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Os meninos de Graciliano permanecem ainda hoje sem nome, numa
“verossimilhança que não se pode evitar”, de acordo, por exemplo, com um artigo
recentemente publicado no Diário de Alagoas (2005). Nele, lê-se que das vinte e
sete milhões de pessoas que vivem no semi-árido brasileiro, onze milhões são
crianças, com elevado risco de mortalidade entre zero e dezessete anos.
Ainda segundo a publicação, que coletou os dados de um relatório do Fundo
das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a mortalidade infantil é acima da média
nesta região, que abrange municípios do interior de nove estados do Nordeste, norte
de Minas Gerais e do Espírito Santo. Estas áreas são marcadas por chuvas
irregulares e reservas insuficientes de água. Com efeito, de um grupo de 1.444
municípios examinados, em 95% deles a taxa de mortalidade é bem superior a
média nacional, de 36,1 por mil habitantes. A desnutrição, por sua vez, atinge 10%
das crianças daquela região, que estão na faixa etária de dois anos de idade.
A morte e a desnutrição são, portanto, os maiores inimigos destes jovens, e a
grande ameaça a seus futuros e o da região. A renda destas famílias, em 75% dos
casos, não ultrapassa meio salário mínimo, e em conseqüência disto, uma a cada
seis crianças de 10 a 15 anos trabalha. Cerca das trezentos e cinqüenta mil entre 10
e 14 anos estão fora da escola. Para completar o quadro, acrescenta-se que, do
total de não-alfabetizados entre 12 e 17 anos no Brasil, 43% estão no Semi-Árido.
Estes dados acima expostos mostram porque os meninos de Graciliano não
tinham nome. Provavelmente porque viveriam tão pouco, que acabariam não
precisando deles. Eram, e são ainda hoje, mais duas crianças famintas, no meio de
uma multidão delas.
Os meninos de Fabiano e sinha Vitória, assim como os pais, mal
concatenavam suas idéias, e muito menos a linguagem, fato que já aponta que os
mesmos também sofreriam injustiças sociais no futuro.
O menino mais velho aparece em destaque em dois momentos de grande
impacto na narrativa. Logo no início da mesma, a criança cai de cansaço, por estar
andando com os pais por horas seguidas, embaixo de um sol escaldante. Nessa
passagem, a morte ronda o menino por duas vezes. A primeira, motivada pela
fraqueza da desnutrição que o assolava. A segunda, encarnada na ira de Fabiano, o
qual via no menino extenuado mais uma carga que atrapalharia a viagem da família,
pensa em matá-lo ou até mesmo abandoná-lo ali, ato que fatalmente culminaria com
a morte do mesmo.
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