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edição 33 completa - Logos - UERJ

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Maia e Pereira. Apontamentos sobre a relação entre liberdade de imprensa e identidade profissional dos jornalistas.premissa: o jornalista trabalha em função do interesse público; logo tudo o queele diz é importante; e, por isso, ele não deve ser cerceado, pois isso seria umatentado contra toda a sociedade. Tal silogismo garante ao jornalista um statussocial extraordinário. Primeiro porque legitima suas ações. Segundo porque lhepermite se posicionar na sociedade como alguém que está acima dos interessesde grupos específicos. Se o jornalista serve à coletividade, ele deve se balizar porvalores universais. E essa, na verdade, seria a função do intelectual, no sentidomais estrito da palavra, ou seja, o indivíduo que intervêm no espaço público emdefesa dos direitos do Homem. Esse tipo de vinculação é antigo porque em váriosmomentos os dois grupos – jornalistas e intelectuais – se confundiam. Claro,atualmente poucos jornalistas se assumem intelectuais, mas os traços dessa relaçãoainda perduram e estão subjacentes à ideia do jornalismo enquanto atividadehumanística e intelectual. Aliás, para muitos, negar essa dimensão intelectualsignificaria o mesmo que renunciar ao verdadeiro status social de jornalista.A noção de liberdade de imprensa é também importante para a construçãoda identidade profissional do jornalista na medida em que está subjacente àidéia de objetividade. Para se constituir como campo profissional, o jornalismoteve de se separar da política e da literatura. Isso, por um lado, envolveu a definiçãode um conjunto de técnicas, como a reportagem, a entrevista, a técnicado lead e da pirâmide invertida. Implicou também em um lento processo derejeição do papel político-partidário desse estatuto. Se o jornalista não era maisum político ou um porta-voz de interesses dos grupos sociais, era imprescindívelque a sua atividade fosse considerada como livre de qualquer censura estatale doutrina ideológica. Para isso, a noção de objetividade possuía (e possui) umforte componente de legitimação porque afastaria dos discursos sobre a profissãoqualquer tipo de acusação de manipulação da realidade pelo jornalista.“Amparados na fórmula ‘Eu me limito a contar o que sucede’ o jornalista cria erecria (com sua mentalidade, com sua capacidade, com seus compromissos), umarealidade que, sim, pertence a este mundo e que em muitos casos é o mundo toutcourt” (ORTEGA; HUMANES, 2000, 20).Ao se apropriar da noção de objetividade, o grupo de jornalistas podeassumir um novo perfil profissional: o do informante ou mediador sobre o queacontece no mundo. Ele passa a ser visto como o único interlocutor legítimoentre o mundo social e o público, pela sua capacidade de descrever de formaindependente o que acontece. Nesse sentido, percebemos uma vinculação forteentre os discursos sobre liberdade e as dimensões técnica e deontológica sobrea profissão. Podemos resumir esse tipo de apropriação da seguinte forma: se ojornalista, para exercer corretamente o seu papel de informante precisa ser livre énecessário que tal função seja exercida com responsabilidade. E o melhor modode “aprender” a ser responsável é a aquisição (nas faculdades) de um conhecimentotécnico sobre a prática profissional. Sem esse tipo de formação cair-se-ia norisco de uma instrumentalização política e econômica da produção jornalística.E, quem faz isso, não pode ser considerado um jornalista de verdade.Dessas diferentes definições sobre o de jornalista, podemos inferir quea apropriação dos discursos sobre liberdade pelo grupo profissional é sempreLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010199

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