Mezzaroba e Pires. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-americanos Rio/2007.Da mesma forma, ao se referir sobre essa relação entre mídia e realidade,Bourdieu (1997, 30) comenta sobre o fato de as mesmas informações circularementre diversos veículos de comunicação (como num círculo vicioso), denominadopor ele como circulação circular de informação. Para ele, “os produtosjornalísticos são muito mais homogêneos do que se acredita.” Essa “homogeneidade”denunciada pelo autor pode servir (ou influenciar) aquilo que propõe ahipótese da agenda-setting, ou seja, colocar em pauta, de forma coesa, os temasda ordem do dia.Fausto Neto (2002) comenta que o campo midiático seria a principalinstituição da atualidade em nossa sociedade, tendo o poder de nos dirigir, deforma estratégica, a agenda nossa de cada dia, já que há uma multiplicidadedas agências. Graças a essa “força”, nossas vidas seriam conseqüências dessepoder agendador. Apesar disso, é reconhecido que mesmo esse poder tem suaslimitações. Segundo o mesmo autor, “é certo que os mídias tenham o poderde agenda e igual poder de nos ofertar temas para pensar. Porém, não significadizer que pensamos exatamente nos formatos/enquadramentos sugeridos por eles.”(FAUSTO NETO, 2002, 11-2)Conceitualmente, as agendas, de acordo com Fausto Neto (2002, 13), “sãodispositivos de poder que os campos põem em movimento para se fazer poder à suamaneira”. Já o agendamento “é um trabalho discursivo que passa pelo modo dedizer de cada veículo, e é também nessa peculiaridade do modo de tratar a realidadecom que cada jornal cria vínculos com seu leitorado, e também a maneira pela qualoutros campos sociais atribuem confiabilidade ao dito do jornal.” (Ibid., 16)Ainda com relação às informações veiculadas pelas mídias, atualmentea teoria da agenda-setting pode ajudar a compreender a veiculação de notícias.Segundo esta teoria, (agenda – pauta, ordem do dia; e setting – arranjo, disposição,relação entre elementos que não é visual) não há uma intervenção diretada mídia no comportamento dos indivíduos, o que ocorre é uma certa influênciano modo como construímos/percebemos a imagem da realidade.Traquina (2001) procura, em sua obra, fazer algumas atualizações em relaçãoao conceito do agendamento. Muito mais abrangente que a simples relaçãocausal entre a agenda jornalística e a agenda pública (como era logo após o surgimentodesta hipótese teórica – em que se preconizava a influência da primeirasobre a segunda, através do destaque dado a certas questões como notícias), oconceito de agendamento, segundo o autor, foi cada vez mais se alargando e complexificando,tornando-se útil não só ao campo político, mas também às outrasquestões de nosso cotidiano, como as relativas ao esporte, à economia etc.Uma dessas atualizações que abarcam o conceito de agendamento refere-seao que Traquina (2001) chama de enquadramento do acontecimento, ou seja, aprópria construção e realização do processo de agendamento. Neste processopode ocorrer uma cobertura de saturação, “isto é, a proeminência do acontecimentocomo notícia (destaque) e a continuidade como assunto noticiável.” (Ibid., 42)E é desta maneira que acreditamos que os JPA/Rio-2007 foram tratados,sendo enquadrado como um grande evento esportivo que estava prestes aLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010129
Mezzaroba e Pires. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-americanos Rio/2007.acontecer no Brasil, gerando temas das mais variadas esferas – política, economia,sociedade, engenharia, educacional, cultural e também esportivo, entreoutros – e configurando-se como uma temática cuja cobertura, se lembrarmos,repetia-se cotidianamente e de maneira intensa nos mais variados veículos midiáticosbrasileiros.O agendamento esportivo e os JPA/Rio-2007Vale a pena mencionar, neste momento, de forma apenas pontual, paraexemplificar, que o agendamento esportivo realizado em torno dos JPA/Rio-2007, através do discurso midiático-esportivo (e de outras áreas como economia– infra-estrutura, segurança e turismo, e política – participação das trêsesferas governamentais na promoção do evento) enquadrou o referido eventocomo um grande espetáculo, talvez com proporções muito maiores do que narealidade ele se prestava. Também ficou manifesta a cobertura de saturação emrelação às notícias sobre os Jogos (com informações antes, durante e as repercussõesapós seu término).A natureza da questão é outra característica apontada por Traquina (2001)no que se refere ao processo de agendamento, por considerar que “o efeito deagendamento está relacionado com a natureza da questão.” (41) Assim, o efeitoda agenda midiática varia segundo a natureza do assunto, pois determinadostemas são mais visíveis e com relação direta na vida das pessoas do que outrosassuntos mais distantes, os quais as pessoas não têm uma experiência direta.Considerando o esporte como um tema tratado no seu sentido polissêmico3 e que acaba fazendo parte do cotidiano de uma grande parcela da população,podemos dizer que ele passa cada vez mais a ter uma grande visibilidade,e assim a fazer parte das experiências das pessoas (mesmo que seja apenas aexperiência da “assistência” ou da “falação esportiva”).No caso específico dos JPA-Rio/2007, a natureza da questão foi o âmbitoesportivo, mas não podemos deixar de mencionar a interconexão dos discursoscom outros campos, como já citado anteriormente (político, econômico, social,cultural entre outros). Na tentativa de exemplificar este aspecto teórico com oocorrido em relação a este grande evento esportivo, podemos citar as questõesde infra-estrutura e segurança bastante abordadas e que acabavam recaindonos aspectos econômicos e políticos não só com relação à cidade-sede (Rio deJaneiro), mas também em relação a um país inteiro (Brasil).Neste caminho, a fim de atualizar o conceito de agendamento, cabeexpor o pensamento de um dos criadores do termo agenda-setting, que foi traduzidoaqui no Brasil como o próprio agendamento, McCombs, citado porTraquina (2001, 43), que escreve:Os atributos enfatizados pelo campo jornalístico podem influenciar diretamentea direção da opinião pública. Tanto a seleção das ocorrências e/ou das questões queconstituirão a agenda, como a seleção dos enquadramentos para interpretar essasocorrências e/ou questões são poderes importantes que o conceito de agendamento agoraidentifica depois de mais de vinte anos de vida intelectual.LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010130
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