Gastaldo. Estudos Sociais do Esporte: vicissitudes e possibilidades de um campo em formação.IntroduçãoO campo acadêmico dos estudos sociais sobre o esporte no Brasil apresenta,em seu conjunto, uma produção bibliográfica volumosa e excelentesexemplos de densidade teórica, capacidade analítica e seriedade metodológica,permitindo que esta produção acadêmica possa figurar entre as principaislinhas de desenvolvimento teórico nesta área em nível mundial. Entretanto,a exemplo de muitas outras áreas da ciência social brasileira, nossa produçãoacadêmica sobre esportes é ainda voltada predominantemente para nossos próprioscompatriotas, em congressos, periódicos ou livros que circulam quaseque exclusivamente em território nacional, e entre grupos disciplinarmentedelimitados. Várias razões podem ser apontadas à primeira vista para esta situação,uma delas a chamada “barreira linguística”, que torna difícil que textosem português circulem entre países de língua inglesa. Não obstante, cientistasde Portugal poderiam estar dialogando conosco (e não estão), e se considerarmosque os falantes de espanhol compõem um público leitor de cerca dequinhentos milhões de pessoas, vemos que há saídas viáveis e ótimos motivospara superarmos esta barreira, mas que pouco fazemos por isso.É verdade que os estudos sociais sobre o esporte compõem um camporelativamente jovem no cenário acadêmico brasileiro, tendo seus estudos “clássicos”sido publicados no início dos anos 1980, e a organização política dos/as pesquisadores/as desta área ainda revela traços de incipiência típicos de umcampo em formação. Fatores que acrescentam complexidade a esta situaçãosão a sua dimensão interdisciplinar – dentro de um campo acadêmico cada vezmais rigidamente demarcado por fronteiras entre disciplinas, apesar da popularidadedos discursos “inter” ou “transdisciplinares” – e sua baixa organizaçãoinstitucional, concentrado em poucos Grupos de Trabalho em congressos,poucos Grupos de Pesquisa registrados no Diretório do CNPq e poucos periódicoscientíficos. A vinculação internacional dos estudos de esporte brasileirosé ainda fortemente restrita ao diálogo com pesquisadores argentinos, e, emmuito pequena escala, com mexicanos, europeus e norte-americanos.O objetivo deste artigo é abordar alguns aspectos da situação atual dosestudos sociais sobre o esporte no Brasil e apontar algumas linhas de desenvolvimentopara que sua inegável qualidade acadêmica possa estabelecer-se maissolidamente em nível internacional e no próprio cenário acadêmico brasileiro.Agradeço a inestimável colaboração de alguns colegas entrevistados paraeste artigo, em particular Simoni Lahud Guedes, Ronaldo George Helal eGiovani de Lorenzi Pires. Seus esclarecimentos foram fundamentais para esclarecerpontos obscuros da formação da área que não constam nos anais denenhum congresso.Um campo em formaçãoApesar do esporte já ter figurado como assunto de reflexão de intelectuaise cientistas sociais brasileiros desde o início do século XX (ver, neste sentido,Soares e Lovisolo, 2001), o campo acadêmico dos estudos sociais do esporte aque me refiro começou bem mais tarde, no início dos anos 1980. Emprego aquiLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 20107
Gastaldo. Estudos Sociais do Esporte: vicissitudes e possibilidades de um campo em formação.o termo “estudos sociais do esporte” para definir um amplo espectro de produçãoacadêmica, como dissertações e teses, artigos científicos em periódicos,grupos de pesquisa e grupos de trabalho em congressos que caracteriza-se porabordar o esporte em sua dimensão de fato social, (distinguindo-se portantode abordagens físicas e/ou fisiológicas dos fenômenos esportivos), organizadanos moldes de um “campo intelectual”, como o descrito por Bourdieu (2002),noção já bastante conhecida e sobre a qual não pretendo me deter.Assim, o campo dos estudos sociais do esporte inclui trabalhos científicosdisciplinarmente alocados nas áreas de educação física, comunicação, antropologia,sociologia, história, educação, geografia, psicologia e muitas outras.Neste artigo, por razões que explicitarei mais adiante, vou dedicar maior atençãoàs três primeiras, embora reconheça a existência e a qualidade dos estudossociais do esporte em outros territórios disciplinares.Desde meados dos anos 1970, alguns cientistas sociais começaram adedicar-se à dimensão social do fenômeno esportivo – futebolístico, para sermais preciso. Destacam-se neste período Roberto Da Matta, que desde 1974,em artigos para a imprensa, apontava a dimensão cultural do futebol no Brasil,Sérgio Miceli, sociólogo que publicou artigos sobre a Gaviões da Fiel em periódicoscientíficos entre 1977 e 1979 e Ricardo Benzaquen de Araújo, queem 1980, defendeu dissertação de mestrado no Museu Nacional intitulada“Os Gênios da Pelota: um estudo do futebol como profissão”, orientado porGilberto Velho. Provavelmente, a primeira dissertação de mestrado a trataro esporte em perspectiva social no Brasil foi a de Simoni Lahud Guedes, em1977, “Futebol Brasileiro: instituição zero”, orientada por Luiz de Castro Faria,no Museu Nacional. Pioneira neste campo, Simoni participou, com outrosantropólogos, da obra que tradicionalmente se considera o marco dos estudossociais do esporte no Brasil, a excelente coletânea “Universo do Futebol”, organizadapor Roberto Da Matta em 1982. Nesta coletânea, o futebol é apresentadodentro de uma perspectiva antropológica da cultura, como “drama social”,a partir de estudos etnográficos. Neste primeiro momento, o único esporteabordado foi o futebol, cuja preeminência no universo cultural brasileiro éevidente. Para uma boa revisão histórica sobre o futebol nas ciências sociaisbrasileiras, ver Toledo (2001).Aos poucos, outros livros acadêmicos viriam a compor um quadro teóricode referência nesta área, com as mais diversas fundamentações teóricas.Destaca-se nesse sentido, em uma posição bastante oposta à da antropologia,pelo seu pessimismo de orientação marxista, “Futebol: ideologia do poder”,de Roberto Ramos (1984), que reitera a representação do futebol como “ópiodo povo” no Brasil. Outro livro que ajudou a despertar gerações de jovenspesquisadores para os estudos sociais do esporte entre estudantes de graduaçãoé “O que é Sociologia do Esporte”, de Ronaldo Helal (1990), na coleção“Primeiros Passos” da editora Brasiliense. Helal defendeu seu Doutorado emSociologia na New York University em 1994 com uma tese sobre futebol, “TheBrazilian Soccer Crisis as a Sociological Problem”. No mesmo ano, a dissertaçãode mestrado de Luiz Henrique Toledo, “Torcidas Organizadas de Futebol” foiLOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 20108
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