Mezzaroba e Pires. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-americanos Rio/2007.Conforme Fausto Neto (2002, 12), ao se analisar o esporte, este deve serentendido como um “campo social”. E, ainda para este autor,O agendamento do esporte na esfera das mídias, no Brasil, por exemplo, é umaconseqüência de inúmeras e complexas ‘transações’ que se desenvolvem entre campos e,principalmente, no âmbito de vários deles, envolvendo interesses, diferentes agendas euma multiplicidade de significações de natureza simbólica. (Id.)As “movimentações” que ocorrem na sociedade seriam conseqüênciasdo agendamento realizado pela mídia, nos diferentes campos da sociedade,conseqüências estas do “tabuleiro das negociações” dos interesses, dos poderes e dasideologias pautadas pelas agendas.” (FAUSTO NETO, 2002)Didaticamente, de acordo com Fausto Neto (2002), há três grandes atoresque constroem as agendas e se posicionam de determinada maneira perantea organização do trabalho jornalístico: os promotores (instituições empreendedorasda atividade esportiva, de natureza pública e privada, como, por exemplo:agremiações, agências, atletas etc.); os divulgadores (constituídos pela esferamidiática, que faz a veiculação e divulgação dos acontecimentos) e os consumidores(os públicos, aficcionados etc., que assistem o que é disponibilizado pelosmeios de comunicação social). Seriam, conforme Fausto Neto,Três subconjuntos que reúnem uma enormidade de campos: esportivo propriamentedito, político, financeiro, promocional, sindical-associativo; o midiático, na suadiversidade de veículos; e, finalmente, o público na sua heterogeneidade social e dosgostos e preferências. (Ibid., 13)Entretanto, pode-se dizer que atualmente há uma relação muito próximaentre aquilo que Fausto Neto apontou como promotores e divulgadores, considerandoaquilo que Bucci (1998), citado por Pires (2002), identifica como umadas funções quase-ideológicas da mídia, ou “promotoras-da-notícia”. Trata-seda mídia como promotora e divulgadora daquilo que ela mesma produz ou,dito de uma forma mais <strong>completa</strong>:Está na cobertura esportiva a chave para desmontar uma das charadas do jornalismoem televisão. A charada é a seguinte: o telejornalismo promove – financia, organiza emonta – os eventos que finge cobrir com objetividade. É no esporte que esse fenômeno émais transparente. [...] As técnicas jornalísticas, dentro das coberturas do esporte pelaTV, são cada vez mais uma representação. Aquele espetáculo que aparece na tela não éuma notícia conseguida pela reportagem, mas uma encomenda paga. (BUCCI 4 , 1998citado por PIRES, 2002,44)O que está por detrás desta aproximação cada vez mais habitual entrepromotores e divulgadores são os interesses comerciais em detrimento da éticae da transparência dos veículos midiáticos, já que determinados interesses deconglomerados midiáticos acabam se sobrepondo a interesses coletivos que fossemem direção ao esclarecimento e à cidadania.Também se deve considerar, segundo Fausto Neto (2002, 15), que “ojornalista é receptor de outros discursos que se fazem na sociedade por parte deLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010131
Mezzaroba e Pires. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-americanos Rio/2007.outros campos.” Isto reforça o argumento utilizado por Bourdieu (1997), quandoo mesmo escreve que os nossos “informantes” também são “informados”,gerando uma homogeneidade nas informações.De acordo com Borelli & Fausto Neto (2002), o jornalismo institui oesporte de várias maneiras: cultuando o herói, criando “atores” do mundo esportivo,bisbilhotando a vida dos “olimpianos” (celebridades esportivas), analisandocompetições e conjecturas, “fofocando”, sondando fatos, causas e conseqüênciase orquestrando relatos sobre um fato particular (como uma despedidade um atleta, a conquista de um título, o fracasso etc.).Pode-se dizer que esta forma como o jornalismo institui o esporte nadamais é do que a própria “falação” sugerida por Umberto Eco (1984) e que Betti(1998, 68-9) apresenta de forma bastante <strong>completa</strong> e com vários exemplos:A falação informa e atualiza: quem ganhou, quem perdeu, quem é líder ou campeão,quem foi contratado ou vendido (e por quanto), quem se contundiu, quais são ossalários e os prêmios dos atletas. A falação conta a história das partidas, das lutas,das corridas, dos campeonatos: uma história que é sempre construída e reconstruídamediante palavras e imagens, pontuada pelos melhores momentos (...)A falação cria expectativas: qual time será campeão? Quem será o artilheiro? Qualjogador será titular? Quem vencerá? A falação faz previsões: quanto vai ser o jogo, quemdeverá vencer – com base na tradição, no retrospecto ou nas superstições e coincidências.Depois, explica e justifica: por que tal equipe ou atleta ganhou ou perdeu, foi primeiroou segundo, como e por que uma equipe ou atleta chega ao campeonato – invoca razõestécnicas, táticas e psicológicas, ou então a sorte, o azar ou o imprevisto (a “zebra”).Mas, principalmente, enfatiza que ‘esforço, dedicação e disciplina’ fazem os campeões,os grandes vencedores.A falação promete: emoções, vitórias, gols, medalhas. O centroavante recém-contratadopromete o título do campeonato, o presidente do Comitê Olímpico promete medalhas.A falação cria polêmica e constrói rivalidades: Foi impedimento ou não? Quem éo melhor? O atacante irá superar o seu marcador? O time irá vingar-se da derrotaanterior? (...)A falação critica: ‘ fala mal’ dos árbitros, dos dirigentes, da violência, da escassez degols, das rendas baixas, da falta de patrocinadores. A falação comenta o desempenhodas equipes, dos jogadores, dos árbitros. A falação elege ídolos: o ‘gênio’, o ‘craque forade série’, expõe suas vidas, mas também apresenta seus sucessores – a nova geração, ofuturo do esporte.Em épocas como a que presenciamos recentemente em 2007, o discursomidiático-esportivo reforçou ainda mais a questão da personificação. Buscaramseno âmbito esportivo aqueles atletas que são/poderão vir a ser os heróis esportivosbrasileiros. Acompanhando-se a cobertura realizada, pode-se dizerque, anterior à realização dos JPA-Rio/2007, tivemos um panorama discursivomidiáticoque enfatizou atletas como Falcão, o grande astro do futsal nacional;Leandrinho, o principal jogador de basquete brasileiro; a volta de Nalbert àseleção masculina de vôlei; a possível ausência do principal atleta brasileirode hipismo, Rodrigo Pessoa; a lesão de Diego Hipólyto, principal nome daginástica masculina; entre outros que foram exemplos claros das estratégiasLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010132
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