Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

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Graciliano Ramos, autor da obra Vidas secas, é considerado um dos principais expoentes do movimento regionalista, embora o mesmo nunca tenha se considerado como tal. A sua produção literária, de maneira geral, pode ser dividida em romances psicológicos, romances sócio-politicos e romances autobiográficos, todos escritos sob a marcação do estilo seco e conciso do autor. O romance Vidas secas foi escrito no ano de 1938, o que o situa na segunda fase do movimento modernista. Este romance de Graciliano Ramos é especificamente o objeto de estudo desta pesquisa. Vidas secas realiza uma singular junção entre a técnica literária e o campo da não-ficção. A construção fragmentada, com atos que se justapõem, traduz uma concepção de realidade que remete o leitor à triste saga de Fabiano e sua família pelo sertão nordestino. A obra é marcada pelo tom de denúncia da triste realidade da seca, que há séculos escraviza e mata brasileiros que habitam o sertão do Nordeste brasileiro. Ao narrar o Nordeste, o “velho Graça” não se deixou nem por um momento levar pelo pitoresco local, mas fez de sua obra um veículo de exposição da dura e amarga realidade dos Fabianos que ele conheceu e tão bem soube retratar ao longo da vida, expressando de forma crua e autêntica um drama tão doloroso quanto a fome e fazendo de sua literatura instrumento de análise e conscientização crítica dos problemas sociais e políticos do Brasil. A técnica utilizada por Graciliano Ramos na composição da obra Vidas secas associada ao processo de fragmentação da mesma, levou a autora deste trabalho, como professora de literatura brasileira, a observar com grande interesse as colocações semânticas e estilísticas que tanto enriquecem este texto. Após esta percepção relativa à Vidas secas, a autora ficou instigada a tentar compreender até que ponto estes recursos lingüísticos acima expostos contribuíram na estruturação da obra, o que explicaria, a princípio, de que maneira o autor conseguiu escrever um texto tão completo e claro, sem que as ligações comuns em uma narrativa fossem mantidas. Existiria, porventura, um tênue fio narrativo que ligaria a obra, organizada de forma espiralada por treze capítulos justapostos sem aparentes nexos lógicos? Ao deparar-se com a transposição fílmica deste livro, aumentou a curiosidade e a vontade de investigar outras matizes ligadas à triste e ao mesmo tempo bela história de Fabiano, sinha Vitória, os meninos e a cachorra Baleia. Com efeito, em 12
1963, com os mesmos ideais de denúncia, Nélson Pereira dos Santos adaptou o romance Vidas secas para o cinema, levando ao conhecimento das platéias ao redor do mundo o flagelo da seca que assolava o Nordeste já na década de 30, época do lançamento do romance, retratando a triste situação que permanece praticamente imutável até hoje. Este trabalho tem por principal objetivo analisar a transposição da montagem literária à cinematográfica da obra Vidas secas, escrita por Graciliano Ramos, buscando responder ao questionamento sobre de que forma ocorreu a transposição da montagem literária à cinematográfica deste romance. Para tentar responder a estas perguntas e atingir o objetivo a que se propõe, esta dissertação descreverá, primeiramente, a biografia e militância política de Graciliano Ramos, de forma a interligar as facetas pessoais, literárias e políticas deste autor. A seguir, serão enfocados os personagens de Vidas secas em constantes choques, na sua condição de oprimidos e opressores. Desta forma, um olhar marxista permitirá ao leitor um contato mais real com as concepções e intenções político-literárias do autor. Neste olhar, serão aprofundados o contexto histórico, as características básicas e o marxismo presente em Vidas secas. Abordar-se-á também a estruturação capitular autônoma e espiralada da obra. Além do acima exposto, esta dissertação também investigará se, na transposição da montagem literária à cinematográfica do romance Vidas secas, o diretor Nélson Pereira dos Santos manteve o caráter de denúncia social na sua releitura da obra. A definição aristotélica do conceito de verossimilhança remete à idéia de tudo o que faz sentido aos olhos do senso comum. A obra de adaptação do cineasta seria, portanto, verossímil? Teria ela conseguido transpor o romance para o cinema, relatando de forma contunde a injustiça e a desumanidade? O espectador teria sido levado a se conscientizar da degradação humana, nascida das precárias condições de sobrevivência que arrastam o sertanejo da trama a um processo de zoomorfização? A desmontagem da narrativa literária será analisada, iniciando-se por um breve histórico do cinema no Brasil e o Cinema Novo, abordando inclusive a questão da transposição cinematográfica e da cultura de massa. 13
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