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Integração sul-americana, dependência da China e subimperialismo brasileiro<br />
apropriar de um valor produzido por capitais operantes nas economias dependentes. Esta condição<br />
estrutural obriga os capitalismos dependentes, para que possam se desenvolver, acumular capital,<br />
compensar essa parcela da mais-valia que é transferida ou, como deixa claro Marini (2005a: 152),<br />
“frente a esses mecanismos de transferência de valor, baseados seja na produtividade, seja no monopólio<br />
da produção, podemos identificar – sempre no nível das relações internacionais de mercado<br />
– um mecanismo de compensação”.<br />
Que mecanismo de compensação é esse? Justamente a superexploração da força de trabalho! Desta<br />
forma, esse “mecanismo de compensação” seria a única forma do capitalismo dependente se desenvolver<br />
(capitalistamente), o que comprova a especificidade (objetiva e, portanto, categorial) do<br />
capitalismo dependente 9 . O neoliberalismo aprofundou a dependência estrutural das economias<br />
da região, na medida em que intensificou a ofensiva do capital contra o trabalho e aprofundou a<br />
vulnerabilidade das mesmas.<br />
Do ponto de vista de sua economia política, o neoliberalismo na região construiu um novo padrão<br />
de acumulação de capital que se constituiu a partir de profundas alterações nas relações capital-trabalho<br />
e nas relações inter-capitalistas. Basicamente, ocorreu uma combinação de enfraquecimento<br />
das forças políticas do trabalho, o que ampliou ainda mais a superexploração do trabalho com a reunificação<br />
de distintas frações do capital nos blocos de poder dominante, em que pesem as distintas<br />
especificidades desta conformação dependendo do país considerado.<br />
O neoliberalismo na região também implicou o aumento da vulnerabilidade externa estrutural. Isto<br />
ocorreu em função da especialização produtiva e exportadora cada vez mais centrada em commodities<br />
e produtos industriais de baixa e médio-baixa intensidade tecnológica 10 . Esta reestruturação<br />
produtiva construiu, do ponto de vista do comércio exterior, uma especialização com base na reprimarização<br />
das exportações da América Latina. Durante os anos 90, este processo aprofundou os<br />
problemas na balança comercial, significativamente deficitária no período. Junto com isso, a conta<br />
de serviços apresentou enormes e crescentes déficits, o que construiu resultados negativos estruturais<br />
9 Não é tão incomum o entendimento de que se trata de troca desigual entre nações, como se<br />
ocorresse uma “exploração” de nações pobres por nações ricas. Esta visão moralista é análoga<br />
àquela que não compreende o que significa exploração na teoria de Marx e, a partir daí, concebe<br />
a superexploração como uma relação de exploração entre nações. Como já deixou claro Marx<br />
(1983, vol. V: 293), “é, em primeiro lugar, uma falsa abstração considerar uma nação, cujo modo de<br />
produção repousa no valor e que, além disso, está organizado capitalistamente, como sendo um<br />
corpo coletivo que trabalha apenas para as necessidades nacionais”. Este tipo de interpretação,<br />
tipicamente weberiana, não consegue entender que os mecanismos de transferência de valor (i)<br />
estão no plano da circulação/realização do valor produzido, enquanto a superexploração está<br />
no plano das relações de produção, e (ii) que não se trata de uma “nação explorando a outra”,<br />
mas de capitais que atuam em uma ou outra economia específica, independentemente de suas<br />
“nacionalidades”, se é que “nacionalidade de capital” faz algum sentido. Independente deste<br />
esclarecimento crucial, o fato é que Marini não deixou isso claro em seu texto.<br />
10 A vulnerabilidade externa estrutural é fruto das mudanças relativas ao padrão de comércio, da<br />
eficiência do aparelho produtivo, do dinamismo tecnológico e da robustez do sistema financeiro<br />
nacional. Ela é determinada, principalmente, pelos processos de desregulação e liberalização<br />
nas esferas comercial, produtivo-real, tecnológica e monetário-financeira das relações econômicas<br />
internacionais do país. Assim, a vulnerabilidade externa estrutural é, fundamentalmente, um<br />
fenômeno de longo prazo; por isso, estrutural (Gonçalves et all., 2009).<br />
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