Maia e Oliveira. Futebol, Identidade e Memória: o Lance! do Consumo do Botafogo de 1962.campo mais amplo do que a determinação de que “algo é isso”. Ela é formadae transformada continuamente de acordo com as formas como somos influenciados,interpelados e afetados pelos processos desencadeados pelos sistemascultuais – longe de ser una e sacra.Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processosinconscientes e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento.Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanecesempre in<strong>completa</strong>, está sempre “em processo”, sempre “sendo formada”. (...) Assim, emvez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação(sic), e vê-la como um processo em andamento. (HALL, 2007, 38-39)A multiplicidade permite que o indivíduo crie vínculos variados e diferentes,até antagônicos, livres para ser temporários ou permanentes, sofrendoalterações com as novas situações apresentadas no papel que desempenha nomundo social e cultural onde está inserido. O campo de avaliação é rico e vasto,apesar do risco constante da simplificação fácil oferecida pelos estereótipos,modelos já prontos que facilitam a visão de vida no mundo atual, marcadopela aceleração e pelo excesso de informações. As identidades modernas estãodeslocadas e fragmentadas – fora do centro de onde conseguiam estabilizar omundo e permitir a utopia do indivíduo integrado. A estrutura aberta permitehaver história, dentro da possibilidade de novas articulações, produção denovos sujeitos na busca por sua recomposição, uma fantasia a ser perseguida,mas nunca alcançada. O indivíduo foi libertado de seus apoios estáveis nastradições e nas estruturas, o que leva a uma disputa de poder porque o “eu” éapresentado em diferentes situações sociais, gerando conflitos entre os diferentespapéis e a necessidade de negociá-los.Em âmbito maior, há a influência na formação das identidades nacionais,que se transformam no interior da representação do indivíduo nasociedade. Neste ponto, Hall (2007) recorre ao conceito de “comunidadeimaginada” de Benedict Arnold (1983): a nação é uma entidade políticae um sistema de representação cultural, que usa a narrativa para unir aspessoas em torno da ideia de participação nesta comunidade simbólica,compartilhando valores, representações e sentidos, organizando e influenciandoas ações dos integrantes.As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas tambémde símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso (sic) – um modo deconstruir sentidos que influencia e organiza tanto as nossas ações quanto a concepçãoque temos de nós mesmos (...) As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre “anação”, sentidos com o quais podemos nos identificar (sic), constroem identidades.Estes sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memóriasque conectam seu presente com seu passado e imagens que delas são construídas.(HALL, 2007, 50-51)Hall (2007) lembra que a narrativa da cultura nacional é contada a partirda narrativa da nação, da ênfase nas origens, na continuidade, na tradiçãoe na intemporalidade, na invenção da tradição, no mito fundacional e no folkLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010153
Maia e Oliveira. Futebol, Identidade e Memória: o Lance! do Consumo do Botafogo de 1962.puro, original. A cultura nacional, portanto, é uma estrutura do poder cultural,constituindo um dispositivo discursivo que usa a diferença (nós não somos“o outro”) para costurar a unidade da identidade específica. Há o reforço deidentidades locais, como forma de resistência. O pós-moderno cultural é marcadopor fluxos culturais e o consumismo entre as nações, que criam possibilidadesde “identidades partilhadas”, clientes para os mesmos bens e serviços,públicos para as mesmas mensagens e imagens.Woodward (2000) defende que as identidades só adquirem sentido pormeio da linguagem e dos sistemas simbólicos que as representa (isso cria anarrativa da representação que delimita o nós/eles, que classificam o mundoe as relações no seu interior). E segundo Silva (2000), esta relação de estreitadependência reforça que os padrões de avaliação são produzidos no mundosocial e cultural, fabricados no contexto linguístico, devem ser nomeadose instituídos como tais. Por isso, herdam a instabilidade da linguagem. Aidentidade híbrida não é nenhuma das anteriores, mas uma nova identidadeaberta a estas e outras influências.Hall (2000) faz o contraponto entre a identidade baseada numa origemcomum ou características partilhadas com outros grupos e pessoas a partir deum mesmo local e a identidade como algo sempre “em processo”, uma fantasiade incorporação. O autor lembra que a identidade tem sempre um excesso, umalgo a mais. Por isso, considera as identidades como pontos de apego temporárioàs posições-de-sujeito, construídas pelas práticas discursivas. No mundoatual, o jornalismo é um dos instrumentos que serve de ponte, intermediário,criando conceitos, padrões e exibindo uma sociedade que pode nem mesmo sera realidade, mas uma forma de vê-la.Jornalismo Esportivo: o que ser, eis a questão.Vizeu (2004) avalia a importância da construção do discurso jornalístico,através da teoria da enunciação, que considera que a linguagem é ação e não ummero instrumento de comunicação – o dialoguismo é o princípio constitutivo darealidade e da condição de sentido do discurso. O interlocutor é fundamental:um enunciado deve se levar em conta a orientação para o outro. E se a língua éfinita na definição de suas regras, também é verdade que são infinitas as possibilidadesmodalizadoras de uso da língua, pela mediação da palavra, pelo sujeito.Compartilhamos da opinião de Fausto Neto para quem toda notícia se constitui umaespécie de formação substitutiva. Ou seja, é algo que tenta se colocar no lugar de outracoisa que lhe é exterior. Sendo assim, o dito tem uma objetivação expressa em formade matéria significante (mensagem) (...) No jornalismo, a linguagem não é apenasum campo de ação, mas a sua dimensão constitutiva. É a condição pela qual o sujeitoconstrói um real, um real midiatizado. Nesse sentido, a enunciado jornalístico ébastante singular em função deste campo desloca-se sempre como um lugar que retratae cria o lugar do outro, a partir de leis e regras determinadas. (VIZEU, 2004, 3-4)De acordo com Vizeu (2004), a enunciação é produzida com base nosefeitos ofertados por outros códigos e vozes, múltiplas polifonias vindas deLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010154
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