Costa. Futebol folhetinizado. A imprensa esportiva e os recursos narrativos usados na construção da notícia.torna necessário: “um título de apelo forte, bem nutrido de emoções, surpresaslúdicas, jogos visuais, artifícios linguísticos. O título ganha vida de consumocomo qualquer anúncio publicitário” (MEDINA, 1978, 139). Na edição dodia seguinte à conquista do pentacampeonato da seleção brasileira, por exemplo,o jornal O Globo teve como manchete de seu Caderno de Esportes algopróximo a um jingle de propaganda: “Todo mundo tenta, mas... só o Brasil épenta” (30/11/2009). Por outro lado, esse flerte com a publicidade é constantementeusado justamente porque estabelece “um contato direto com o públicohabituado à linguagem de consumo” (BUCCI, 2009, 192).Certamente se faz necessário pensar nos limites das estratégias narrativasusadas com intenções quase que exclusivamente mercadológicas. Háquestões éticas a serem levadas em consideração, afinal a imprensa é um forteinstrumento de “definição da realidade em diversos setores da sociedade”(GASTALDO, 2002, 69). Entretanto, é válido atentarmos para o fato de quegrande parte da cobertura da imprensa esportiva é respaldada pelos receptoresde suas mensagens, o que significa dizer que muito do que ela produz respondea nossas próprias expectativas (LOPES, 1994). A permanência da uniãoentre informação e entretenimento aponta para a boa aceitação desse tipo deabordagem, o que também pode ser depreendido através da presença do diárioesportivo Lance! 14 na lista dos 10 jornais mais vendidos do país. 15 Sendo assim, arelação imprensa, espetáculo esportivo e público precisa ser pensada em termosde cicularidade e não somente em temos de manipulação, pois “mídia, público,ídolos, fãs, indivíduos anônimos e celebridades, artista e audiência (...) coexistemdentro de um universo integrado onde uma parte não faz sentido sem aoutra” (HELAL, 2001, 151).Mas quais seriam os limites daquele “culto ao superlativo” (NEVEU,121, 2006) notável em grande parte da imprensa esportiva? Essa pergunta nãoé muito fácil de ser respondida, entretanto para compreendermos o fenômenoseria pouco produtivo simplesmente optarmos entre uma visão apocalíptica ouintegrada (ECO, 1998). Embora o estilo melodramático e folhetinesco tenhasuas limitações e de fato seja passível de críticas e ponderações dado ao seuapego aos lugares-comuns e narrativas em que a complexidade não lhe cabe, épreciso ressaltar que narrar os esportes, hoje em dia, significa narrar um objetoque movimenta cifras bilionárias, um objeto em que a emoção ocupa um espaçosimbólico importante e que capitaliza a atenção de um público massivo que,por sua vez, costuma se identificar e assimilar, com mais facilidade, aquilo quelhe é familiar (OROZ, 1992, 29).Como já afirmou o dramaturgo e escritor Victor Hugo a multidão “exigesobretudo o teatro de sensações” (apud, SILVA, 2005) e esse teatro é o que nostem sido oferecido por parte da imprensa esportiva nacional, especialmente, ado eixo Rio-São Paulo fonte da análise deste artigo.LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201073
Costa. Futebol folhetinizado. A imprensa esportiva e os recursos narrativos usados na construção da notícia.Notas1O melodrama é a matriz do romance folhetim, ou simplesmente, folhetim comose convencionou chamar. O melodrama é uma manifestação artística própria doteatro e caracterizava-se, sobretudo, pela preocupação em cativar o leitor, apelandoàs suas emoções. Daí a ênfase nos efeitos dramáticos – o que incluía a música - empersonagens tipificados e, portanto, familiares ao grande público, e um apego ao quefosse excessivo (grandes tragédias, grandes paixões etc). Os autores de folhetim farãouso dessas técnicas até mesmo porque muitos desses autores eram nomes do teatrocomo, por exemplo, Alexandre Dumas, Eugene Sue etc. Havia entre melodrama efolhetim, o que Marlyse Meyer denominou de “estética do ir e vir” (1996, 61), ou seja,muitos folhetins eram inspirados em melodramas e muitos folhetins se transformavamem melodramas encenados em teatro.2É importante lembrar que nessa época a ficção, principalmente o romance, passavapor um período de grande popularidade. Sobre o tema ver Ian Watt, A ascenção doromance. Companhia das Letras, 1990.3Como foi dito, folhetim designava um espaço físico da página do jornal, porém devidoao grande sucesso, as ficções seriadas nele publicadas passaram a ser denominadasgenericamente de folhetim.4Fait divers é como se costuma chamar a seção dos jornais na qual estão reunidos osincidentes do dia a dia, geralmente as mortes, os acidentes, os suicídios.5No Brasil, até a década de 1940, grande parte dos jornais mantinha relações estreitascom grupos políticos sendo muitas vezes financiado pelo Estado. Na década de1950, esse quadro começa a mudar na medida em que a imprensa gradativamentepassa a ganhar autonomia, passando a ter como fonte de sustento a publicidade e,conseqüentemente, a venda de jornais (Barbosa, 2003, 8).6Embora se denomine imprensa “esportiva”, no Brasil é o futebol que ocupa grandeparte do espaço concedido às matérias esportivas.7Sobre esse aspecto ver Luiz Henrique de Toledo. Lógicas do futebol. Hucitec, 2002.8Vale mencionar que no Brasil, as telenovelas – filhas do melodrama e do folhetim– foram inseridas na programação de algumas emissoras de TV com a finalidade deaumentar a audiência, o que se evidencia no caso da TV Excelsior que na décadade 1960 fez modificações na sua grade, incorporando programas com mais apelopopular como os “shows de auditório (Bibi Ferreira e Moacyr Franco) e as telenovelas”(Ramos; Borelli, 1988, 59).9Essa matéria consistiu em depoimentos de um grupo formado pelos técnicos CarlosAlberto Parreira e Jair Pereira, e pelo ex-jogador e comentarista esportivo, Gérson (JS,27/06/1986).10Essa pergunta foi transformada em livro por Fábio Aguiar. 2006: por que perdemoso hexa? RJ: 2006.11O melodrama é gênero teatral cujo auge se deu no período da Revolução, períodoem que grande parte da França sentia a necessidade de exaltar valores como honra,família e coragem. A punição daqueles que representavam o lado oposto de ummundo idealmente virtuoso, como por exemplo os vilões, personagens cujo castigo –inevitável ao final da história – saciava a sede de justiça de um público que vivia umcotidiano marcado por uma atmosfera de crise (Thomasseau, 2005, 13).LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201074
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