Mezzaroba e Pires. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-americanos Rio/2007.O primeiro paradigma dos estudos dos efeitos da mídia surgiu no períododa Primeira Guerra Mundial, quando os pesquisadores procuravam compreenderos efeitos da propaganda neste período, em função da efetivação dasociedade de massas e ao crescente isolamento do indivíduo. Era o chamadoparadigma da teoria hipodérmica, o qual considerava que no processo comunicativoexistia um sujeito ativo que emitia o estímulo e um sujeito passivo quese “impressionava”. (TRAQUINA, 2001; WOLF, 2001).Como continuidade deste paradigma, surgiu o paradigma dos efeitos limitados,criado pelo sociólogo norte-americano Paul Lazarfeld e seus colegasao observarem o poder de persuasão (efeitos específicos e de curto prazo) dascampanhas veiculadas pelos meios de comunicação, modelo que dominou ocampo da comunicação por algumas décadas, principalmente no princípio dosanos 60. (TRAQUINA, 2001)Atualmente se acredita que os efeitos da mídia se dão de forma acumulativa,como conseqüências de longo prazo (efeitos indiretos). Dentro deste novoparadigma é que se insere o conceito de agenda-setting, o qual surgiu no iníciodos anos 80, com a transição nos estudos de comunicação de massa. Seus criadores,MacComb e Shaw (EUA) consideram que:Em consequência da acção dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação,o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementosespecíficos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dosseus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seupróprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdoinclui uma importância que reflecte de perto a ênfase atribuída pelos mass media aosacontecimentos, aos problemas, às pessoas. (SHAW apud WOLF, 2001, 144)Seu surgimento aconteceu por meio de uma pesquisa publicada em1972, em que McCombs e Shaw selecionaram cinco jornais diários e analisaram,paralelamente, as opiniões desses veículos comunicacionais com asopiniões de uma amostra composta por cem eleitores indecisos. O assunto eraa eleição presidencial norte-americana de 1968, e eles perceberam que haviaforte correlação entre a opinião dos eleitores com o que a mídia atribuía comoimportante (o grau de importância que os meios de comunicação atribuíam adeterminados assuntos). (TRAQUINA, 2001)Na classificação proposta por Ruótolo (1998, 158), a perspectiva da agenda-settingestaria incluída nas perspectivas atitudinais – “pauta” –, cujo foco deinteresse está “na eventual habilidade dos meios de comunicação de influenciara opinião dos receptores. As atitudes são definidas como sendo a predisposição doindivíduo de agir de uma determinada maneira.”De acordo com Santaella (2001), a formação da realidade social, na perspectivada agenda-setting, é desempenhada através dos editores e programadores,pela responsabilidade que têm na seleção e classificação das informações.Ao constituírem este campo jornalístico, tais profissionais 2 geram, em seuconjunto e com outras relações, “um produto conhecido como a informação.”(TRAQUINA, 2001, 20).LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010127
Mezzaroba e Pires. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-americanos Rio/2007.Informação esta que é “tratada” por algum ator que presencia certoacontecimento e ajuda a torná-lo público para a população em geral. Aí decorrea idéia de que há determinados interesses em promover certas ocorrências(ou ocultá-las) e que existe uma intencionalidade que está ligada a uma partesignificativa de acontecimentos.Esta maneira de se “reconstruir a realidade”, característica do jornalismo,também é tratada por Bordenave (2004), autor que atribui aos repórteres estatarefa, quando, no seu trabalho com a notícia jornalística, reconstroem a realidadeselecionando “apenas os aspectos que lhes parecem relevantes, deixando defora outros” (89-90) e, ao fazerem isto, acabam projetando no material produzidoseus próprios significados conotativos sobre o evento que estão cobrindo.Ainda sobre esta maneira que a mídia em geral, mais especificamente seus diretores,têm em apresentar a realidade às pessoas, Bordenave (2004, 90) afirma que:Os meios que manejam signos visuais e auditivos, tais como o cinema e a televisão,possuem ainda maior margem de reconstrução da realidade do que os meios escritos.Eles podem chegar a criar uma “atmosfera” (romântica, de terror, de comicidade) quepredispõe o público a perceber a realidade da maneira desejada pelo diretor.Betti (1998, 35) também considera este trabalho de produção midiáticacomo algo que vai além da simples apresentação da realidade, mais especificamenteno âmbito esportivo, ao afirmar que “embora a mídia afirme apresentaros eventos esportivos objetivamente, alegando reproduzir a realidade, a fase deprodução, antes que o programa alcance o telespectador, envolve considerável construçãoseletiva e interpretação.”Ainda sobre esta “construção da realidade” na perspectiva da agendasettinge o campo esportivo, o mesmo autor citado anteriormente afirma que:A televisão não apenas seleciona eventos esportivos e imagens sobre eles, mas fornecedefinições do que foi selecionado; ela interpreta os eventos para nós, fornece umaestrutura de significados na qual o evento faz sentido. Ou seja, a televisão não consistemeramente em imagens, também envolve comentários sobre as imagens, que explicamo que estamos vendo. (CLARKE E CLARKE, 1982 citado por BETTI, 1998, 61)Outra característica da agenda-setting é que ela “não defende que os massmedia pretendam persuadir” (SANTAELLA, 2001, 36), mas têm a pretensãode apresentar ao público aquilo sobre o qual é necessário ter uma opinião ediscutir. Seu pressuposto fundamental “é que a compreensão que as pessoas têmde grande parte da realidade social lhes é fornecida, por empréstimo, pelos massmedia”. (Ibid, 37)Wolf (2001) apresenta três características importantes da relação entre aação da mídia e o conjunto de conhecimentos sobre a realidade social, que são:a acumulação (poder da mídia para criar e manter a relevância de um tema); aconsonância (mensagens mais semelhantes que dessemelhantes); e a onipresença(difusão quantitativa dos meios de comunicação de massa e o caráter particulardo saber público).LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010128
- Page 3 and 4:
CATALOGAÇÃO NA FONTEUERJ/Rede Sir
- Page 5 and 6:
LOGOS - EDIÇÃO Nº 33 - VOL 17, N
- Page 7 and 8:
165176191Temas LivresTango, Samba e
- Page 9 and 10:
De qualquer modo, a iniciativa da L
- Page 11 and 12:
Estudos Sociais do Esporte:vicissit
- Page 13 and 14:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 15 and 16:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 17 and 18:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 19 and 20:
Gastaldo. Estudos Sociais do Esport
- Page 21 and 22:
Futebol (argentino) pela TV: entre
- Page 23 and 24:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 25 and 26:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 27 and 28:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 29 and 30:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 31 and 32:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 33 and 34:
Alabarces e Duek. Fútbol (argentin
- Page 35 and 36:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 37 and 38:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 39 and 40:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 41 and 42:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 43 and 44:
Lovisolo. Mulheres e esporte: proce
- Page 45 and 46:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 47 and 48:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 49 and 50:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 51 and 52:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 53 and 54:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 55 and 56:
Marques. A função autor e a crôn
- Page 57 and 58:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 59 and 60:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 61 and 62:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 63 and 64:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 65 and 66:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 67 and 68:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 69 and 70:
Aguiar e Prochnik.Quanto vale uma p
- Page 71 and 72:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 73 and 74:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 75 and 76:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 77 and 78:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 79 and 80:
Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 81 and 82: Costa. Futebol folhetinizado. A imp
- Page 83 and 84: A visão bipolar do pódio:olímpic
- Page 85 and 86: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 87 and 88: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 89 and 90: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 91 and 92: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 93 and 94: Novais. A visão bipolar do pódio:
- Page 95 and 96: O surfe brasileiro e as mídiassono
- Page 97 and 98: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 99 and 100: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 101 and 102: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 103 and 104: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 105 and 106: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 107 and 108: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 109 and 110: Fortes. O surfe brasileiro e as mí
- Page 111 and 112: Blogs futebolísticos no Brasil e n
- Page 113 and 114: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 115 and 116: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 117 and 118: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 119 and 120: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 121 and 122: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 123 and 124: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 125 and 126: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 127 and 128: Prudkin. Blogs futbolísticos en el
- Page 129 and 130: O agendamento midiáticoesportivo:c
- Page 131: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 135 and 136: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 137 and 138: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 139 and 140: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 141 and 142: Mezzaroba e Pires. O agendamento mi
- Page 143 and 144: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 145 and 146: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 147 and 148: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 149 and 150: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 151 and 152: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 153 and 154: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 155 and 156: Silveira e Esteves. Entre a memóri
- Page 157 and 158: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 159 and 160: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 161 and 162: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 163: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 166 and 167: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 168 and 169: Maia e Oliveira. Futebol, Identidad
- Page 170 and 171: Tango, Samba e IdentidadesNacionais
- Page 172 and 173: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 174 and 175: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 176 and 177: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 178 and 179: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 180 and 181: Helal e Lovisolo.Tango, Samba e Ide
- Page 182 and 183:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 184 and 185:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 186 and 187:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 188 and 189:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 190 and 191:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 192 and 193:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 194 and 195:
Caiafa. Segunda Linha: comunicaçã
- Page 196 and 197:
Apontamentos sobre a relaçãoentre
- Page 198 and 199:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 200 and 201:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 202 and 203:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 204 and 205:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre
- Page 206 and 207:
Maia e Pereira. Apontamentos sobre