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edição de 24 de junho de 2019

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mkt<br />

cruphoto/iStock<br />

500 anos <strong>de</strong><br />

disrupção<br />

“Existem três monstros<br />

perigosos: a ingratidão, a soberba<br />

e a inveja. Quando mor<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>ixam uma ferida profunda”.<br />

Martinho Lutero<br />

Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />

maior país católico do mundo a caminho<br />

acelerado e irreversível da perda<br />

O<br />

<strong>de</strong> duas supremacias. De ser o maior país<br />

católico do mundo, e <strong>de</strong> ter no catolicismo<br />

a religião da preferência da maioria <strong>de</strong> sua<br />

população. Impossível para alguns, improvável<br />

para outros, hoje todos sabem inexorável.<br />

E acontece agora, 500 anos <strong>de</strong>pois,<br />

porque as religiões evangélicas apostaram<br />

na televisão, e a católica só <strong>de</strong>cidiu-se<br />

quando já era tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Caso contrário,<br />

talvez fossem necessários entre 100 a 200<br />

anos mais.<br />

O processo <strong>de</strong> disrupção começou há<br />

mais <strong>de</strong> 500 anos, quando um padre da<br />

Alemanha, Lutero, aproveitando-se da<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Gutenberg, a impressão com<br />

tipos móveis, pô<strong>de</strong> disseminar sua revolta<br />

e <strong>de</strong>nunciar os graves crimes que aconteciam<br />

no Vaticano. Hoje, para cada <strong>de</strong>z programas<br />

evangélicos na TV, e, exagerando,<br />

no máximo, um católico. Assim, se os registros<br />

estatísticos continuarem apresentando<br />

em suas curvas o mesmo comportamento<br />

dos últimos anos, a data marcada é<br />

2035. Quando a Igreja Católica Apostólica<br />

Romana per<strong>de</strong> a sua li<strong>de</strong>rança na crença e<br />

preferência dos habitantes do Brasil.<br />

Até o Censo <strong>de</strong> 2010 era claro que isso,<br />

lá pela meta<strong>de</strong> do século, iria acontecer.<br />

No entanto, a ascensão dos evangélicos e a<br />

queda do catolicismo aceleraram-se. E, assim,<br />

em vez <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r 1% <strong>de</strong> seus fiéis por<br />

ano, o catolicismo per<strong>de</strong> agora entre 1,1% e<br />

1,2%. Em entrevista para o jornal Valor, o<br />

<strong>de</strong>mógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da<br />

Escola Nacional <strong>de</strong> Ciências Estatísticas<br />

do IBGE (Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia<br />

e Estatística), sentenciou: “Possivelmente,<br />

entre 10 e 15 anos, o Brasil não terá mais a<br />

supremacia católica”. E aí Ricardo Lessa e<br />

Valor foram conferir esses dados junto a<br />

algumas autorida<strong>de</strong>s da Igreja Católica no<br />

país, principalmente seu sentimento em<br />

relação a esse fato, se correspon<strong>de</strong> à realida<strong>de</strong><br />

que vivem no dia a dia. E quem se<br />

manifestou, para surpresa e perplexida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos diante do que disse, foi o car<strong>de</strong>al<br />

Dom Sérgio da Rocha, presi<strong>de</strong>nte da CNBB<br />

(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil),<br />

afirmando que na prática a situação é<br />

mais dramática do que os números do IBGE<br />

revelam. “Esse não é o maior problema da<br />

Igreja Católica – afirma Dom Sérgio –, o que<br />

mais preocupa não são os que seguem Jesus<br />

em outras igrejas, mas os que se dizem<br />

católicos e não vivem como tal!” Afirmação<br />

confirmada pelo Padre Valeriano dos Santos<br />

Costa, diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia<br />

da PUC-SP: “Menos <strong>de</strong> 10% dos batizados<br />

frequentam as missas dominicais...”<br />

Pior que a crise no Brasil do catolicismo,<br />

só a do Chile. E por essa razão, a <strong>de</strong>cisão<br />

<strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> não ter vindo ao Brasil<br />

por ocasião dos 300 anos da padroeira Nossa<br />

Senhora da Aparecida, ter <strong>de</strong>cidido-se<br />

pelo Chile. Lá os números são <strong>de</strong>sesperadores.<br />

Segundo os institutos <strong>de</strong> pesquisa,<br />

a confiança na Igreja Católica, que era<br />

<strong>de</strong> 80% em 1996, <strong>de</strong>spencou para 37% em<br />

2017, muito especialmente em razão dos escândalos<br />

<strong>de</strong> pedofilia do padre Karadima,<br />

no ano <strong>de</strong> 2010.<br />

Tem como fazer-se alguma coisa para<br />

reverter essa situação? Não, não tem. Até<br />

conseguir-se movimentar uma das maiores<br />

corporações do mundo, com ranços culturais<br />

<strong>de</strong> dois milênios, tudo o que as estatísticas<br />

sinalizam hoje terão mais que se<br />

confirmado. E aí então, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os fiéis<br />

remanescentes <strong>de</strong>cidam e queiram, tudo a<br />

fazer é tentar reposicionar a ICAR, respeitando<br />

suas crenças e propósitos, na tentativa<br />

dramática e <strong>de</strong> extrema dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

resgatar o que anos atrás se <strong>de</strong>nominava<br />

<strong>de</strong> rebanho... Não era rebanho, eram pessoas<br />

<strong>de</strong> carne e osso, com muitas e muitas<br />

dores, sofrimentos e carências, que não se<br />

conformavam em ter <strong>de</strong> esperar a re<strong>de</strong>nção<br />

só <strong>de</strong>pois da morte... Queriam ser felizes<br />

aqui e agora. Nesta vida, na Terra. Assim,<br />

nesse ritmo, 500 anos <strong>de</strong>pois, aproxima-<br />

-se do final o maior processo <strong>de</strong> disrupção<br />

da história. Em menos <strong>de</strong> duas décadas, a<br />

maior religião do Brasil converter-se numa<br />

religião <strong>de</strong> médio porte. E, se nada fizer,<br />

mais adiante, numa religião <strong>de</strong> nicho. Nada<br />

é para sempre.<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

é consultor <strong>de</strong> marketing<br />

famadia@madiamm.com.br<br />

62 <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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