Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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Sendo assim, a história po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a-histórica, <strong>de</strong>finindo-se mais<br />
por um tipo <strong>de</strong> anacronia, uma vez que não se situa em nenhum tipo específico<br />
(SANT’ANA, 1977, p.165).<br />
3.1.2 Questão <strong>da</strong> linguagem<br />
A construção <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong> obra Vi<strong>da</strong>s secas mereceria sem dúvi<strong>da</strong> uma<br />
pesquisa exclusiva. Como o intuito <strong>de</strong>ste capítulo é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>smontar a narrativa como<br />
um todo, abor<strong>da</strong>r-se-á este assunto, salientando apenas os aspectos que mais se<br />
coadunam com esta pesquisa.<br />
A seca é a mola propulsora <strong>da</strong> obra, tanto em sentido real quanto figurado. A<br />
ari<strong>de</strong>z do solo ressecado on<strong>de</strong> pisavam Fabiano e a família é transposta para o<br />
pa<strong>pel</strong> por meio <strong>da</strong> linguagem conti<strong>da</strong> e enxuta <strong>de</strong> seu criador. O estilo reservado <strong>de</strong><br />
Graciliano permeia to<strong>da</strong> a obra. Num árduo trabalho <strong>de</strong> refinamento, o escritor<br />
passava noites em claro lendo e relendo seus manuscritos <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>s secas, sempre<br />
escritos a lápis, em folhas <strong>de</strong> pa<strong>pel</strong> sem pauta, retirando <strong>de</strong>les tudo que consi<strong>de</strong>rava<br />
excessivo, utilizando-se <strong>de</strong> uma régua, com a qual fazia dois traços sobre a palavra<br />
a ser retira<strong>da</strong>.<br />
Segundo Moraes (1992, p.87), “o autor precisou apenas <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> pa<strong>pel</strong> e<br />
frases enxutas para lançar um facho <strong>de</strong> luz sobre os contornos precários <strong>de</strong> um<br />
mundo alienado. Para ele, sua arma era o lápis”.<br />
Estas “gorduras” textuais iam sendo rigorosamente subtraí<strong>da</strong>s do texto, a fim<br />
<strong>de</strong> se chegar a uma versão simples, sem rebor<strong>da</strong>mentos, inúteis e <strong>de</strong>snecessários<br />
na visão do autor, que buscava mostrar ao leitor unicamente a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, por pior que<br />
ela pu<strong>de</strong>sse parecer, representa<strong>da</strong> num texto tão cru.<br />
A objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> excessiva, uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> não só em Vi<strong>da</strong>s<br />
secas como em to<strong>da</strong>s as suas outras obras, alia<strong>da</strong> a uma dura crítica social, realista<br />
ao extremo, aproxima-se bastante do estilo <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós, <strong>de</strong> quem<br />
Graciliano era admirador intelectual, e que ain<strong>da</strong> no século XVIII <strong>de</strong>safiava<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s egoístas e hipócritas, levando o leitor a se questionar principalmente<br />
sobre a transitorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a inconstância do ser humano e quanto aos seus<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros valores.<br />
O trabalho meticuloso <strong>de</strong> aperfeiçoamento <strong>da</strong> linguagem textual, numa busca<br />
vigorosa <strong>pel</strong>o termo exato, fazia com que Graciliano revisasse até mesmo as provas<br />
tipográficas, e transformasse impiedosamente quatro lau<strong>da</strong>s <strong>de</strong> escritos em uma<br />
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