Maia e Oliveira. Futebol, Identidade e Memória: o Lance! do Consumo do Botafogo de 1962.que pode se interessar por isso. No caso das editorias, ainda esbarra no nívelde exigência e na diversidade que existe dentro deste grupo imaginado: ao nãosaber quem está do outro lado, deduz-se um tipo médio, que não existe e seriao resultado de vários perfis conjugados. A diversidade existente obriga a adoçãode estratégias para agradar ao maior número possível de leitores e se ancoramtambém na credibilidade e confiabilidade junto ao público para se distinguiremdos concorrentes.E a vertente esportiva ainda é obrigada a lidar com o fator “domíniopúblico”, o que não acontece comumente em outras editorias. Afinal de contas,em se tratando da cultura brasileira, há um “consenso social” de que todos devemter uma preferência futebolística, parte das identidades pessoal e social doindivíduo, seus “eus” disponíveis para apreensão, entendimento e socializaçãocom os outros. Segundo Vogel (1982), o brasileiro receberia no berço, o nome,a religião e o clube de futebol que o acompanha pelo resto da vida. A ponto deque, quem se manifesta fora deste padrão de comportamento, perde um dosvínculos possíveis de se dizer possuidor da identidade brasileira.E a memória entra neste contexto como lembra Enne (2004) citandoFoucault, para quem a produção da identidade e da memória envolve umsaber em disputa, objeto de conflitos, revestido por um status de verdade, quenão existe fora do poder ou sem ele. Assim, a luta pela memória e pela configuraçãodas identidades é uma disputa pela narrativa, pelo discurso, pelaposse da palavra, pelo poder de guiar o saber e também criar a narrativa ondeas identidades estão inseridas. E os jornais se incluem no conceito de lugaresde memória porque são espaços privilegiados de arquivamento e produçãoda memória contemporânea. Em artigo, as professoras Ana Paula Ribeiro eMarialva Barbosa (2006) lembram os casos em que a memória se espetacularizae se torna mercadoria, dependendo da estratégia e do contexto específicosda representação. Aqui pode ser incluída a iniciativa do Jornal Lance! queusou a memória dos times para lançar a promoção. No caso do Botafogo, alembrança dos feitos da equipe de 1962 funcionou como uma válvula de escapeda realidade apresentada pelo noticiário: o time sem o principal jogador,Maicosuel e o atacante Reinaldo levava desvantagem na disputa com o rivalFlamengo pelo título carioca 7 .Se o presente não era favorável, o retorno ao passado era garantia de instantessem frustração, reforçada pela narração da goleada imaginária sobre orival de antes e agora em um jogo que nunca existiu. Os mais velhos lembrariamcomo a equipe de 1962 era digna dos adjetivos grandiosos que recebia. Os maisnovos ficariam intrigados em entender o motivo da menção com tanta deferênciae buscariam respostas. Como estas seriam agradáveis, aumentaria a possibilidadede associação positiva com a promoção do Lance! e então comprarem o jornalpara terem os selos que <strong>completa</strong>vam a cartela, pagarem a taxa e adquirirem acamisa. Para isso, o jornal não precisou de estudos detalhados sobre o que podeser considerada a identidade específica do clube, foi ao “tipo médio simplificado”como ficou claro na menção à superstição, uma das características que faz partedo discurso transmitido anos após anos sobre o que é ser torcedor do Botafogo.LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010161
Maia e Oliveira. Futebol, Identidade e Memória: o Lance! do Consumo do Botafogo de 1962.Assim como Ribeiro e Barbosa (2006), ressaltamos que as edições comemorativassão revisitações do passado formando memórias que tornem asempresas únicas, mais próximas e dignas da confiança. A disputa pelo interessedo público determina quem domina e está forte no mercado. Esta evocaçãodo passado permite construí-lo e reinventá-lo, garantindo respeitabilidade nopresente e expectativa de vantagens no futuro. Como observamos nesta análise,a valorização do passado cria laços e sensação de pertencimento, promulgauma identidade coletiva através de uma celebração permanente de si mesmo.Também permite o controle da imagem e da representação, limitando o significadoque pode ser apreendido dela. Ao recorrer às memórias individuais,não gera um quadro unificado, mas híbrido e polifônico. Os media se tornamlugares de memória de si mesmo e do mundo articulando experiências sociais,contribuindo para a afirmação e emergência das próprias identidades e as dosoutros. Nem todos os resultados desta atitude são negativos – fica o convite aospesquisadores para observar e analisar.Notas1E este rótulo de “jogo bonito” se tornou tema e o nome de uma campanha demarketing da empresa de material esportivo Nike, patrocinadora da Seleção Brasileira,em 2006.2Crônica publicada antes da estreia na Copa de 1958, a primeira vencida pela SeleçãoBrasileira, na revista Manchete esportiva, 31/05/1958 e em À sombra das chuteirasimortais - crônicas de futebol (organização de Ruy Castro para a Cia. das Letras, SãoPaulo, 1993).3O texto da entrevista de Maurício Stycer a Renato Góes disponível em < http://www.uniban.br/hotsites/folha/arquivos_edicoes/ed404/entrevista.asp> desde 23 dejunho de 2009. Acesso em: 25 de junho de 2009.4Trechos da matéria Era dos monstros sagrados 1948-1965: A magia entra em campo,da revista especial Botafogo: orgulho de ser Glorioso, publicada pelo Lance! na sérieGrandes Clubes 2005.5Encerramento do texto de Haroldo Habib, sobre Botafogo 1962, no Lance!03/05/09, pg.66No livro Estrela Solitária, biografia de Garrincha, o autor Ruy Castro relata que paraacalmar Amarildo no jogo contra a Espanha, Didi disse a ele “Olhe para os lados,garoto. Só dá Botafogo.” Além deles, Zagallo, Nilton Santos e Garrincha lideraram aSeleção na conquista do bicampeonato mundial.7A final do Campeonato Carioca terminou empatada. O Flamengo abriu 2x0 noprimeiro tempo. O Botafogo se recuperou e conseguiu o 2x2. A decisão foi para aspenalidades, vitória do Flamengo por 4x2.LOGOS <strong>33</strong>Comunicação e Esporte. Vol.17, Nº02, 2º semestre 2010162
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