Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma partida de futebol? A relação entre televisão e futebol no cenário midiático contemporâneo.ou a água, enquanto commodity é aquilo que pode ser “produzido de modocrescente por trabalho assalariado dentro e para o mercado” (SCHILER, 2007,8). Schiller defende, portanto, a informação como uma commodity, ao considerar:lucro gerado para as empresas que a produzem, essenciais para definir oque será produzido (algo como pesquisa de mercado) e também para adicionarvalor no momento da venda/circulação.Recentemente, Rupert Murdoch, diretor-geral da News Corporation, empresaque comanda vários grandes jornais pelo mundo, como o novaiorquinoThe Wall Street Journal e o britânico The Times, deu declarações que demonstramo alto valor da mercadoria informação. Em entrevista à agência de notíciaFrance Presse, reproduzida pela FolhaOnline, declarou em fevereiro de 2010:“Conteúdo não é apenas o rei, é o imperador de todas as coisas digitais” 4 . A frasese refere às inovações digitais que, de acordo com ele, sem conteúdo de qualidade,não serviriam para nada. Murdoch também criticou o Google. O usuáriodo localizador de sites tem acesso às notícias produzidas pelos jornais eletrônicosde Murdoch, não paga nada à fonte e ainda ganha dinheiro ao patrocinar cadabusca (MURDOCH, 2010) 5 . Esse tipo de acesso, de acordo com o diretor-geralda News Corporation, será em breve restrito e também cobrado.No Brasil, a discussão pelo direito de veicular informação e o seu custotambém é assunto polêmico. Em matéria na Folha de São Paulo, no cadernode Esportes do dia 10/06/2010, uma reportagem apontava que o Senado haviaderrubado restrições ao uso de imagens de competições. De acordo com anotícia, seria de interesse principalmente da TV Globo, emissora aberta quedetém os direitos dos principais campeonatos esportivos nacionais, restringirque outras empresas veiculem esse conteúdo sem pagar. O relator do projeto,senador Álvaro Dias (PSDB-PR) deu uma declaração que comprova a importânciada informação nos meios de comunicação: “Quem não tem direito detransmissão pega vários trechos de jogos no final de semana e faz um programade uma hora sem pagar nenhum tostão” 6 (MENEZES, 2010, D21).Outro pesquisador, Dallas W. Smythe, que também atuou na área daEconomia Política da Comunicação, descartou a informação como o principalproduto de um meio de comunicação de massa. Em seu artigo Communications:blindspot of western marxism, Smythe condiciona essa afirmação a uma visãolimitada de marxistas ocidentais e a uma visão idealista da burguesia. Para ele,a resposta da pergunta - “qual o tipo de commodity de comunicação em massasustentada pela publicidade no capitalismo monopolista?” 7 (SMYTHE, 1977,3) - não é informação e, sim, audiência (ou leitor, no caso de texto). Smythetrabalha em seu texto também com o conceito de commodity, mas, em suaconcepção, não é a informação ou a troca comunicacional que tem valor demercadoria e, sim, a audiência. Para Smythe, a audiência é o produto vendidopara os anunciantes e que gera lucro para as empresas.O autor ainda afirma que o conteúdo veiculado pelos meios de comunicaçãode massa funciona como uma espécie de “aperitivo” 8 , que atraio público. Gasta-se tempo em frente à TV enquanto se ouve anúncios publicitários.“Embora a mídia de massa tenha o papel principal na produçãoLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201055
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma partida de futebol? A relação entre televisão e futebol no cenário midiático contemporâneo.do ponto de vista da indústria da consciência, o público paga diretamentemuito mais para ter o privilégio de estar na audiência que a mídia demassa” 9 (SMYTHE, 1977, 3).Seria, portanto, na visão de Smythe, o futebol um “aperitivo” para atrairaudiência? Se a resposta for sim, certamente pode ser considerado um “aperitivo”bem temperado. Basta, por exemplo, considerar o número de fãs do futebolespalhados pelo mundo: conforme os dados estatísticos apresentados naintrodução desse trabalho, mais da metade da população mundial assiste, regularmente,a partidas de futebol (VIVIANA, 2010, 114). Outro exemplo impressionante,retirado da mesma revista: “em 1997, no Reino Unido, eram 180os programas de televisão com mais de 15 milhões de espectadores; dez anosdepois, somente três tinham tal poder, e os três eram de esportes” (VIVIANA,2010, 114) 10 . Na Copa de 2006, o número total de telespectadores foi de 26,2bilhões de pessoas, o dobro de pessoas que assistiram pela televisão à Copa de1986 (CARMONA e POLI, 2006, 278). Vendo esses números fica fácil entendertanto o alto preço pago pelas emissoras pelos direitos de transmissão, dadosque serão discutidos mais à frente no texto, e também as disputas envolvendodetentores da informação e emissoras que não pagaram pelo conteúdo.Dênis de Moraes, em seu artigo Cultura tecnológica, mídia e consumoglobalizado, defende a posição dos meios de comunicação de massa como reprodutoresdo sistema capitalista. Ele analisa as diversas facetas da indústriacultural, citando o modus operandi dos grandes conglomerados, quais mensagenssão veiculadas para garantir a audiência, quais os desafios e estratégiassão utilizados diante da multiplicidade de canais e da convergência dos aparatosmidiáticos e identifica, no consumo, a nova maneira de diferenciaçãoda sociedade mundial.Em seu texto, Moraes relaciona diretamente o poder da mídia e suainfluência no crescimento do esporte. A associação entre esses dois poderosossetores tem como consequência direta o aumento de aficionados nas modalidadesque são transmitidas, na criação de ídolos que geram lucros para seuspatrocinadores e também na venda de cotas para anunciantes que querem atingira massa de fãs vidrados em frente à televisão, por exemplo, que enquantotorcem para seu time de coração também tem acesso a sugestões de consumo.Os Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, renderam quase US$5 bilhões com direitos detransmissão, patrocínios, anúncios em programas, merchandising, ingressos e produtosalusivos. Resultados até modestos se lembrarmos que o futebol mundial movimentoUS$250 bilhões por ano (MORAES, 2008, 117-118).Rupert Murdoch é citado por Dênis de Moraes quando o diretor-geral daNews Corporation afirma a importância do esporte na geração de lucros para osmeios de comunicação de massa: “O esporte é o melhor chamariz para a televisão.Dá sobrecarga ao restante da programação, pois incentiva os telespectadores a assinaremTV a cabo ou por satélite” (MURDOCH in MORAES, 2008, 118)Observa-se, portanto, a força dos meios de comunicação na sociedademoderna e o caráter econômico existente nas mensagens por elesLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201056
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