Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.IntroduçãoDiversos autores têm chamado a atenção para as ligações entre esporte,mídia e indústria do entretenimento (Beattie, 2003; Booth, 2001; Borges,2003; Castro, 2003; Fisher, 2005; Fortes e Melo, 2009; Melo, 2003; Scott,2005; Stedman, 1997; Wheaton e Beal, 2003). Como define um deles, observa-sea construção “[d]esse cenário multimídia, no qual o esporte modernofoi transformado” (PILATTI, 2006). Nenhum dos estudos mencionados dizrespeito à década de 1980, quando a imbricação entre os três setores não chamavatanto a atenção dos pesquisadores. Este artigo, que se insere na pesquisade doutorado que investigou as relações entre surfe e mídia no período mencionado,parte da análise da revista Fluir para mapear manifestações ligadasà modalidade e divulgadas nas mídias sonoras e audiovisuais no Brasil. Maisespecificamente, se debruça sobre as mídias sonora (rádio e música) e audiovisual(cinema, televisão e vídeo).Discutir a relação entre surfe e cultura pop significa articular o objetode estudo com aspectos da vida social e da comunicação social. Este foi umdos caminhos apontados por Pierre Bourdieu para o estudo do esporte pelasciências humanas:[...] esse espaço dos esportes não é um universo fechado sobre si mesmo. Ele estáinserido num universo de práticas e consumos, eles próprios estruturados e constituídoscomo sistema. Há boas razões para se tratar as práticas esportivas como um espaçorelativamente autônomo, mas não se deve esquecer que esse espaço é o lugar de forças quenão se aplicam só a ele. Quero simplesmente dizer que não se pode estudar o consumoesportivo, se quisermos chamá-lo assim, independentemente do consumo alimentar oudo consumo de lazer em geral (1990, 210).Embora jamais tenha se dedicado sistematicamente ao assunto, o sociólogoaponta a necessidade de contemplar, nos estudos sobre esporte, a inserçãodo mesmo no contexto social. No que diz respeito à publicação em questão,seu sucesso está relacionado à emergência do jovem como sujeito e como consumidor,processo do qual o esporte é apenas uma parte. No contexto dos anos1980, pode-se mencionar o notável crescimento do surfe e de sua indústria, aomenos no plano da divulgação midiática, ocupando espaços em muitos outrosprodutos, veículos e mídias. Portanto, mapear a presença do surfe em outrasmídias, mesmo de forma breve, significa matizar o papel desempenhadopor Fluir. Esta não foi criada no vácuo ou deteve o monopólio das representaçõessobre o esporte. Todos esses fenômenos fazem parte do contexto em queFluir e os temas que cobre são recebidos pelo público.Esse efeito de apropriação social faz com que, a todo momento, cada uma das ‘realidades’oferecidas sob o nome de esporte seja marcada, na objetividade, por um conjunto depropriedades que não estão inscritas na definição puramente técnica, que podem até seroficialmente excluídas dela, e que orientam as práticas e as escolhas (entre outras coisas,dando um fundamento objetivo aos juízos do tipo ‘isso é coisa de pequeno burguês’ ou‘coisa de intelectual’, etc.) (BOURDIEU, 1990, 213-4).A citação levanta um ponto importante a se considerar nos estudosLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201091
Fortes. O surfe brasileiro e as mídias sonora e audiovisual nos anos 1980.de esporte: uma prática pode ter diferentes significados ao longo do tempo,relacionados a fatores como quem a realiza e que valores lhe são atribuídossocialmente (intelectualidade, riqueza material, brutalidade, estilo etc.). A articulaçãocom diferentes manifestações da cultura pop é importante para odesenvolvimento da subcultura do surfe, na medida em que estas são decisivaspara a representação do mesmo na sociedade e para atrair para a indústria dosurfe um grande número de consumidores, muitos dos quais não farão parteda subcultura. 2 As subseções a seguir desmembram o tema, tratando de mídiasonora e audiovisual.Surfe e mídia sonoraDesde o início, Fluir reservou espaço para a música. A edição inauguraltrouxe um artigo atacando os preconceitos que cercam o rock no Brasil. 3 Aintervenção agradou em cheio uma leitora, para quem o ritmo tem muitas afinidadescom “quem curte surf, vôo livre, enfim liberdade”. 4 O número três levoua música para a capa, com a chamada “Som: Stones Devo”. O artigo sobre abanda Devo fazia menção a skate 5 , enquanto o dedicado aos Rolling Stonesnão aludia a qualquer esporte (havia sido publicado na Folha de S. Paulo e“reproduzido sob permissão do autor”). 6 A seção de música <strong>completa</strong>va-se coma lista intitulada “OS 10 DO MÊS”. Dividida em “nacionais” e “importados”,compunha-se, em sua maioria, por bandas de pop e rock. Chegara-se a ela,segundo informava o texto,através de pesquisas realizadas nas principais casas noturnas; lojas de discos e da opiniãoda moçada que curte esportes radicais (surf, skate, bicicross, vôo, etc.). Agora é a suavez, mande suas opiniões para a FLUIR, e vejamos se seu grupo será o melhor do mês.(Som, Fluir n. 3, mar 1984)Na edição seguinte, novo chamado à participação: “o objetivo desta seção écada vez mais basear-se apenas em cartas enviadas por vocês, portanto, mexam-se”. 7A lista tinha a finalidade de servir como termômetro das preferênciasdos jovens aficionados por esportes radicais. Contudo, esse tipo de iniciativaacaba funcionando também de forma inversa, ou seja, como fonte de informaçãopara os próprios adeptos da subcultura a respeito de que bandas e músicasdevem ouvir. Publicações nacionais e importadas participaram ativamenteda formação do gosto musical dos entusiastas de esportes radicais. 8 Títulosestrangeiros circulavam bastante entre os membros da subcultura do surfe.Incrementavam o interesse pelo esporte, traziam novidades, disseminavamgostos e – o que é fundamental – serviram como modelos inspiradores paraquem se dispôs a criar similares por aqui. 9 Segundo Gutenberg (1989, 113-4),“depois de ler muita revista americana, Pecegueiro resolveu fazer a sua própriarevista”, referindo-se à pioneira Brasil Surf, de 1975. Sociedade entre AlbertoPecegueiro e Flavio Dias, saiu de circulação em 1979, acompanhando a decadênciado esporte (GUTENBERG, 1989, 114).A publicação de imagens feitas pelo fotógrafo internacional Craig Petersonpropiciou que se revelasse a importância do contato com publicações do exterior:LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 201092
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