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última página<br />
alexemanuel/iStock<br />
Entre o ativismo<br />
e hardsell<br />
Claudia Penteado<br />
De um discurso raso e superficial, usado<br />
como estratégia repleta <strong>de</strong> boas intenções,<br />
mas nenhuma ação concreta no<br />
mundo - e também o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> emocionar<br />
jurados <strong>de</strong> festivais -, a comunicação das<br />
marcas finalmente encontrou o seu lugar e<br />
pô<strong>de</strong> ser vista brilhando <strong>de</strong> um jeito novo<br />
em Cannes. Sim, as marcas querem ven<strong>de</strong>r.<br />
Mas, sim, elas precisam fazer a diferença<br />
causando algum impacto positivo no mundo<br />
não porque querem parecer boazinhas,<br />
mas porque isso se reflete nos seus balanços<br />
financeiros - porque as aproxima das<br />
pessoas. É fato! Incontestável. O que se viu,<br />
durante muitos anos, foram discursos vazios<br />
e feitos para parecer no lugar <strong>de</strong> ser.<br />
Discursos <strong>de</strong> um mundo i<strong>de</strong>alizado, criado<br />
em bolhas refrigeradas, sem ressonância<br />
no mundo real. No entanto, gran<strong>de</strong>s transformações<br />
nasceram <strong>de</strong>ntro das empresas<br />
e suas marcas. Foram as<br />
gran<strong>de</strong>s marcas que primeiro<br />
perceberam que tudo o que<br />
vinham fazendo simplesmente<br />
não funcionava mais<br />
e, se quisessem sobreviver<br />
no mundo e ganhar alguma<br />
relevância na apertada<br />
agenda dos consumidores,<br />
teriam <strong>de</strong> fazer alguma diferença<br />
e mostrar algo mais do<br />
que uma oferta <strong>de</strong> produto ou serviço. Tinham<br />
<strong>de</strong> abrir um diálogo bilateral e falar<br />
o idioma das ruas. Tinham <strong>de</strong> abandonar<br />
estereótipos e serem inclusivas em todos<br />
os momentos da complexa “jornada” do<br />
consumidor, no maior número possível <strong>de</strong><br />
pontos <strong>de</strong> contato.<br />
Então o Cannes Lions se transformou<br />
em uma premiação “for good”? Não exatamente.<br />
Ela reflete o novo caminho para<br />
se conectar com as pessoas. Se pegarmos<br />
os principais GPs <strong>de</strong>ste ano, veremos uma<br />
espécie <strong>de</strong> ativismo por causas inserido<br />
em inúmeros <strong>de</strong>les - certamente a imensa<br />
maioria em 27 categorias. Mas não só. O<br />
Titanium, que representa o futuro da comunicação,<br />
mostra uma estratégia <strong>de</strong> hard<br />
sell por excelência, <strong>de</strong> Burger King, em que<br />
o rival (McDonald’s) se torna o trampolim<br />
para uma promoção <strong>de</strong>sconsertantemente<br />
genial, provando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma boa i<strong>de</strong>ia<br />
“As grAn<strong>de</strong>s<br />
trAnsformAções<br />
nAscerAm<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
empresAs e<br />
mArcAs”<br />
publicitária para, essencialmente, ven<strong>de</strong>r.<br />
Porque não é preciso causar impacto social<br />
o tempo todo, mas também. O Grand Prix<br />
<strong>de</strong> Mídia é brasileiro, e também busca a<br />
venda <strong>de</strong> um jeito novo, que fala a linguagem<br />
dos jovens <strong>de</strong> espírito pelas ruas <strong>de</strong><br />
São Paulo. A categoria Glass enaltece o bom<br />
jornalismo do NYT - verda<strong>de</strong>iro, trabalhoso,<br />
valoroso. O GP <strong>de</strong> Design é do Google e<br />
fala sobre inclusão, temática que também<br />
entra no GP <strong>de</strong> Health & Wellness, no qual<br />
a IKEA mostra que seus produtos são para<br />
todos, enquanto mensagem semelhante<br />
está no GP <strong>de</strong> Brand Experience & Activation,<br />
do XBox, que <strong>de</strong>senvolveu um controle<br />
para seus games para ser utilizado por<br />
pessoas com <strong>de</strong>ficiências físicas. E também<br />
fala disso o GP <strong>de</strong> Inovação, See Sound, um<br />
dispositivo que traduz sons para o celular<br />
<strong>de</strong> pessoas surdas, permitindo que elas visualizem<br />
na tela sons que representem perigo<br />
ou necessitem <strong>de</strong> alguma interferência<br />
imediata.<br />
O GP <strong>de</strong> Creative E-commerce<br />
é talvez o meu favorito<br />
em todo o festival: o<br />
cartão DoBlack, do banco digital<br />
sueco Doconomy, cujo<br />
limite se baseia na pegada<br />
<strong>de</strong> carbono que cada compra<br />
representa, e ainda ensina as<br />
pessoas a compensarem no<br />
mundo cada <strong>de</strong>spesa feita, calculando seu<br />
prejuízo para o meio ambiente. É novo. É<br />
oportuno. O que isso diz sobre esse banco<br />
digital? Há GPs que mudaram a realida<strong>de</strong>,<br />
como Black Supermarket, do Carrefour,<br />
que ajudou a mudar o lei que limitava a<br />
venda <strong>de</strong> frutas e verduras a um <strong>de</strong>terminado<br />
número <strong>de</strong> fornecedores <strong>de</strong> sementes,<br />
criando um cluster <strong>de</strong> privilégios no<br />
segmento agroquímico. Outro nessa linha<br />
é o GP <strong>de</strong> PR, uma ação que levou à redução,<br />
na Alemanha, dos altíssimos impostos<br />
que elevavam os preços dos absorventes<br />
internos no país. Não por acaso, o Grupo<br />
Havas anunciou, durante o festival, seu<br />
novo plano estratégico, baseado na missão<br />
<strong>de</strong> ajudar marcas a fazerem a diferença no<br />
mundo, com base em estudos muito aprofundados<br />
que comprovaram a verda<strong>de</strong><br />
inescapável da qual falo neste artigo: as<br />
pessoas esperam isso das empresas, das<br />
marcas.<br />
78 <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark