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opinião<br />
Alê Oliveira<br />
Cannes,<br />
criativida<strong>de</strong><br />
e ativismo<br />
Marcio Borges<br />
Cannes é um festival sobre criativida<strong>de</strong>.<br />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que isso<br />
signifique ou como a criativida<strong>de</strong> é direcionada,<br />
o fato é que as marcas estão<br />
cada vez mais manifestando - <strong>de</strong> forma<br />
clara - suas i<strong>de</strong>ologias, seus propósitos e<br />
principalmente suas formas <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />
e <strong>de</strong> atuar no mundo em que vivemos. E,<br />
por isso, elas <strong>de</strong>mandam criativida<strong>de</strong> para<br />
pensar e expressar os seus propósitos.<br />
Neste ano, três dos oito gran<strong>de</strong>s temas<br />
do festival, envolvem, <strong>de</strong> certa maneira<br />
e em complexida<strong>de</strong>s diferentes, causas e<br />
propósitos para ajudar a transformar culturalmente<br />
o mundo em que vivemos. E<br />
são sobre eles que quero refletir.<br />
O primeiro é sobre igualda<strong>de</strong>,<br />
diversida<strong>de</strong> e inclusão.<br />
De que forma as empresas estão<br />
<strong>de</strong> fato <strong>de</strong>ixando o mundo<br />
mais justo e equilibrado.<br />
O segundo é sobre como a criativida<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> ser uma força para o bem, ou seja,<br />
<strong>de</strong> que forma a criativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> inspirar<br />
e ser uma força capaz <strong>de</strong> promover uma<br />
transformação <strong>de</strong> hábitos e culturas no<br />
mundo. Uma maneira das marcas e das<br />
empresas preencherem o vazio <strong>de</strong>ixado<br />
por políticos, governos e instituições. O<br />
terceiro e, na minha opinião, o mais importante<br />
<strong>de</strong>les, pois é um tema que não<br />
<strong>de</strong>ixa todos os outros serem apenas discursos,<br />
aborda a raiz <strong>de</strong> todas as transformações<br />
e trata sobre confiança, ética e<br />
transparência.<br />
Em cima <strong>de</strong>sses três pontos, o festival<br />
em si já é cheio <strong>de</strong> simbologias. O kit <strong>de</strong><br />
boas-vindas é formado por uma garrafa<br />
<strong>de</strong> vidro para ser reabastecida em pontos<br />
<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água que são i<strong>de</strong>ntificados<br />
e mapeados por um aplicativo.<br />
Através <strong>de</strong>le, é possível ainda ajudar outras<br />
pessoas a localizarem esses pontos,<br />
retirando as garrafas plásticas <strong>de</strong> circulação.<br />
A própria caixa, <strong>de</strong> papelão reciclado,<br />
já vem com a mensagem: “Eu acredito<br />
em você. Inspire a mudança”.<br />
A sacola do festival, que normalmente<br />
todos os participantes carregam diariamente,<br />
foi produzida pela Bags of Ethics.<br />
Essa sacola, além <strong>de</strong> ajudar a retirar mais<br />
plástico do mundo pois são reutilizáveis,<br />
são produzidas <strong>de</strong> forma totalmente sustentável,<br />
com materiais que não agri<strong>de</strong>m<br />
o meio ambiente e eticamente responsável<br />
em toda a sua ca<strong>de</strong>ia produtiva.<br />
Percebam que ainda nem escrevi sobre<br />
as apresentações ou sobre os prêmios.<br />
Afinal, o festival é uma arena <strong>de</strong> compartilhamento<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e conhecimento e<br />
também é uma competição.<br />
Nas apresentações, dois gran<strong>de</strong>s grupos<br />
transformacionais ficam evi<strong>de</strong>ntes:<br />
a tecnologia, que modifica o consumo e<br />
a maneira <strong>de</strong> consumir em<br />
todas as formas e cada vez<br />
mais rápido e, do outro lado,<br />
o consumidor que quer marcas<br />
que se alinhem com suas<br />
crenças, i<strong>de</strong>ais e pontos <strong>de</strong><br />
vista sobre o mundo. Na verda<strong>de</strong>, o consumidor<br />
talvez não queira nem as marcas,<br />
ele quer apenas seus i<strong>de</strong>ais executados.<br />
Se a marca o ajudar nisso, ele a adota.<br />
“o festival em<br />
si já é cheio <strong>de</strong><br />
simbologias”<br />
Sobre os prêmios, o fato relevante é<br />
que, embora ainda não sejam todos, não<br />
sejam unânimes e não seja novo, cada vez<br />
mais as premiações envolvem alguma<br />
causa que foi adotada, li<strong>de</strong>rada, ou no mínimo<br />
comunicada por marcas e produtos.<br />
Agrupando todos esses elementos, fica<br />
evi<strong>de</strong>nte que as marcas terão que adotar<br />
um propósito claro e serem protagonistas<br />
no seu mercado. Essa postura <strong>de</strong>ixa as<br />
marcas expostas a todos que sejam contrários<br />
aquilo que elas estejam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo,<br />
as colocando em alvo para <strong>de</strong>terminados<br />
grupos.<br />
O ponto é: daqui pra frente, cada vez<br />
mais, as marcas para serem consi<strong>de</strong>radas,<br />
terão que <strong>de</strong>ixar o confortável espaço da<br />
neutralida<strong>de</strong> e assumirem publicamente<br />
aquilo que elas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m e fazem, se tornando<br />
ativistas <strong>de</strong> alguma i<strong>de</strong>ologia.<br />
Marcio Borges é VP executivo e diretor-geral<br />
da WMcCann Rio<br />
marcio.borges@wmccann.com<br />
jornal propmark - <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 53