Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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marcado. A cena inicial é <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> em 1940. Um pouco mais adiante, na toma<strong>da</strong> on<strong>de</strong><br />
o menino mais novo observa o pai domando um cavalo bravo, outra <strong>da</strong>ta aparece:<br />
1941, evi<strong>de</strong>nciando, portanto, a passagem <strong>de</strong> um ano. E, na última cena, a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong><br />
1942 é mostra<strong>da</strong>, marcando, portanto, a passagem <strong>de</strong> dois anos.<br />
A fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> que interessa a esta pesquisa leva em consi<strong>de</strong>ração,<br />
principalmente, as circunstâncias político-culturais que envolveram os autores do<br />
hipotexto e do hipertexto no momento <strong>da</strong> transposição. A leitura <strong>de</strong> Nélson Pereira<br />
evi<strong>de</strong>ncia a dura reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sertão nor<strong>de</strong>stino, que <strong>de</strong> 1938, ano <strong>de</strong> lançamento do<br />
hipotexto, à 1963, ano <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> obra fílmica, pouco se alterara. O aspecto <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>núncia <strong>da</strong> obra, portanto, se mantém, mostrando as questões <strong>da</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social, provoca<strong>da</strong>s <strong>pel</strong>a expropriação <strong>da</strong> terra, apropriação in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra,<br />
e porque não, a escravidão, mantendo-se, portanto, a linha <strong>de</strong> pensamento marxista<br />
do hipotexto na transposição.<br />
Esta coerência i<strong>de</strong>ológica existente entre Nélson e Graciliano, segundo Eco,<br />
“ocorre justamente por ser a a<strong>da</strong>ptação parte <strong>de</strong> uma teoria geral <strong>da</strong> repetição, já<br />
que as narrativas são repeti<strong>da</strong>s <strong>de</strong> diversas maneiras, e em meios culturais distintos”<br />
(1976, p.81).<br />
Os personagens do filme se mostram mais capazes <strong>de</strong> se comunicar<br />
verbalmente do que os criados por Graciliano Ramos, apesar <strong>de</strong> as cenas dos<br />
diálogos serem em pequeno número e os mesmos se apresentarem <strong>de</strong> forma<br />
bastante grotesca. Este fato se explica <strong>pel</strong>a lógica <strong>da</strong> transposição, já que seria<br />
bastante difícil mostrar nas cenas o conflito interno <strong>de</strong> Fabiano causado <strong>pel</strong>a<br />
carência lingüística, uma vez que o filme não tem um narrador verbal.<br />
A questão <strong>da</strong> linguagem utiliza<strong>da</strong> no hipotexto adquire, <strong>de</strong>ssa maneira, outra<br />
conotação. O estilo indireto livre, aliado à onisciência, recursos utilizados por<br />
Graciliano para ser a voz dos personagens, ao mesmo tempo em que lhes narrava o<br />
interior, era impossível <strong>de</strong> ser transposto. A solução encontra<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ssa maneira, na<br />
<strong>montagem</strong> <strong>de</strong> Nélson Pereira, foi a <strong>de</strong> trabalhar mais a questão <strong>da</strong> linguagem dos<br />
seus personagens:<br />
A teoria sobre o cinema, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do ponto <strong>de</strong> vista adotado:<br />
semiológico, estrutural ou narratológico, muito cedo confirmou a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aproximação entre o texto narrativo fílmico e o narrativo<br />
<strong>liter</strong>ário, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> utilização idêntica que ambos fazem <strong>da</strong> veiculação<br />
<strong>de</strong> uma história através <strong>de</strong> um discurso peculiar a ca<strong>da</strong> texto, discurso este<br />
manipulado por uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> narradora que combina personagens, os<br />
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