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edição de 24 de junho de 2019

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Mercado<br />

Marcas enxergam gran<strong>de</strong> potencial<br />

<strong>de</strong> consumo junto ao público LGBT+<br />

Especialistas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que, apesar da visibilida<strong>de</strong>, propaganda ainda<br />

tem <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> representar a comunida<strong>de</strong>; relação <strong>de</strong>ve ser genuína<br />

MARINA OLIVEIRA<br />

mês <strong>de</strong> <strong>junho</strong> marca as<br />

O celebrações do Orgulho<br />

LGBT+ e, em diversos países,<br />

uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s culturais<br />

e políticas são realizadas<br />

como forma <strong>de</strong> resistência e luta<br />

por direitos e aceitação. A data<br />

é também uma oportunida<strong>de</strong><br />

para o aquecimento do mercado,<br />

já que as marcas lançam<br />

coleções e promovem ativações<br />

alusivas ao público LGBT+.<br />

Neste ano, a 23ª edição da<br />

Parada do Orgulho, que tinha<br />

previsão <strong>de</strong> reunir mais <strong>de</strong> três<br />

milhões <strong>de</strong> pessoas em São<br />

Paulo no último domingo (23),<br />

gerou cerca <strong>de</strong> dois mil empregos,<br />

contou com patrocínio do<br />

Burger King, Uber, Amstel e<br />

Avon, além <strong>de</strong> uma longa lista<br />

<strong>de</strong> apoiadores.<br />

De acordo com Renato Vicerbo,<br />

VP da APOGLBT, ONG<br />

que organiza o <strong>de</strong>sfile, a relação<br />

com as marcas é importante,<br />

mas é preciso ter cuidado para<br />

que o apoio à causa seja genuíno.<br />

“A gente tem o cuidado<br />

<strong>de</strong> não colocar uma marca [na<br />

parada] simplesmente por colocar.<br />

Precisa ter um trabalho<br />

por trás. Hoje, todas que estão<br />

conosco têm um pilar <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>”,<br />

afirma.<br />

Para Fábio Mariano, especialista<br />

em comportamento <strong>de</strong><br />

consumo e professor da ESPM,<br />

é preciso ter cautela e não exigir<br />

comprometimento, mas sim<br />

coerência das marcas. “Precisamos<br />

ter calma, senão vamos<br />

exigir que as empresas estejam<br />

comprometidas com o Natal,<br />

com as mães, ou então, não po<strong>de</strong>m<br />

fazer campanhas nessas<br />

datas. A gente apren<strong>de</strong>u que<br />

<strong>junho</strong> aquece em vendas. Nossa<br />

parada é a maior do mundo e<br />

move comércio, turismo e o setor<br />

<strong>de</strong> serviços. A Parada LGBT<br />

é um momento para as marcas<br />

celebrarem, remeterem à causa<br />

e isso é muito bem-vindo. No<br />

entanto, é horrível quando elas<br />

não têm afinida<strong>de</strong> com a diver-<br />

Em 2018, mercado LGBT+ movimentou cerca <strong>de</strong> US$ 3,6 trilhões no mundo; no Brasil, cifra chega próxima <strong>de</strong> US$ 107 bilhões<br />

sida<strong>de</strong> e daí resolvem fazer algo<br />

disso”, aponta.<br />

“Eu acho muito legal quando<br />

uma marca faz uma ação,<br />

vou citar o exemplo do Burger<br />

King, que vai reverter parte do<br />

seu lucro com o Shake para a<br />

Casa 1. É legal quando ela consegue<br />

ir além do arco-íris e se<br />

envolve não só para aparecer<br />

apoiando”, avalia Pedro HMC,<br />

ex-roteirista do programa Amor<br />

& Sexo, da Globo, e responsável<br />

pelo Canal Põe na Roda.<br />

Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> consuMo<br />

Um levantamento da assessoria<br />

corporativa LGBT Capital<br />

<strong>de</strong>monstrou que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

consumo do público LGBT+,<br />

em 2018, girou em torno <strong>de</strong> US$<br />

3,6 trilhões no mundo. Somente<br />

no Brasil, estima-se que a<br />

movimentação tenha chegado<br />

próxima <strong>de</strong> US$ 107 bilhões.<br />

“O mercado publicitário enten<strong>de</strong>u<br />

que o público LGBT é<br />

muito relevante, que propor-<br />

Divulgação/APOGLBT<br />

cionalmente consome mais,<br />

na média, que o público hétero<br />

cisgênero, que viaja mais e<br />

aquece os mercados <strong>de</strong> turismo<br />

e festas. E isso traz muito dinheiro”,<br />

avalia HMC.<br />

De acordo com Mariano, dados<br />

como estes <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram<br />

parte da comunida<strong>de</strong>. “Essas<br />

cifras excluem pessoas pobres,<br />

abertas, travestis e transgêneros,<br />

por exemplo. Quando<br />

a gente vê este volume <strong>de</strong> faturamento,<br />

automaticamente<br />

remetemos ao estereótipo <strong>de</strong><br />

uma pessoa homoafetiva rica,<br />

branca e estudada.”<br />

“Não é que este número seja<br />

falso, mas ele escon<strong>de</strong> bastidores<br />

como a característica sociopolítica<br />

do país e o empo<strong>de</strong>ramento<br />

comercial. O público<br />

LGBT apren<strong>de</strong>u que um dos<br />

passes para ser aceito na socieda<strong>de</strong><br />

era justamente o po<strong>de</strong>r<br />

financeiro e o capital cultural.<br />

[...] É claro que entretenimento<br />

e viagens sempre terão potenciais<br />

maior junto ao público<br />

LGBT, que em sua maioria ainda<br />

não tem filhos e a renda é<br />

para uso próprio”, diz.<br />

Para o professor, a publicida<strong>de</strong><br />

acaba reforçando esse lugar-<br />

-comum, ao dar visibilida<strong>de</strong> à<br />

causa, sem se preocupar com a<br />

representativida<strong>de</strong>.<br />

“Qual é o papel do LGBT na<br />

propaganda, como ele aparece?<br />

Não me lembro <strong>de</strong> ver um comercial<br />

no Brasil on<strong>de</strong> há um<br />

pai homoafetivo. No Dia dos<br />

Pais, o que se faz? Ele está ali<br />

mascarado, tem vários exemplos<br />

<strong>de</strong> pai e o pai gay. No Dia<br />

das Mães, a mesma coisa, assim<br />

como no Dia dos Namorados.<br />

Essa representativida<strong>de</strong> está<br />

muito longe, o público LGBT,<br />

por enquanto, é coadjuvante<br />

e aparece discretamente. A<br />

publicida<strong>de</strong> precisa <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

apresentar este público como ‘é<br />

LGBT, mas é distinto’ e mostrar,<br />

<strong>de</strong> fato, o que é uma família ou<br />

uma pessoa LGBT”, finaliza.<br />

70 <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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