravelmenteo número de títulos e a circulação: são vendidos, vistos e baixados na internet econtinuam circulando por meios tradicionais (ofertados como brinde na comprade revistas ou alugados em locadoras especializadas).Na televisão, novelas que abordavam a cultura de praia – como ÁguaViva (1980) – atuaram na mesma direção. Fluir destacou a participação do atorpaulista Kadu Moliterno, que “passou a acompanhar surfistas para aprender seuscostumes e sua linguagem, uma vez que seu sotaque de paulista, filho de italianos,não era o que se poderia chamar de ideal para o papel” na novela O Pulo do Gato(1978), da Rede Globo. Moliterno tornou-se surfista e interpretou personagensligados ao esporte em produções como Partido Alto (1984), que teve seqüênciasfilmadas no Havaí, onde foi “acolhido” pelo “mundo do surfe”. Um artigodestaca a contribuição do artista por retratar o surfe “com uma imagem limpa epositiva”. Como resultado, “conseguiu prender-nos todos à televisão por uns bonsdois meses... E prá ver novela!” 42 Na edição seguinte, Carlos Lorch reiterou oselogios e estendeu-os: “Werner e Marcos, interpretados por Kadu Moliterno eAndré de Biase [sic], eram ali, para todos os surfistas, os embaixadores do surf parao mundo dos ‘outros’. E, como embaixadores, cumpriram bem seus papéis.” 43 Naseqüência, o próprio ator explicava o trabalho com André de Biasi no Havaí –foram responsáveis pela produção, contratação de equipe etc. – e ressaltava oprivilégio de trabalhar nas férias surfando no arquipélago, com as despesas pagaspelo empregador. 44 Nota-se o reconhecimento da televisão como mídia quefala a todos, daí a preocupação com a imagem dos surfistas: colocar dois delesno horário nobre da TV significa que aquela caracterização representará, paramilhões de pessoas, o que é o esporte. Desde então, o surfe apareceu em diversasnovelas – Top Model (1989-90), Vira-Lata (1996), Corpo Dourado (1998),Da Cor do Pecado (2004) 45 –, duas delas de autoria de Antonio Calmon.Na mesma TV Globo, o seriado Armação Ilimitada (1985-88) obtevegrande sucesso e introduziu uma série de inovações na linguagem televisivabrasileira (CANNITO E TAKEDA, 2003 46 ; MAIOR, 2006). Protagonizadopela dupla Moliterno e Biasi, que viveram Juba e Lula, surfistas e praticantes deesportes na natureza como montanhismo e mergulho, teve como coordenadorartístico e um dos roteiristas Antonio Calmon, contratado pela emissora porsua capacidade de comunicação com o público juvenil (RAMOS, 1995, 101).Armação combinava linguagens e temas de interesse dos jovens, como históriasem quadrinhos, rock, esportes radicais, cinema e música, e foi decisivoLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201098
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